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Trump, mova-se rápido e rompa coisas no Oriente Médio – 15/10/2025 – Thomas L. Friedman

“Você cria sua própria realidade. A verdade é algo maleável.” — Roy Cohn para Donald Trump no filme “O Aprendiz”

Ouvir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizendo a israelenses e árabes na segunda-feira (12) que eles estavam “no alvorecer histórico de um novo Oriente Médio” foi como assistir a Trump vendendo a seus banqueiros um plano para construir o maior, mais bonito e mais incrível hotel do mundo em um depósito de lixo tóxico.

Por um lado, você pensa: Esse homem deve estar louco. Ele não conhece a história desse lugar? Não dá para construir um hotel ali! E, por outro, uma voz no fundo da sua cabeça sussurra: E se ele conseguir?

A capacidade de Trump de combinar intimidação, bajulação e exagero é algo digno de se ver e estava evidente na segunda-feira em seus discursos ao Parlamento de Israel e, depois, a mais de 20 líderes mundiais em uma cúpula em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Nenhum diplomata tradicional ou professor de política externa teria aconselhado o presidente a correr tais riscos —a declarar que estamos no caminho para a paz no Oriente Médio e que ele, Donald Trump, presidirá o “Conselho da Paz” que a concretizará. Mas Trump frequentou a escola de negócios, não de relações exteriores, e acredita que pode persuadir, pressionar e intimidar esse conflito até um final feliz.

Uma vez que essa estratégia trouxe a Trump tanto múltiplas falências no setor imobiliário quanto dois mandatos na política, não vou apostar contra nem a favor dele. Vou apenas lhe dar este conselho: Presidente, para concretizar esse acordo, o senhor precisa se mover rápido e quebrar coisas.

Até agora, não vejo isso. Eu entendo que é cedo, mas neste momento não vejo nem mesmo os primeiros passos para a próxima fase. Não vejo nenhuma resolução da ONU na mesa criando a força de paz árabe/internacional para supervisionar o desarmamento do Hamas e a segurança na Faixa de Gaza até que uma força de segurança palestina adequada possa ser criada. Não vejo dinheiro na mesa para os bilhões que serão necessários para a reconstrução, e não tenho ideia de quem deve nomear e administrar o gabinete de tecnocratas palestinos que devem governar Gaza em vez do Hamas, que já está usando seu Ministério do Interior e forças policiais para reafirmar o controle sobre Gaza.

Como jornalista, se eu quisesse saber o que vai acontecer a seguir e como, não tenho a menor ideia para quem telefonar.

Porque, presidente, o que o levou até essa grande libertação de reféns, troca de prisioneiros e cessar-fogo não o levará a uma paz mais ampla no Oriente Médio —a menos que imponha regras tanto ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, de Israel, quanto aos supervisores do Hamas: Turquia, Egito e Qatar. Você não tem um segundo para descansar. Como alguém que quer que tenha sucesso, devo lembrá-lo: por mais difícil que tenha sido a primeira etapa, você ainda não viu o que é difícil de verdade.

Você precisa dizer a Netanyahu: “Tive que torcer seu braço para trazê-lo até aqui. Obrigado por vir. Eu até tentei conseguir um perdão para você em seus casos de corrupção. Mas preciso saber agora —você está comigo ou contra mim na próxima fase? Vai se mover para o centro da política israelense e criar uma coalizão que possa trabalhar com uma ANP (Autoridade Nacional Palestina) reformada para substituir o Hamas e governar tanto em Gaza quanto na Cisjordânia? Ou vai continuar jogando o jogo que joga com os presidentes americanos desde 1996 —tentando tacitamente manter o Hamas vivo em Gaza e enfraquecer a ANP na Cisjordânia, para me dizer que Israel não tem parceiro para a paz?”

E ao Qatar, Turquia e Egito, e a quaisquer países árabes prontos para enviar tropas a Gaza, Trump precisa dizer algo semelhante: “Vocês vão forçar o Hamas a se desarmar e abrir caminho para o retorno da liderança da ANP a Gaza ou vão brincar com o Hamas enquanto ele tenta reafirmar o controle ali?”

Embora o Hamas tenha sinalizado que está disposto a entregar o governo civil de Gaza a outra entidade palestina, o grupo nunca confirmou que se desarmaria, embora aparentemente tenha dito isso em privado. “Eles disseram que vão se desarmar e, se não o fizerem, nós os desarmaremos“, disse Trump na segunda-feira, acrescentando que acreditava que isso aconteceria em um “tempo razoável”. Se o Hamas não se desarmar, isso dará a Netanyahu uma desculpa para reiniciar a guerra e evitar todas as armadilhas políticas que as próximas fases apresentam a ele.

Colocando de outra forma: se Trump quiser traduzir seu plano de 20 pontos em paz regional, ele precisa começar rompendo, de uma vez por todas, a relação distorcida e codependente entre Netanyahu e o Hamas —que ajudaram a manter um ao outro politicamente viáveis por mais de duas décadas.

