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China aposta no futuro enquanto democracias se distraem – 17/10/2025 – Igor Patrick

Como se sabe, em Pequim não se governa por eleições, e no lugar de promessas de governo há planos amplos o suficiente para cobrir um período de cinco anos. São os planos quinquenais, prática muito comum na União Soviética e que na China segue sendo um dos principais guias para entender para onde caminha a segunda maior potência do mundo.

No último, que vigorou de 2020 e vai até o fim de 2025, o país precisou navegar pela Covid-19 e posteriormente pela instrumentalização da competição com os EUA. Isso não impediu o Partido Comunista de definir metas ambiciosas como a expansão dos investimentos em pesquisa e inovação, profundas reformas no sistema de hukou (espécie de autorização de residência para migrantes internos), foco renovado em segurança nacional e a aposta em energia verde.

Agora, enquanto o mundo se atribula com as estridências trumpistas, os chineses trabalham silenciosamente na construção do próximo plano, a ser revelado em 2026. De 20 a 23 de outubro, membros da elite do PC Chinês se reunirão no Hotel Jingxi em Pequim para a quarta plenária deste ciclo, destinada a ouvir propostas que moldarão o fim desta década.

Não espere fogos de artifício. Embora a agenda nunca seja aberta, o tom oficial permite prever com algum grau de certeza quais serão os principais temas na mesa. O Diário do Povo tem abordado com frequência a necessidade de se trocar os “antigos motores da economia” —construção civil e exportações baratas— pelo que há de mais moderno em termos de tecnologia.

É praticamente certo que o documento focará longamente temas como inteligência artificial, semicondutores, biotecnologia e manufatura inteligente. Para ater-se ao linguajar que tenho visto reproduzido por fontes oficiais, a “Dupla Circulação 2.0” (uma referência nada sutil de uma estratégia introduzida por Xi Jinping para focar o mercado consumidor doméstico) será desenvolvida tendo em vista a necessidade de reduzir dependências externas, fortalecer players locais e decidir a dedo quais setores abrir.

Isso significa sacrificar parte da eficiência em nome da segurança. Significa tolerar alguma sobrecapacidade industrial e até mesmo um dispendioso gasto com subsídios para manter as turbinas de setores-chave funcionando, mesmo sem mercado consumidor externo óbvio. Xi também vem sinalizando que o Estado financiará a transição tecnológica mesmo que isso sacrifique o crescimento rápido do passado. O foco agora é qualidade, não quantidade.

Há também um componente político que ajuda a explicar a profundidade dessa virada. Xi está promovendo expurgos raros mesmo para os padrões do Partido Comunista, atingindo generais, ministros e altos funcionários. É um esforço calculado para eliminar resistências internas e garantir que a estratégia seja executada com precisão.

A mensagem que emergirá será inequívoca: o Estado chinês será mobilizado como instrumento de poder nacional, capaz de converter fragilidades em vantagem competitiva e fará isso com a paciência, a coordenação e o horizonte de longo prazo que regimes democráticos, presos a ciclos eleitorais e disputas internas, muitas vezes não conseguem manter.

Será uma semana com significado mais longevo e profundo do que farão acreditar as primeiras manchetes sobre o encontro, a confirmação de que o desenvolvimento chinês será cada vez mais dirigido, tecnológico e “securitizado”. O mundo que rebole para se adaptar.


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