Na abertura da primeira faixa do disco “Chaos A.D.”, o Sepultura usou os batimentos cardíacos de Zyon, filho do então vocalista da banda, Max Cavalera, retirados do ultrassom da barriga da mãe quando o garoto ainda não havia nascido. O ano era 1993.
Mais de três décadas depois, Zyon se tornou um artista da música pesada —ele toca bateria no novo álbum do Soulfly, “Chama”, que será lançado no próximo dia 24 pelo selo Nuclear Blast. Agora em seu 13º disco, o Soulfly é a banda que Max Cavalera fundou após deixar o Sepultura, no final dos anos 1990.
Como “Chama” é um álbum criado em família, o outro filho de Max, Igor, toca baixo em diversas faixas e e ajudou a escrever parte das letras. “Foi um dos momentos mais legais para mim como pai, um sonho que se realizou de maneira muito linda”, conta Max, em referência à ocasião em que o trio estava junto no estúdio tentando compor a letra da música-título do disco.
De sua casa em Phoenix, no estado do Arizona, local que Max diz ser um contraponto quieto à sua vida agitada de quando está em turnê, o vocalista conta numa entrevista por vídeo que estava inspirado ao entrar no estúdio para gravar “Chama”. O sentimento era de renascimento e a ideia, de fazer um disco que lembrasse os dois primeiros do Soulfly, respeitados pela comunidade do metal por suas músicas a um só tempo pesadas e com levada.
Segundo Max, como ele já tem duas outras bandas de pancadaria sonora —Go Ahead and Die e Cavalera, na qual toca os discos antigos do Sepultura —”o Soulfly não precisava ficar tão thrash, tão rápido, dava para voltar à era mais tribal, mais groove”. Max é não só uma das personalidades mais respeitadas do metal, mas também um dos responsáveis por incorporar batucadas brasileiras onde antes só havia guitarra e fúria.
Isso fica claro em “Storm the Gates”, o primeiro single do disco, e também na faixa de abertura, “Indigenous Inquisition”, na qual Max enumera tribos indígenas dos Estados Unidos, do Brasil e de países da África que foram extintas ou perseguidas. Esta música exemplifica outro caminho sonoro do disco —o uso de efeitos eletrônicos diversos.
Para isso, Max recrutou o produtor Arthur Rizk, que tem ajudado a definir o som de algumas das bandas mais interessantes do metal contemporâneo, como Blood Incantation, Power Trip e Code Orange. Rizk recebeu uma versão mais crua do disco e fez a mixagem, adicionando barulhinhos eletrônicos que dão uma sujada no som.
Outro destaque do álbum é “No Pain=No Power”, em que o vocal gutural de Max ganha um contraponto melódico nas vozes de dois convidados, Ben Cook, da banda de hardcore No Warning, e Gabriel Franco, do grupo de metal gótico Unto Others. Os três cantam sobre as guitarras de Dino Cazares, uma lenda do metal, membro da banda Fear Factory.
Aos 56 anos, Max diz que não vai se aposentar da vida na estrada, mas pensa “em ir mais devagar”. Afinal, lá se vão 35 anos de turnês, quase todos os anos, segundo ele, e foi viajando o mundo como um nômade da música pesada que ele conta ter aprendido “praticamente tudo”.
Em novembro, ele se apresenta em São Paulo com o Cavalera, banda que mantém com seu irmão, Iggor, e com a qual tocam os discos antigos do Sepultura, um dos grupos mais importantes da história da música pesada que ambos fundaram e do qual saíram. No Brasil, vão apresentar as músicas de “Chaos A.D.”, justamente o álbum que tem as batidas do coração do filho de Max.