O mercado norte-americano de apostas eleitorais movimentou na eleição de Trump no ano passado cerca de US$ 3,5 bilhões. Antecipar o futuro sempre foi obsessão humana. Das adivinhações à astrologia, das profecias às projeções científicas, o percurso de milênios convocou nossa curiosidade insaciável para prevenir tragédias, vencer guerras e planejar o porvir. Desde que as urnas se tornaram sucedâneas das disputas sanguinolentas pelo poder, atraem igual fascínio. Isso explica o volume de análises sobre a sucessão presidencial de 2026.
Doravante, o número de levantamentos crescerá, impulsionado por interesses diversos, atentos às oscilações do humor popular, mesmo antes de conhecido o elenco completo de competidores. Os institutos testam múltiplas listas, enquanto potenciais candidatos e dirigentes partidários insinuam ou desmentem pretensões. Multiplicam-se, fato novo, as manifestações de pretendentes a vice, lembrando o tempo em que concorriam em faixa própria, e não anexados aos titulares.
Mais uma vez, as sondagens funcionarão como corrimão seguro a guiar imprensa, campanhas e cidadãos através da névoa em que se misturam informação e desinformação. O certo é que o bailado dos números não cessará até o grande dia. Ainda assim, a tentação de vislumbrar o desfecho permanece irresistível.
Com base nas 13 competições realizadas desde 1945 —4 no ciclo democrático pré-64 e 9 na Nova República— é possível identificar padrões com razoável consistência. O primeiro diz respeito à configuração do confronto. Em cerca de 70% dos casos, três nomes alcançaram dois dígitos, formando cenários triangulares. Esse parece ser o formato mais provável em 2026, já que o duelo bipolar de 2022 não se repetirá, e haverá mais de um postulante à direita.
Outra questão: a possibilidade de vitória em turno único parece reduzida, apenas 23%. Lula jamais ultrapassou a metade dos votos válidos, ainda que tenha chegado perto em 2006 e 2022. Só dois o fizeram: Eurico Dutra (recordista com 55%) e FHC, em suas duas conquistas consecutivas.
Quanto à média histórica dos vencedores na primeira rodada, o índice gira em torno de 47%. Excluindo-se 1989, a mais fragmentada, sobe para 48%. Com variações inferiores a dois pontos, é esse o valor modal dos resultados. Cinco das seis jornadas eleitorais deste século confirmando o padrão. Assim, quem prevalecer em 2026 deverá situar-se próximo dessas marcas.
Por fim, a questão mais complexa: quais as perspectivas de Lula? Restringindo-nos necessariamente à Nova República, observa-se que a taxa de continuidade atual —75%— é um parâmetro limitado, pois repousa sobre apenas quatro casos. Tampouco convém comparar com experiências estrangeiras dadas as diferenças significativas. Melhor observar as intenções de voto um ano antes do pleito —em 6 das 9 vezes o líder inicial acabou vitorioso. E combiná-las a dados de aprovação governamental, expectativas sobre a economia e projeções do mercado de variáveis-chave —PIB, inflação e desemprego— para o próximo ano.
Considerando esses fatores, com sinais macroeconômicos relativamente benignos, nosso modelo parcimonioso com regressão logística bayesiana, embora sensível à curta série histórica, indica uma projeção preditiva e atualizável de 72% de chances de reeleição do incumbente. Que se ajustará à medida que novas evidências empíricas surjam. Se o quadro econômico escorregar e simultaneamente ocorrerem eventos políticos disruptivos, a balança pende para a oposição. Do mesmo modo, estabilidade e crescimento reforçam a posição do presidente.
Lembrando que probabilidades não são vaticínios. Sempre é bom ouvir o recado de Shakespeare: “Nunca chame de impossível o que apenas improvável lhe parece”. O que foi didaticamente ilustrado na primeira corrida presidencial de Trump, quando o reputado site americano de prognósticos FiveThirtyEight lhe atribuía na véspera chances de apenas 20%.