O candidato da oposição de Camarões Issa Tchiroma, 79, se declarou vitorioso das eleições à Presidência do país na noite desta segunda-feira (13), embora o órgão eleitoral oficial (Elecam) não tenha divulgado resultados. Tchiroma instou Paul Biya, 92, o líder do país desde 1982 e seu antigo aliado, a aceitar a derrota e “honrar a verdade das urnas”.
“Nossa vitória é clara. Ela deve ser respeitada. O povo escolheu”, disse Tchiroma em um discurso em perfil no Facebook.
O político é um ex-porta-voz do governo e ministro do Emprego que rompeu com Biya no início deste ano e montou uma campanha atraindo multidões e o endosso de uma coalizão de partidos de oposição e grupos civis.
Sem nomear Tchiroma, o Movimento Democrático do Povo de Camarões (CPDM), partido de Biya, condenou nesta terça-feira (14) a declaração de vitória do rival como um “embuste grotesco”, acrescentando que apenas o Conselho Constitucional está habilitado a proclamar resultados.
O órgão, no entanto, cuja criação estava prevista na Constituição de 1996 e é a instância máxima de interpretação de leis e de regulação eleitoral do país, foi criado apenas em 2018 e tem todos os seus 11 membros nomeados por Biya.
O ditador camaronês, o chefe de Estado mais velho do mundo em exercício, busca um oitavo mandato após 43 anos no poder —se vitorioso, ele pode chegar aos 99 anos de idade ainda no cargo. Até a publicação desta reportagem, Biya, que aparece raramente em público, não havia se pronunciado.
Analistas esperavam que seu controle sobre as instituições estatais e uma oposição fragmentada lhe dessem vantagem na eleição, apesar do crescente descontentamento público com a estagnação econômica e a uma grave crise de segurança relativa principalmente a um conflito separatista no oeste do país e a ameaças de grupos radicais islâmicos como o Boko Haram no norte.
Tchiroma elogiou os eleitores por desafiarem o que chamou de intimidação e por permanecerem nas seções eleitorais até tarde da noite para proteger seus votos. “Também agradeço aos candidatos que já me enviaram suas congratulações e reconheceram a vontade do povo”, disse.
“Colocamos o regime diante de suas responsabilidades: ou ele mostra grandeza aceitando a verdade das urnas, ou escolhe mergulhar o país em turbulência que deixará uma cicatriz indelével no coração de nossa nação”, afirmou o opositor.
A lei eleitoral de Camarões permite que os resultados sejam publicados e afixados nas seções eleitorais, mas as contagens finais devem ser validadas pelo Conselho Constitucional, que tem até 26 de outubro para anunciar o resultado.
Tchiroma disse que em breve divulgará uma análise independente em cada região dos totais de votos compilados a partir dos resultados. “Esta vitória não é de um homem, nem de um partido. É a vitória de um povo”, disse.
O opositor também pediu aos militares, forças de segurança e funcionários públicos que permanecessem leais à “república, não ao regime”.
O Ministro da Administração Territorial, Paul Atanga Nji, advertiu no fim de semana que qualquer publicação unilateral de resultados seria considerada “alta traição”.
O sistema eleitoral de turno único de Camarões concede a Presidência ao candidato com mais votos, mesmo que não seja a maioria. Mais de 8 milhões de pessoas estavam registradas para votar na eleição.