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A Plataforma Democrática, uma parceria entre a Fundação FHC e o Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, lançam nesta semana um artigo inédito e pertinente, “América Latina, o Não Alinhamento Ativo e a disputa entre os Estados Unidos e a China”, escrito pelo ex-embaixador chileno Jorge Heine para a coleção Conexão América Latina.
Aqui, um pequeno resumo dos pontos importantes:
A 4ª reunião China-CELAC, que aconteceu em maio, marcou a continuidade do vínculo latino-americano com Pequim, apesar da retórica anti-China vinda de Washington. A presença de Lula, Boric e Petro deu lastro político. A Colômbia aderiu à Iniciativa de Cinturão e Rota e ao Novo Banco de Desenvolvimento; o Brasil empurrou a agenda do Brics e da COP30 e atraiu fábricas de elétricos (BYD e GWM); o Chile reforçou seu modelo pró-livre-comércio: 40% de suas exportações já vão para a China.
O eixo é econômico. O comércio China–América Latina e Caribe saltou de US$ 12 bilhões (R$ 66 bi, na cotação atual) em 2000 para US$ 518 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em 2024, com a China tornando-se o principal parceiro da América do Sul. Estima-se US$ 200 bilhões (R$ 1 tri) de investimentos chineses desde 2010 na região, concentrados em Brasil, Peru e Equador, e projetos simbólicos como o porto de águas profundas de Chancay, no Peru, e o corredor ferroviário Santos-Chancay em estudo. De 2005 até 2018, a China também emprestou US$ 140 bi (R$ 770 bi) aos países da região.
Há ganhos e riscos: a pauta concentra-se em poucos países e commodities; importações chinesas pressionam a indústria local; o déficit de infraestrutura continua travando competitividade —justamente onde empresas e financiadores chineses oferecem execução e crédito.
Os EUA mudaram de tom: de tolerância (Bush/Obama) para hostilidade e pressão (Trump 1 e 2) e vigilância sob Biden. A chave do atrito é a noção de “duplo uso”, que estica o argumento de segurança para travar obras civis.
Não é uma “nova Guerra Fria” clássica: ao contrário da então URSS, a China é potência econômica aberta e entrelaçada às cadeias globais. A disputa EUA-China é mais equilibrada no econômico do que foi EUA-URSS.
Diante disso, a agenda proposta é o Não Alinhamento Ativo (NAA): autonomia por tema, sem escolher lados. “Testar o terreno” e “buscar cobertura”: manter opções com ambos, diversificar parceiros, ter plano B. Cooperar com EUA em democracia/segurança quando fizer sentido; com China em comércio, infraestrutura, energia e tecnologia. Traçar fronteira nítida entre o que é segurança (onde cabem cautelas) e o que é economia (onde vetos generalizados condenam ao extrativismo).
Em suma: usar a concorrência entre potências para maximizar comércio, IDE [investimento direto estrangeiro] e financiamento, sobretudo em infraestrutura e transição energética. O NAA é uma bússola prática, não ideológica; requer diplomacia profissional e pode ser adotado país a país —e ganhar força com coordenação regional.
Clique aqui para ler o artigo na íntegra.
Mirada
Não faltaram fake news para desacreditar o Nobel da Paz de Maria Corina Machado. Uma observação pertinente, os prêmios Nobel não são para respaldar vidas e trajetórias livres de críticas de nenhum lado do espectro político. São para premiar a luta de alguém por uma causa, e no caso de Machado, sua batalha pela democratização da Venezuela.
Aqui vai um fact-checking para ajudar a iluminar o debate.
Latinas
“Somos Belen” (Dolores Fonzi – 2025)
Adaptação de uma história real, transformada em livro de não ficção por Anna Correa, narra a história de uma advogada que defende uma mulher que está presa por ter sofrido um aborto espontâneo. O filme é protagonizado por Fonzi, Camila Plásti, Laura Paredes e Julieta Cardinali. A história, que impulsionou a aprovação da lei do aborto na Argentina, foi selecionada pelos argentinos para representar o país no Oscar de melhor filme estrangeiro na próxima premiação. Infelizmente, o filme ainda não estreou no Brasil. (Veja o trailer aqui)
“La Venganza de Anália” – (Netflix, 2025)
Não se preocupe com as saudades que vai sentir por Odete Roitman ao final de “Vale Tudo”. Que tal uma incursão pelas novelas colombianas? Muitas têm política, traição, triângulos amorosos, vingança e suspense. Há poucos dias, estreou a segunda temporada da série que conta a história de uma marqueteira política que resolve vingar a morte de sua mãe ao entrar na equipe que poderia eleger seu pai/estuprador de sua mãe. É viciante, vale a maratona. Está na segunda temporada, e é longa, mas se vê num mesmo embalo. (Veja o trailer aqui)
“O Beijo da Mulher Aranha” (Todavia, reedição, 2025)
Livro clássico do escritor cult Manuel Puig (1932-1990), retrata, numa prisão, dois homens na mesma cela: Molina, um vitrinista gay egocêntrico; e Valentín, um revolucionário dogmático, assombrado pelas lembranças de uma mulher que precisou abandonar em nome da luta política. Na escuridão silenciosa da cadeia em Buenos Aires, Molina reconstrói as histórias brilhantes e frágeis dos filmes que venera enquanto o cínico companheiro o escuta. (Veja o trailer aqui)