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Polarização de bolsonaristas e petistas impacta confiança – 18/10/2025 – Poder

Tanto petistas quanto bolsonaristas dizem confiar no próprio grupo político quase na mesma proporção em que confiam em suas famílias, segundo uma pesquisa sobre polarização obtida pela Folha e realizada pelo ConnectLab, novo centro de estudos da FGV, em parceria com a Quaest.

Em uma escala de 0 a 10, bolsonaristas têm o nível de confiança de 8,3 em suas próprias famílias, em média, enquanto petistas chegaram ao valor de 7,5. Já em relação aos seus próprios grupos políticos, os valores são apenas um pouco mais baixos, sendo respectivamente de 7,8 e 7,3.

Com isso, a confiança relatada por ambos em pessoas de seu próprio grupo é maior que a que eles dizem ter nas pessoas de modo geral —índice que ficou em 4,5 tanto entre bolsonaristas quanto entre petistas.

E se o nível de confiança já cai bastante nessa comparação, ele despenca em relação ao grupo oposto. De bolsonaristas em relação a petistas, o valor atingiu 0,8, em média, enquanto o de petistas em relação a bolsonaristas é igualmente baixo, ficando em 1.

Foram ouvidas 2.004 pessoas com 16 anos ou mais de 13 a 17 de agosto de 2025, a margem de erro para a amostra total da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Para Nara Pavão, professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) que faz parte do grupo que conduziu o estudo, esses dados são tanto indicativo de força dos apoiadores do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na sociedade brasileira quanto mostra do tamanho da lacuna que os separa.

“Tem essa tendência de confiar no seu grupo como se fosse a sua família e de desconfiar do outro grupo mais do que eu desconfio nas pessoas desconhecidas, que são as pessoas em geral”, diz ela. “Isso revela a força desses grupos, porque, veja, a confiança na família é a confiança mais alta que a gente tem no Brasil.”

Um outro dado da pesquisa buscou mapear em que medida um grupo poderia estar ou não desumanizando o outro. O resultado é alarmante. Tanto petistas quanto bolsonaristas classificam seu grupo como inversamente mais evoluído que o grupo oposto.

“A gente criou uma escala de humanização com aquela famosa figura que vai do macaco ao Homo sapiens, da evolução do homem. Colocamos aquela figura e pedimos para as pessoas classificarem em que momento da evolução humana estariam os bolsonaristas e os petistas”, conta Felipe Nunes, que é diretor da Quaest e professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV.

Enquanto a classificação dos petistas quanto ao próprio índice de evolução, numa escala de 0 a 10, fica em média em 8,2, eles posicionam os bolsonaristas do lado oposto: 2,4. O mesmo ocorre entre bolsonaristas, que se autoclassificam, em média, com uma nota de 8,5 na escala de evolução, em contraposição a uma nota 2,5 atribuída a petistas.

“Eu tenho falado muito sobre polarização afetiva, que é tratar o adversário como inimigo. E é muito impressionante como bolsonaristas e petistas, de maneira simétrica, desumanizam os adversários”, diz Nunes, que é também coordenador do ConnectLab. “Essa história de que a polarização é assimétrica, a gente não concorda, nossa evidência aqui é bastante simétrica. Um lado vê o outro tão desumano como o outro.”

Segundo Nunes, a ideia é repetir a pesquisa anualmente para monitorar questões como polarização, desconfiança e apoio à democracia.

Os dados colhidos nesta primeira rodada mostram ainda o quanto a polarização acaba interferindo tanto nas relações pessoais do dia a dia quanto em escolhas práticas.

Dentre os diferentes grupos da direita à esquerda, todos, com exceção dos que se classificaram como independentes, disseram, em sua maioria, que não matriculariam seus filhos em uma escola em que a maioria dos pais e alunos fosse do grupo político oposto.

Cenário parecido se dá na questão sobre se as pessoas passariam a ir a um mercado mais distante de suas casas, se descobrissem que o dono do comércio mais próximo fosse do grupo político oposto ao seu –mostrando que a posição política não é irrelevante para esta tomada de decisão.

Do mesmo modo, a pesquisa indica o impacto das diferenças políticas para as relações de amizade. Em todos os grupos, com exceção dos que se colocam como independentes, chega a pelo menos 50% os que dizem que diminuiriam o contato com um amigo que fosse do outro grupo político somados aos que deixariam de ter contato.

O estudo revela também que parcela relevante dos brasileiros acredita que os integrantes do grupo político oposto ao seu querem apoiar violência política contra o seu grupo (75%, somando os que acreditam muito com os que acreditam um pouco) e ainda passar leis prejudiciais contra ele (74%) –com exceção dos independentes, todos os segmentos tiveram resultados homogêneos nestes dois itens.

Percepção da polarização

Os entrevistados foram perguntados como se classificam politicamente, 31% se dizem independentes, 25% se posicionam à direita e 13% como bolsonaristas, já os que se dizem de esquerda foram 15%, enquanto 16% se classificam como petistas.

Por outro lado, quando perguntados qual acreditam ser o tamanho desses grupos, os respondentes pintam outro cenário percebido: independentes (15%), direita (19%), bolsonaristas (25%), esquerda (15%) e petistas (26%).

Com base nesses números, Nara e Nunes avaliam que a polarização percebida pela população seria maior do que ela de fato é. Enquanto bolsonaristas e petistas inflam as estimativas sobre seus próprios grupos, independentes subestimam seu tamanho.

Nara destaca que, na prática, o que de fato importa é a percepção, pois ela acabaria contribuindo para que as pessoas, inclusive, se polarizem ainda mais, gerando uma espécie de ciclo vicioso.

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