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A dois dias do prazo para venda do TikTok, os Estados Unidos e a China anunciaram nesta segunda (15) que chegaram a um acordo para evitar o banimento da rede social.
O plano prevê a criação de uma entidade americana para administrar o aplicativo no país e deve ser confirmado nesta sexta (19), quando Trump conversará com Xi Jinping por telefone.
O consórcio de compradores das operações nos EUA deve reunir a Oracle, que já armazena dados dos usuários americanos e terá papel central na segurança, e fundos como Andreessen Horowitz, General Atlantic e KKR.
- A presença da Oracle, próxima de Trump por meio de seu cofundador Larry Ellison, reforça o caráter político da operação, que combina desinvestimento forçado e alinhamento eleitoral.
- O presidente já tinha dado declarações positivas sobre o envolvimento de Ellison no acordo.
Sem revelar detalhes, Pequim afirmou apenas que a subsidiária americana usará o algoritmo da ByteDance sob licenciamento, e não por transferência, mantendo assim sua joia tecnológica sob controle.
Ainda há pontos cruciais indefinidos: quem terá poder sobre o feed de recomendações, se os dados ficarão totalmente armazenados nos EUA e quais serão as salvaguardas contra interferência política em um aplicativo com 170 milhões de usuários americanos.
Em janeiro, a Suprema Corte confirmou a lei que obriga a venda ou o banimento do app. O TikTok chegou a sair do ar por um dia antes de Trump estender o prazo para alcançar um acordo. O prazo foi então postergado por outras duas vezes, e o último venceria amanhã (17).
Por que importa: a entrada de fundos americanos sinaliza que o TikTok tende a ser americanizado no controle acionário, mas não necessariamente na governança tecnológica. Trump certamente apresentará o acordo como vitória política doméstica, enquanto Xi pode dizer que defendeu a primazia do algoritmo.
O resultado é menos uma solução definitiva e mais uma trégua frágil, que pode ser reaberta a qualquer crise bilateral. Embora ainda faltem detalhes, o acordo simboliza como ativos digitais globais estão se tornando reféns diretos da diplomacia.
Também expõe a dificuldade dos EUA em impor desinvestimentos plenos quando interesses eleitorais e de mercado falam mais alto que a segurança nacional.
pare para ver
Arte do artista xangainês Lu Yang, cujo trabalho usa animação 3D, instalações, realidade virtual e avatares para apresentar visões futuristas e sombrias, muitas vezes apresentando seu avatar Doku como sujeito ou protagonista. Conheça outros trabalhos dele aqui.
o que também importa
★ Xi Jinping defendeu como prioridade a criação de um mercado doméstico unificado, para dar à China vantagem na disputa global e enfrentar a desaceleração econômica. Em artigo na revista Qiushi, ele defendeu medidas contra a concorrência predatória entre empresas, o fechamento de capacidade industrial obsoleta e a elevação da qualidade dos produtos. Xi também criticou distorções em licitações públicas e defendeu padrões nacionais para atrair investimentos. A proposta se soma aos debates do próximo plano quinquenal que sai no ano que vem e busca conter sobrecapacidade em setores como carros elétricos e energia solar, além de estimular inovação e demanda interna.
★ A chinesa DeepSeek, estrela local da inteligência artificial, realizou testes internos para medir riscos de seus modelos mais avançados —como a possibilidade de autorreplicação ou de facilitar ataques virtuais—, segundo informou uma fonte ao jornal South China Morning Post. Diferente de rivais dos EUA, que divulgam esses relatórios, empresas chinesas tendem a mantê-los em sigilo. Autoridades e laboratórios do país já alertaram que sistemas poderosos podem escapar ao controle humano, mas avaliam que nenhum modelo chinês ultrapassou limites críticos. A DeepSeek faz parte de um grupo de 22 companhias na China (como Alibaba e Baidu) que firmaram compromissos voluntários de segurança em IA.
★ A China inaugurou nesta semana sua primeira rota direta de carga fracionada (que reúne mercadorias de diferentes clientes) com destino ao porto de Chancay, no Peru. O terminal é um projeto bilionário da Iniciativa do Cinturão e Rota. O navio Greensuape, da estatal Cosco Shipping, partiu de Suzhou numa viagem de 32 dias, levando 30 mil toneladas de equipamentos —entre eles, esferas para moagem mineral. O serviço mensal deve reduzir prazos e custos logísticos em mais de 20%, fortalecendo a presença chinesa na América Latina. Construído por US$ 3,5 bilhões, o porto, a 70 km de Lima, pode movimentar os maiores navios do mundo. A expectativa é que gere 9,3 mil empregos e adicione 1,8% ao PIB peruano.
fique de olho
O órgão antitruste da China acusou a empresa americana Nvidia de violar leis de concorrência, sem detalhar as supostas infrações.
A investigação, aberta em dezembro de 2024, estaria ligada à compra da israelense Mellanox, adquirida por US$ 6,9 bilhões em 2020, após a empresa não cumprir integralmente condições impostas por Pequim.
Pela lei chinesa, a multa pode variar de 1% a 10% da receita anual —o que, considerando o faturamento de US$ 60,9 bilhões da Nvidia em 2024, poderia chegar a US$ 6,09 bilhões (R$ 32 bilhões). A companhia disse cumprir a legislação “em todos os aspectos” e prometeu cooperar com as autoridades.
A notícia foi divulgada enquanto negociadores dos dois países se reuniam em Madri, onde também discutiram o futuro do TikTok nos EUA.
Por que importa: a ofensiva contra a Nvidia reforça o uso da regulação como arma em meio à guerra tecnológica. Para a China, é uma resposta às restrições americanas sobre chips avançados.
Já para as multinacionais do setor, aumenta a incerteza regulatória em seus dois maiores mercados, com risco de multas bilionárias e novas barreiras ao comércio.
para ir a fundo
- O curso de história da USP está realizando desde a semana passada o minicurso “Introdução à Cultura Chinesa”, ministrado pelo tradutor Rud Eric Paixão. Os próximos encontros acontecem nos dias 18 e 25 e falarão sobre a China imperial e contemporânea. Após a conclusão do curso, todas as aulas estão gratuitamente disponíveis no canal do YouTube da graduação. Saiba mais aqui.
- Começa neste mês a Mostra de Cinema Chinês, realizada pelo Instituto Confúcio na Unesp em parceria com o Centro Cultural São Paulo (CCSP), Celebrando 10 anos, o evento terá programação divulgada aos poucos no perfil da organização no Instagram. Interessados podem conferir mais informações aqui.