A viúva do ativista de oposição russo Alexei Navalni, Iulia, disse nesta quarta-feira (17) que seu marido foi envenenado antes de morrer em circunstâncias obscuras numa cadeia no Ártico, em fevereiro do ano passado.
Ela postou um vídeo no X dizendo que material biológico do morto foi contrabandeado da Rússia para um país no Ocidente e examinado em dois institutos. “Esses laboratórios em dois países diferentes chegaram à mesma conclusão: Alexei foi morto. Mais especificamente, ele foi envenenado”, disse ela.
Iulia, que mora no exílio na Alemanha, não apresentou nem provas, nem detalhes acerca de suas acusações. Ela disse que os laboratórios em questão não querem revelar “a verdade inconveniente”.
Questionado acerca do assunto, o Kremlin apenas afirmou não ter conhecimento do vídeo. O governo Vladimir Putin sempre rejeitou as acusações de que o ativista foi morto, feitas anteriormente por Iulia e por seus antigos aliados.
Navalni cumpria 30 anos de cadeia em uma colônia penal no gélido norte russo quando, aos 47 anos, colapsou durante uma caminhada. O governo russo afirmou que a necropsia apontou múltiplas doenças como a causa da morte.
A assertiva não convenceu muita gente. Mesmo que não tenha sido propriamente assassinado, as condições de encarceramento de um homem de saúde comprovadamente frágil favoreciam o desfecho.
O ativista havia sido preso em 2021, após voltar da Alemanha de um tratamento justamente por ter sido envenenado durante o trabalho em uma campanha eleitoral local em Tomsk, na Sibéria no ano anterior.
Navalni acusou o FSB, o principal órgão de segurança interna russo, de ter aplicado o agente neurotóxico Novitchok em uma cueca sua enquanto ele estava fora do hotel.
No documentário acerca de sua vida, que ganhou o Oscar de 2022, um agente do FSB suspeito do caso se entrega de forma meio patética ao receber uma chamada falsa do próprio Navalni, se passando por um superior.
O ativista acusou então diretamente Putin pela tentativa de assassinato. O presidente repetidamente negou isso e chegou a ironizar o episódio, dizendo que se a Rússia quisesse matar Navalni, ele estaria morto —isso antes de ele de fato morrer.
Uma hipótese considerada por observadores do Kremlin é de que Navalni tenha incomodado a chefia local do partido governista durante seu trabalho com a oposição em Tomsk. Na prática, contudo, a ideia de que o sistema o envenenou fica de pé também.
Segundo um relato do Wall Street Journal, as agências de inteligência americanas chegaram à conclusão de que nunca houve uma ordem direta de Putin para matar Navalni na cadeia, levando novamente à teoria da morte por exaustão.
O ativista era a maior face pública da oposição na Rússia, tendo ganhado crescente destaque dos protestos gerais contra a reeleição de Putin em 2012 até as grandes manifestações convocadas pela internet de 2017. Tentou candidatar-se a presidente em 2018, mas foi barrado por ter uma condenação judicial que dizia ser armada.
Quando voltou à Rússia, houve as últimas grandes ondas de protestos contra sua prisão, duramente reprimidas. Uma série de condenações subsequentes, vistas como farsescas pelos aliados, o tiraram de circulação. Sua opaca Fundação Anticorrupção foi tachada de extremista e os líderes, ou foram presos ou fugiram para o exterior —hoje ela opera da Lituânia.
Apesar do apelo, particularmente no Ocidente sempre buscando uma alternativa política a Putin, Navalni nunca teve penetração eleitoral real na população, um reflexo tanto de suas posições polêmicas quanto da calcificação do sistema político russo.
Pesquisas de institutos independentes, como o Centro Levada, sempre o colocavam no patamar dos 5% de intenção de voto, embora como figura pública ele fosse mais reconhecido. Ainda assim, virou um símbolo de luta democrática, em especial para os mais jovens.
