A linguagem técnica da diplomacia climática ainda soa distante. O desafio é traduzir a urgência do planeta para o cotidiano das pessoas. O debate sobre a COP30 começou antes da chegada das delegações a Belém. De acordo com o monitoramento da Palver em mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram, o maior enfoque das discussões se dá em torno das questões de infraestrutura e logística do evento. A conferência carrega o peso simbólico e logístico de ser a primeira COP realizada na Amazônia, e Belém se prepara para receber chefes de Estado, lideranças indígenas, ambientalistas, jornalistas, influenciadores e, principalmente, atenção de todos os cantos do mundo.
A COP30 acontece em um contexto global de descrença nas instituições multilaterais, polarização política e competição entre prioridades urgentes —guerras, crises econômicas e disputas geopolíticas. O Brasil, ao sediar o evento na Amazônia, tenta transformar a geografia em argumento ao fazer do território mais simbólico do planeta para o debate ambiental um espaço de ação, não de retórica.
A presidência brasileira da COP estruturou a conferência em quatro pilares: mobilização da sociedade, cúpula de líderes, negociações formais e agenda de ação. A ideia é aproximar o tema climático da vida real das pessoas, reforçar o multilateralismo e acelerar a implementação do que já foi acordado. Diferente de edições anteriores, o Brasil aposta menos em grandes anúncios e mais em fazer o Acordo de Paris sair do papel. A meta é transformar a COP30 na “COP da implementação”, ou seja, um encontro para medir o que foi feito, corrigir rumos e envolver governos, sociedade e o setor privado na execução das metas.
Esse debate, entretanto, ainda parece restrito à diplomacia ou ao corpo técnico da agenda climática. Nos grupos analisados pela Palver, a maior parte das mensagens não estão relacionadas ao debate climático, mas às questões de infraestrutura e logística da COP. Apesar disso, as críticas não devem ir além disso, visto que um posicionamento abertamente contrário ao Brasil ou às ações do governo brasileiro frente a um evento com dimensões globais pode ser interpretado como anti-patriótico, o que tem sido um peso no campo da direita, principalmente após uma bandeira gigante dos Estados Unidos ganhar protagonismo nas manifestações de 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil.
Nesse sentido, espera-se que a oposição tente levar o debate seja para um tópico não relacionado, ou ainda para questionar a importância do evento, minimizando os efeitos das mudanças climáticas. Entre as pautas que ganham corpo dentro e fora da conferência, a desinformação acaba ganhando centralidade, uma vez que tem capacidade de impactar diretamente na agenda de implementação ao produzir efeitos negativos sobre o apoio político e social necessários.
“As campanhas de desinformação climática, cada vez mais sofisticadas, minam a confiança no consenso científico e alimentam narrativas que justificam o imobilismo”, explica Frederico Assis, enviado especial para integridade de informação da COP30. É nesse terreno que, segundo Frederico, o presidente Lula defende que esta será a “COP da verdade”, pois “sem verdade não há confiança, sem confiança, não há ação coletiva; sem ação coletiva, não há futuro sustentável”.
A COP30, portanto, tem o desafio de converter ciência em ação, compromissos em implementação, e sobretudo, a linguagem climática, técnica, distante, diplomática, em algo que converse com a população, que já sente o efeito das mudanças climáticas em seu cotidiano. Não existe política climática possível sem política de informação e comunicação.
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