18.4 C
Nova Iorque
sábado, outubro 18, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Roger Chartier: IA é a segunda revolução na leitura – 18/10/2025 – Ilustrada

“A revolução digital deu lugar à artificial”. E, com isso, trouxe impactos para o livro e para a leitura. É assim que o historiador francês Roger Chartier analisa novas tecnologias como a inteligência artificial e suas consequências no mundo.

Para ele, os livros podem sofrer com os avanços da IA. “É sempre esse diagnóstico que podemos concluir: a ideia de que não há inexorabilidade absoluta [em relação ao futuro do livro e da leitura].”

Um dos mais respeitados especialistas em livro e leitura do mundo, o francês concedeu entrevista à Folha no Rio de Janeiro em setembro, enquanto participava do 1º Congresso Internacional de Enfrentamento à Fome e à Desinformação, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Chartier lembra que havia uma obsessão nos anos 1980 e 1990 pelo tema da morte do livro com a chegada da tecnologia digital. Essa revolução não modificou a relação do autor com o texto, mas agora com a IA esse cenário é diferente.

“Todos [os textos] que servem como fonte de dados têm a máquina como autor, não são submetidos à origem da propriedade literária. É uma marginalidade dos autores, que são transformados em uma propriedade comum.”

Aos 79 anos, o professor dá aulas como visitante na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e tem cargo emérito no Collège de France, onde ocupa a cátedra que foi de Michel Foucault.

Segundo ele, o mundo está diante do que chamou de uma “segunda revolução”. “A revolução da inteligência [artificial é] mais decisiva. Pela primeira vez, há uma tecnologia radicalmente diferente, com uma máquina que produz texto e não um ser humano.”

Para o professor, há uma divisão ao longo do tempo pela qual o livro passou: a implementação da leitura, a revolução digital e, agora, a da inteligência artificial. Ele também destaca três aspectos centrais ao pensar a IA: a responsabilidade do autor, originalidade do texto e propriedade literária.

Neste novo regime em que há muita propensão ao plágio, diz ele, a autonomia do autor será “absolutamente fundamental”, tornando mais relevantes que nunca os conceitos de uma escrita original e de uma leitura individual.

Chartier defende que há uma ausência de responsabilidade do ser humano na gerência dessas relações. “Pode ser uma ameaça à democracia. O governo precisa de uma possibilidade de legislação para impedir os efeitos da desinformação na rede.”

Para o docente, há uma ilusão da presença de voz humana criada por esta ferramenta. “O problema da inteligência artificial é se apresentar como não artificial, como também um ser humano. Atribuímos emoções à inteligência artificial que ela não tem.”

Já sobre a desinformação no ambiente digital, ele aponta que não é um fenômeno recente, mas algo que se reconfigurou ao longo dos anos e a partir de novas tecnologias.

“A consequência ainda mais evidente é que o uso em abundância de falsas informações faz com que as verdadeiras informações sejam consideradas como uma forma de desinformação. A circulação da desinformação tem um efeito muito poderoso, como o eleitoral.”

Em uma era longe das páginas de livros, bibliotecas e livrarias, o futuro da memória coletiva traz preocupações.

“O número de livrarias se reduziu nas cidades do mundo. Os esforços são de mostrar que a livraria é mais interessante do que a Amazon e que, de vez em quando, na biblioteca, é possível manter uma relação com o passado por meio da forma de texto.”

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles