18.8 C
Nova Iorque
domingo, setembro 28, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Imigrantes detidos nos EUA enfrentam risco de suicídio – 18/09/2025 – Mundo

Daniel Cortes De La Valle, 35, estava detido pela imigração havia mais de sete meses —dormindo em celas sujas, sendo ridicularizado pelos guardas devido ao seu peso e tendo seu medicamento para epilepsia negado— quando, em julho de 2023, tentou se enforcar.

“Não aguento mais”, Daniel diz lembrar de ter pensado. “Não quero mais continuar. É como um filme de terror.”

Agentes da instalação —o Centro de Processamento do ICE em Jena, na Louisiana— logo colocaram Daniel sob vigilância contra suicídio. Isso significava confinamento solitário, no qual ele levou mordidas de formigas e conviveu com mofo na parede e fezes em sua cela, de acordo com uma queixa que ele depois apresentou contra o ICE, o serviço de imigração dos EUA, e os funcionários do centro de detenção. As luzes, mantidas acesas 24 horas por dia, agravavam sua condição de convulsões.

Em novembro de 2023, ele aceitou de forma voluntária a deportação para a Colômbia. Em sua queixa contra funcionários do ICE, disse que tentou suicídio quatro vezes durante seu ano em Jena, incluindo duas vezes naquele mês de julho. No ano passado, o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) concluiu que o ICE cometeu discriminação contra ele.

Desde janeiro, o governo de Donald Trump tem se mantido firme em sua promessa de campanha de deportar dezenas de milhares de imigrantes. Mais de 60 mil pessoas estavam detidas até agosto, muitas delas em instalações superlotadas nas quais alguns detentos dormem no chão, comem alimentos estragados e, com frequência, não têm acesso aos medicamentos que precisam, segundo advogados que atuam no setor.

Na Colômbia, onde agora vive, Daniel reflete sobre o que diria aos detentos: “Não se entregue ao lugar escuro”.

Mas muitos têm pensamentos suicidas, e alguns tiraram suas próprias vidas. Pelo menos 12 imigrantes morreram sob custódia do ICE desde 1º de janeiro. O número inclui ao menos duas pessoas que cometeram suicídio: Jesus Molina-Veya, em junho, no Centro de Detenção Stewart, na Geórgia, e Chaofeng Ge, no mês passado, no Centro de Processamento Moshannon Valley, na Pensilvânia.

O problema não é novo. Sob o governo de Joe Biden, 26 detentos morreram sob custódia do ICE, dos quais pelo menos quatro foram publicamente relatados como suicídios ou sob suspeita de suicídio.

Mas nos últimos anos, e especialmente nos últimos meses, advogados de imigração e grupos do setor ficaram alarmados com relatos persistentes de tentativas de suicídio e de pessoas expressando pensamentos suicidas nos centros de detenção. Alguns desses casos estão documentados em relatórios do ICE e gravações de áudio ou registros de chamadas para o 911 (número de emergência nos EUA).

Muitas instalações estão mal equipadas para cuidar de pessoas em sofrimento mental. Relatórios de inspeção do Escritório de Supervisão de Detenção do ICE revelam mais de 150 falhas nos protocolos de prevenção de automutilação e suicídio em instalações de detenção de 2020 até os meses recentes. Esse número inclui instalações que não monitoravam regularmente os detentos sob vigilância contra suicídio.

A secretária assistente de assuntos públicos do Departamento de Segurança Interna, Tricia McLaughlin, disse que os suicídios sob custódia do Departamento de Segurança Interna eram “trágicos e raros”. “Quando há sinais de que um detento está em risco de suicídio, a equipe segue um protocolo rigoroso de prevenção e intervenção para garantir que a saúde e o bem-estar do detento sejam protegidos”, disse.

Mas grupos de vigilância afirmam que as poucas tentativas de suicídio que descobriram nos últimos meses são quase certamente subnotificadas. Advogados de imigração manifestam preocupação com clientes que estão em sofrimento e presos em instalações que não respondem com cuidados adequados.

“Não acho que o DHS tinha ou certamente agora tem bons protocolos para lidar com pessoas quando elas expressam que estão contemplando o suicídio”, disse Heather Hogan, que trabalhou no Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA e agora é conselheira de política e prática na Associação Americana de Advogados de Imigração. “Estou francamente aterrorizada pelos detentos agora, particularmente por pessoas com qualquer condição de saúde mental.”

Além do confinamento solitário, a instabilidade da transferência abrupta de uma instalação para outra pode dificultar que os detentos recebam cuidados psiquiátricos consistentes ou acesso aos seus medicamentos.

“O que sabemos sobre o confinamento solitário é que ele torna o suicídio mais provável em qualquer cadeia, prisão ou centro de detenção”, disse Craig Haney, professor de psicologia na Universidade da Califórnia. “As pessoas precisam ser colocadas em um ambiente terapêutico”, acrescentou, referindo-se a um espaço com acesso a cuidados de saúde mental, especialmente aconselhamento.

Haney enfatizou que muitas tentativas de suicídio de detentos e pensamentos suicidas eram resultado “de suas circunstâncias, uma reação a uma situação de outra forma muito desesperadora”, disse ele, uma perspectiva expressa por mais de duas dúzias de outros especialistas entrevistados. “As pessoas estão frustradas e com medo”, acrescentou. “Elas precisam de atenção à saúde mental.”

Segundo McLaughlin, do DHS, “o ICE exige treinamento anual de prevenção ao suicídio, impõe verificações a cada 15 minutos para vigilância contra suicídio e garante que apenas clínicos —não funcionários de custódia— possam remover alguém da vigilância contra suicídio”.

Os padrões de cuidados de saúde do ICE exigem que os detentos recebam triagens médicas e de saúde mental dentro de 12 horas após chegarem a uma instalação. Os detentos também devem receber avaliações completas dentro de duas semanas e ter acesso constante a cuidados de emergência.

Mas essas condições raramente são atendidas de forma adequada. Muitos detentos não recebem avaliações de saúde mental ou médicas de modo privado ou com um intérprete; muitos não recebem aconselhamentos.

Tammy Owen, 45, que vive com sua filha de 5 anos e um bebê de 8 meses na Flórida, conhece pessoalmente o que está em jogo nessa questão. Seu marido britânico, Ben Owen, suicidou-se em um centro de detenção da Flórida, em 2020.

Owen diz acreditar que as condições da detenção do marido —ser repentinamente afastado da família, ficar em um quarto sem janelas e com mofo— contribuíram para seu sofrimento mental. “As pessoas precisam saber o que está acontecendo. Meu marido não tinha motivo para morrer. Ele estava assustado.”


ONDE BUSCAR ATENDIMENTO?

Rede de Atenção Psicossocial

Mapa mostra as unidades da rede habilitada pelo Ministério da Saúde até set.2020

Mapa Saúde Mental

Site mapeia diversos tipos de atendimento: www.mapasaudemental.com.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)

Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188: www.cvv.org.br

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles