A 17ª edição de A Fazenda virou celeiro de baixaria, e está bombando por isso. Em pouco mais de um mês no ar, o reality da Record já exibiu cusparada na cara, tabefe, beijo sem consentimento e muita, muita gritaria. Tanto caos tem feito o programa bater bons índices de audiência —mas deixou muita gente de estômago embrulhado, e na dúvida se vale tudo por entretenimento.
O reality, criado em 2009, nunca foi dos mais pacíficos, mas esta edição, em especial, levou pouco tempo para virar um novelão dramático. Ironicamente, uma das protagonistas foi a eterna Usurpadora, a atriz venezuelana Gabriela Spanic, que interpretou Paola Bracho no folhetim de 1998 e atravessou a porteira querendo voltar ao estrelato, custasse o que custasse.
Custou sua expulsão. Neste domingo, após encenar uma briga com sua colega Tamires Assis, para reclamar da agressividade que vinha permeando o programa, Spanic deu um tapa de verdade nela. Notando que passou dos limites, e ouvindo os protestos dos rivais, a atriz se desesperou e passou a gritar coisas sem sentido. No fim, afirmou à produção que desistiria do reality, que não aguentava mais violência, e acabou sendo convidada a se retirar.
Foi o exemplo mais emblemático do caos que tomou o reality nas últimas semanas. Nas redes sociais, a reação foi mista. Parte do público se divertiu com a situação, dizendo que liga a TV para ver isso mesmo, enquanto outra defende que a cena é desagradável e não deveria ser considerada entretenimento.
Uma parcela da audiência ainda pediu a expulsão da participante Carol Lekker, acusando-a de assédio após a ex-Miss Bumbum beijar na boca sem permissão outra confinada, a pedagoga Yoná Sousa, que participou do reality Ilhados com a Sogra. A Record não tirou Lekker do programa, e, procurada pela Folha, não se manifestou.
Dias antes, Sousa havia reclamado de outra suposta agressão, quando Martina Sanzi sentou com força na cama onde ela estava. A Record também não deu ouvidos à queixa.
Os números mostram o porquê. Em um mês no ar, A Fazenda conseguiu seus melhores números de audiência desde a edição de 2023, que reuniu a apresentadora Cariucha, hoje queridinha do SBT, e a jornalista Rachel Sheherazade. Segundo dados do Kantar Ibope, a atração deste ano fez 6,1 pontos de média na Grande São Paulo, considerado o principal mercado publicitário do país. Há dois anos, foram 5,9 pontos no mesmo período de exibição.
Outros dados obtidos pela Folha também chamam a atenção. A Fazenda 17 conseguiu quase dobrar os índices da Record às 22h —no mês anterior, a emissora marcava 3,1 pontos na faixa. Com isso, superou o SBT, e se tornou o segundo canal mais visto no horário, perdendo apenas para a Globo.
Que reality de convivência se alimenta do caos, todo mundo sabe —mas nem todos aprovam. Basta lembrar do BBB 21, com a rapper Karol Conká, tirada cancelada de lá por humilhar o participante Lucas Penteado. Em meio à pandemia de Covid-19, não caiu bem o clima pesado que pairava no programa da Globo, até então uma boa fuga da realidade. Conká foi eliminada rapidamente, com recorde de rejeição, e os ânimos se acalmaram, transformando aquela na edição mais comentada do BBB.
O que A Fazenda faz agora é ultrapassar os limites do bom senso. Conflito é essencial em qualquer narrativa, claro, mas o reality vem se valendo de agressividade forçada de participantes que sabem bem o potencial que uma briga tem nas redes sociais. A cantora Gabily entrou dizendo que pouco se importava com o prêmio de R$ 2 milhões, e que só estava ali para ficar mais famosa.
Se há três anos a Globo e seu BBB entediante tinham muito a aprender com a cara de pau da Record, que eletrizava fãs de reality com as loucuras divertidas da influenciadora Deolane Bezerra, agora é o canal de Edir Macedo que precisa frear, se não quiser levar seu programa à lama.
A previsão é que a Fazenda 17 acabe dia 18 de dezembro, a poucos dias do Natal. Mas, se seguir como está, o reality vai estar distante, e muito, de qualquer clima de festa.