Morreu nesta terça-feira aos 51 anos D’Angelo, o aclamado cantor de neosoul que conquistou a fama nos anos 1990 e início dos anos 2000 com uma abordagem inovadora e sensual do R&B nos anos 1970. Um videoclipe em que ele aparece nu o transformou em um fenômeno da cultura pop, mas o levou a quase uma década de reclusão.
Sua morte foi confirmada em um comunicado por sua família, que não informou onde ele morreu, mas indicou um câncer como a causa.
Nos anos que antecederam seu triunfo com o álbum “Voodoo”, de 2000, D’Angelo era uma das principais figuras da revolução da música soul daquela época, mesclando as melodias sedutoras de cantores clássicos como Al Green e Marvin Gaye com as batidas e a urgência do hip-hop.
Suas maiores canções, como “Lady”, “Brown Sugar” e “Untitled (How Does It Feel)”, foram aclamadas como exemplos supremos dessa tendência, que não buscava um revival das tradições do pop negro, mas uma transformação delas.
Essas faixas se tornaram hits no topo da parada de R&B da Billboard, e D’Angelo estava em alta rotação nas estações de rádio voltadas para o público negro, junto com artistas como Erykah Badu, Mos Def e Common, com quem colaborou como parte de um coletivo conhecido como Soulquarians.
O estilo vocal característico de D’Angelo era um falsete expressivo que, como o de Prince, podia crescer até um grito que levou críticos a aclamá-lo como um sucessor das maiores tradições do pop negro. “Ele é o Jesus do R&B, e eu sou um crente”, escreveu Robert Christgau, no The Village Voice, em 2000.
“Untitled”, com um ritmo erótico, também cruzou para o mercado pop mais amplo, alcançando o décimo lugar na parada Hot 100 da Billboard, graças em grande parte ao seu videoclipe. No vídeo, D’Angelo aparecia como um Adônis negro. A câmera percorria o físico musculoso e suado de D’Angelo enquanto ele levava a música ao clímax.
O vídeo de “Untitled” estabeleceu D’Angelo como um símbolo sexual e reforçou seu poder comercial, levando o álbum “Voodoo” ao topo das paradas por duas semanas.
Mas D’Angelo ficou desconfortável com a atenção e com ser caracterizado como um símbolo sexual. Após um colapso durante a turnê, ele caiu em depressão e lutou contra o abuso de álcool e drogas antes de ir para reabilitação.
“‘Untitled’ não deveria ser sua declaração de missão para ‘Voodoo'”, disse seu ex-empresário, Dominique Trenier, à revista Spin em 2008.
“Estou feliz que o vídeo fez o que fez”, acrescentou Trenier, “mas ele e eu ficamos desapontados porque, até hoje, na memória da população em geral, ele é o cara nu”.
D’Angelo também se irritava com a descrição de sua música como simplesmente neosoul. “Eu nunca afirmei que faço neosoul”, disse ele em uma entrevista à Red Bull Music Academy, em 2014. “Quando comecei, eu sempre dizia: ‘Eu faço música negra.'”
Durante grande parte do resto de sua carreira, D’Angelo desapareceria do mundo da música —e dos olhos do público— por anos. Após “Voodoo”, ele não lançou outro álbum até “Black Messiah”, que ele mesmo produziu, em 2014.
Suas ausências cultivaram um senso de misticismo entre seus fãs, bem como preocupação. Em maio, ele se retirou de uma apresentação em um festival na Filadélfia, citando uma cirurgia recente.