Essa história remonta à eleição israelense de 1996, que ocorreu após o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin por um extremista israelense contrário aos Acordos de Oslo.

As pesquisas iniciais davam ampla vantagem ao sucessor de Rabin, Shimon Peres. O Hamas, porém, estava determinado a impedir que Oslo, do qual Peres foi um dos arquitetos, avançasse. Netanyahu também se opôs vigorosamente a Oslo, então o Hamas queria que ele vencesse. Para desacreditar tacitamente Peres e ajudar nas chances de Netanyahu, o Hamas iniciou uma campanha assassina de atentados suicidas.

Funcionou. O assassinato de mais de 60 israelenses em nove dias impulsionou Netanyahu, o linha-dura, a derrotar Peres, o pacifista, e vencer a eleição.

Essa codependência também explica por que Netanyahu foi responsável por facilitar a assistência do Qatar de centenas de milhões de dólares ao Hamas —em sacolas de dinheiro— para mantê-lo viável em Gaza todos esses anos. Ao mesmo tempo, Netanyahu fez —e ainda faz— tudo o que pode para enfraquecer a ANP, que coopera todos os dias com os serviços de segurança israelenses para impedir que a Cisjordânia exploda.

A codependência Bibi-Hamas precisa acabar para que haja qualquer paz.

Não há possibilidade —nenhuma— de Trump avançar desse cessar-fogo para uma paz mais ampla sem que o Hamas seja substituído, assim que possível, por uma ANP reformada e sem que Netanyahu estabeleça uma coalizão governante mais centrista, ou que os eleitores israelenses o substituam.

Trump não se ajudou quando apresentou sua ideia maluca, em fevereiro, de esvaziar Gaza de seus residentes palestinos e construir uma Riviera ao estilo francês ali.

“Trump não entendeu que uma das fantasias mais profundas de israelenses e palestinos é que o outro, um dia, desaparecerá“, disse o escritor israelense Ari Shavit. “Quando Trump sugeriu em fevereiro esvaziar Gaza de sua população, fez a direita israelense pensar que seus sonhos se tornariam realidade —que Gaza seria anexada, e a Cisjordânia viria em seguida.”

Agora, oito meses depois, Trump foi a Jerusalém e disse aos mesmos israelenses que não haverá anexação de Gaza nem da Cisjordânia. “É uma transformação incrível”, disse Shavit. “E está encurralando os aliados messiânicos de Bibi. O mesmo Trump que liberou a insanidade em fevereiro agora está forçando Israel a encarar a realidade: os palestinos vieram para ficar e precisamos encontrar uma maneira de viver com eles.”

Mais cedo ou mais tarde —e acredito que será mais cedo— Trump perceberá que, se quiser que a paz em Gaza tenha sucesso e se expanda, precisa colocar uma ANP reformada em Gaza o quanto antes.

A ANP administrava Gaza antes de ser expulsa pelo Hamas em junho de 2007, e o fazia sob um quadro legal, econômico e comercial meticulosamente negociado ao longo de dois anos por israelenses e palestinos nos Acordos de Oslo. Esse quadro só precisa ser retirado da prateleira. Tentar reinventar agora a governança em Gaza do zero é um erro; levará meses, pelo menos, para ser organizado, e o Hamas aproveitará o vácuo.

A única razão pela qual a ANP vinha sendo mantida fora do cenário era para satisfazer o desejo político de Netanyahu de nunca ter uma liderança palestina unificada na Cisjordânia e em Gaza.

Mas as necessidades políticas de Netanyahu não estão alinhadas com os interesses dos EUA em alcançar uma paz permanente —e nunca estiveram. Trump precisou satisfazer as necessidades políticas de Netanyahu para chegar até aqui, mas agora precisa atropelá-las para implementar a próxima etapa.

Ele o fará? Fiquei intrigado com o fato de que, na cúpula de Sharm el-Sheikh, Trump se reuniu com o presidente da ANP, Mahmoud Abbas. O New York Times relatou: “Enquanto os dois homens posavam para a câmera ao final de sua conversa reservada, Trump segurou a mão de Abbas, dando-lhe dois tapinhas enquanto o líder palestino sorria. Trump fez um sinal de positivo e exibiu seu grande sorriso.” Bom para o presidente.

A única solução de longo prazo —em minha visão— é um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia, cujas fronteiras sejam negociadas com Israel. Esse Estado, porém, deve ser administrado por uma ANP reformada— com o apoio contínuo de uma força árabe/internacional de manutenção da paz que garanta que esse Estado palestino nunca ameace Israel, e o apoio de um “Conselho da Paz” internacional que garanta seu sucesso econômico.

A única forma de chegar lá é se o Hamas for rapidamente desarmado, se a ANP for rapidamente reformada e integrada a Gaza e se Netanyahu encontrar novos parceiros de governo no centro ou for para o exílio político.

Nenhum deles, em suas formas atuais, é parceiro para uma paz duradoura. Que suas transformações —ou desaparecimentos— aconteçam rapidamente.

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