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Análise: Por que a paz no Oriente Médio pode ser ilusão – 13/10/2025 – Mundo

“Este é um movimento. Eu sou apenas uma pessoa. Certamente não mereço isso.”

Essa foi a reação de María Corina Machado, líder da oposição venezuelana, ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2025.

Se Donald Trump ganhar o prêmio de 2026, parece improvável que ele adote uma postura semelhante. O presidente dos Estados Unidos já anunciou que “todos dizem” que ele deveria receber o Nobel.

Depois de reivindicar crédito por encerrar dois conflitos inexistentes —um entre Albânia e Azerbaijão e outro entre Camboja e Armênia— Trump genuinamente desempenhou um papel crucial para interromper o brutal conflito na Faixa de Gaza. Multidões israelenses entoaram agradecimentos ao presidente americano em um comício em Tel Aviv no fim de semana.

Talvez seja prematuro —e um tanto reducionista— afirmar, como o presidente fez, que “após 3.000 anos de caos e lutas, há paz no Oriente Médio“. Mas uma paz duradoura em Gaza, se ele a alcançar, ainda é algo de que se orgulhar.

E pode haver prêmios maiores por vir —ou assim se espera. Se todo o plano de paz de 20 pontos de Trump for implementado e se mantiver, então o presidente e seus enviados poderiam realmente resolver o conflito israelo-palestino. Isso seria uma conquista monumental: algo que escapou a sucessivos presidentes americanos desde 1948, apesar dos intensos esforços de figuras como Bill Clinton e Jimmy Carter.

Mas isso também, infelizmente, é improvável que aconteça. Apesar da compreensível euforia tanto em Israel quanto em Gaza pelo cessar das hostilidades, questões óbvias sobre o futuro do acordo já estão surgindo.

A próxima grande questão é se o Hamas realmente irá se desarmar e se Israel irá se retirar do território palestino, como prevê o acordo. Os sinais não são promissores. Em vez disso, a facção está reafirmando seu controle sobre Gaza e travando batalhas para desarmar grupos rivais.

Se o desarmamento do Hamas não acontecer, então as próximas etapas do plano começam a parecer muito duvidosas. Será que uma equipe de tecnocratas palestinos realmente conseguiria assumir a gestão de Gaza se o Hamas permanecer ali? A pergunta responde a si mesma.

Isso, por sua vez, coloca seriamente em dúvida o destacamento de uma força multinacional de estabilização, provavelmente composta, em grande parte, por soldados de nações árabes e muçulmanas. O compromisso desses países com a tarefa, sempre questionável, desaparecerá se o Hamas continuar sendo uma força poderosa em Gaza. Países como Egito, Indonésia e os Estados do Golfo não vão se comprometer com uma operação de contrainsurgência que envolva sofrer baixas ou suprimir o grupo em nome de Israel.

Se o Hamas permanecer em Gaza, qualquer governo israelense continuará a vê-lo como um inimigo perigoso capaz de atacar o Estado judeu a qualquer momento. Isso torna improvável que os israelenses completem a retirada de Gaza prevista no plano. E, em algum momento, o governo Netanyahu ou de um sucessor pode decidir reiniciar o conflito.

Mas, por enquanto, é do interesse de ambos os lados parar de lutar. Netanyahu enfrenta eleições no próximo ano e gostaria de concorrer como o líder que derrotou o Hamas, encerrou a guerra e conseguiu a libertação dos reféns. A própria facção precisaria de tempo para se reagrupar e reafirmar seu controle sobre as ruínas de Gaza.

Portanto, é provável que, quando o comitê do Nobel iniciar as deliberações do próximo ano, os resultados do plano de paz dos EUA ainda estarão, na melhor das hipóteses, incertos e frágeis.

A candidatura de Trump ao prêmio da paz também precisa ser qualificada com algumas importantes notas de rodapé e apêndices. Primeiro, deve-se notar que o presidente dos EUA piorou o problema antes de melhorá-lo. O plano “Riviera de Gaza”, revelado em fevereiro de 2025, foi anunciado no meio de outro cessar-fogo e pode ter ajudado a reiniciar a guerra.

A ideia era extremamente irrealista e tratava um conflito trágico como uma oportunidade de negócios para incorporadores imobiliários americanos. Mas seu impacto foi ainda pior, porque validou um dos esquemas mais sombrios da extrema direita israelense —o deslocamento em massa de palestinos. Pode não ser coincidência que, no mês seguinte, Israel tenha decidido voltar à guerra. Essa decisão levou a outros sete meses de conflito brutal.

O novo plano de Trump é mais realista e mais respeitoso com os direitos dos palestinos. Mas o crédito por isso vai em parte para os europeus, líderes do Golfo e americanos experientes, ainda no sistema dos EUA, que gradualmente persuadiram o republicano e seu enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff, da necessidade de voltar a alguns dos parâmetros tradicionais de um processo de paz, incluindo uma eventual solução de dois Estados.

Chegar ao estágio atual também exigiu um erro causado pelo excesso de arrogância de Netanyahu: o bombardeio do Qatar em uma tentativa de matar os líderes políticos exilados do Hamas que viviam em Doha. O ataque finalmente pareceu esgotar a paciência de Trump. Nesse momento, ele realmente desempenhou um papel decisivo —agindo com um vigor e uma determinação que seu antecessor, o democrata Joe Biden, nunca demonstrou.

Nesta segunda-feira (13), Trump chegou ao Oriente Médio para discursar no Parlamento de Israel e, depois, presidir uma conferência internacional de paz no Egito. Ele aproveitará seu momento de glória.

Mas um Prêmio Nobel? Teremos que esperar para ver.

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