O vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, afirmou nesta quinta-feira (23) que Israel não anexará formalmente a Cisjordânia, território palestino ocupado militarmente por Israel desde 1967, um dia após o Knesset, o Parlamento israelense, ter aprovado de forma preliminar dois projetos de lei que abrem caminho para a anexação do território.
“Se foi uma manobra política, foi uma manobra política muito estúpida e eu, pessoalmente, me sinto um pouco ofendido”, disse Vance ao encerrar sua visita a Israel.
O vice de Donald Trump viajou ao país na tentativa de salvar o acordo de paz entre Tel Aviv e o grupo terrorista Hamas, após dias de violações e bombardeios contra o território palestino. Ele reforçou que Trump não permitirá a anexação da Cisjordânia.
O ministro de Relações Exteriores, Gideon Saar, retrucou, afirmando que Israel “é um país livre, onde as pessoas podem falar o que pensam”, mas depois afirmou que o país está comprometido com o plano de cessar-fogo. Por ora, acrescentou, o governo não apoiará o avanço dos projetos de lei.
A primeira proposta aprovada no Parlamento estipula que “a lei, Justiça, administração e soberania” israelenses serão aplicadas sobre toda a Cisjordânia, sem exceção. Hoje, o território é dividido em zonas territoriais e governado parcialmente pela Autoridade Palestina, embora Tel Aviv mantenha controle militar e de segurança. A segunda, aprovada com apoio de partidos de centro, prevê a anexação de um assentamento próximo a Jerusalém.
Os projetos ainda precisam passar por mais três votações no Knesset antes de virarem lei. A construção de assentamentos tem se expandido rapidamente desde 2022, quando o governo de Netanyahu, o mais à direita da história de Israel, assumiu o poder.
Membros da coalizão de Netanyahu pressionam o governo a anexar a Cisjordânia como resposta à onda de reconhecimento diplomático do Estado da Palestina liderada por Reino Unido, França e Canadá, mas o premiê tenta evitar novos desgastes com os EUA.
Na quarta (22), Netanyahu rejeitou de forma contundente a ideia de que seu país seja um vassalo dos Estados Unidos. A declaração foi feita ao lado de Vance, após uma reunião em Jerusalém. “Temos uma aliança entre parceiros que compartilham valores comuns”, disse Bibi, como o premiê é conhecido.
Vance fez coro a Netanyahu, reafirmando que os EUA não veem Israel como um Estado subordinado, mas como um aliado estratégico.
O chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, já havia dado um puxão de orelha público na noite de quarta, antes de embarcar a Tel Aviv, afirmando que o avanço de dois projetos no Parlamento pode colocar em risco o já frágil acordo de cessar-fogo.
“O presidente deixou claro que não apoiaríamos isso neste momento, e acreditamos que isso representa uma ameaça potencial ao acordo de paz”, disse o americano a repórteres.
Vance e Rubio fazem parte de um esforço de membros do alto escalão de Trump que têm viajado a Israel com o objetivo de não deixar o acordo de cessar-fogo ruir.
Durante a última madrugada, moradores de Gaza relataram tiros e bombardeios de tanques em Khan Yunis, no sul do território, e também na capital. O Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas, afirmou que uma pessoa morreu devido ao fogo israelense.
Na segunda (20), três pessoas foram mortas após as Forças Armadas de Israel voltaram a atacar a Faixa de Gaza. Os militares israelenses disseram ter atirado contra terroristas que ultrapassaram um limite territorial estabelecido pelo acordo de cessar-fogo.
No fim de semana, três soldados de Israel e pelo menos 28 palestinos morreram na escalada de violência que ameaça desmantelar o frágil plano pôr fim aos combates em Gaza.