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Mostra sobre Zalszupin apresenta gênio a sua Polônia natal – 13/10/2025 – Ilustrada

O sobrenome e o sotaque deixavam claro para os brasileiros que o arquiteto e designer Jorge Zalszupin tinha origem estrangeira. Mas, na Polônia, onde nasceu, seu nome e sua carreira consagrada, especialmente pelo papel que teve na evolução do mobiliário brasileiro a partir dos anos 1960, são quase desconhecidos, mesmo entre quem trabalha na área.

Nascido em 1922 em uma família judia, Jerzy Zalszupin era adolescente quando deixou Varsóvia para fugir do Holocausto. Após estudar arquitetura na Romênia e trabalhar brevemente na França, chegou ao Brasil em 1949. Fincou raízes em São Paulo, onde virou Jorge, se naturalizou brasileiro, casou, teve duas filhas e criou dezenas de móveis e projetos de arquitetura. Zalszupin morreu na capital paulista em 2020, aos 98 anos.

Cinco anos depois, seu nome está de volta ao país natal, na exposição “Warsaw – São Paulo – Warsaw”, em cartaz até este domingo (19), em Varsóvia. Em um casarão dos anos 1920, a mostra reúne 34 peças do designer, além de desenhos e fotos de projetos, espalhados por oito salas. A organização é da Fundação Visteria, que promove internacionalmente o design e a arte da Polônia, com colaboração da brasileira Etel, fabricante dos móveis de Zalszupin.

É a primeira mostra dedicada a ele no país, e o objetivo é apresentar tanto sua produção quanto parte de sua vida aos europeus. Dados biográficos, fotos de família e documentos, como seu pedido de naturalização ao governo brasileiro, também são exibidos. Ao redor dos seus móveis, textos explicam o cenário e os materiais que Zalszupin encontrou no Brasil. Sua autobiografia, “De * pra Lua” (ed. Olhares, 2014), acaba de ser publicada em polonês.

“Estudei arquitetura e urbanismo na Polônia e nunca tinha ouvido falar nele”, diz a arquiteta de interiores Maria Murawsky, uma das curadoras da mostra. O primeiro contato com sua obra foi há cerca de dez anos, quando, em busca de um carrinho de chá para um de seus projetos, viu na internet a imagem da peça mais célebre de Zalszupin.

“Fiquei impressionada pela quantidade de histórias que o carrinho conta: essas grandes rodas de latão, a madeira curvada, a bandeja com detalhes, a alça minimalista com o rodízio”, diz Murawsky, que passou a pesquisar sobre o autor e descobriu sua origem polonesa.

Criado em 1959, o carrinho de chá é a única peça que faz referência direta à memória polonesa de Zalszupin, que afirmou ter se inspirado em carrinhos de bebê que circulavam por Varsóvia quando ele ainda vivia no país. Do mesmo ano, estão outros dois móveis icônicos: a poltrona Dinamarquesa, inspirada na arquitetura de Oscar Niemeyer para Brasília e no design escandinavo, e a mesa de centro Pétalas, com sua madeira curvada.

Tirando alguma inspiração escandinava, Zalszupin desenvolveu um design 100% brasileiro, sem conexão com a produção do pós-guerra de seu país-natal. “Nosso modernismo definitivamente não foi tão vibrante como no Brasil. Foi mais baseado na forma e na funcionalidade, sem espaço para fantasia”, diz Murawsky.

Lissa Carmona, cocuradora da mostra e CEO da Etel, manteve contato frequente com o designer durante sua colaboração com a marca, entre o fim dos anos 1990 até sua morte, e vê o racionalismo como um traço de sua origem europeia. “Ele veio com uma estética completamente revolucionária, com a madeira folhada, prensada. Era sempre um tirar e o exercício de reduzir. Para a gente, foi uma grande mudança, trazendo outras técnicas”, diz.

Foi Carmona que idealizou a conversão da residência da família, em São Paulo, na Casa Zalszupin, um misto de museu e galeria, que hoje recebe exposições. Na mostra em Varsóvia, imagens e desenhos do projeto, construído por Zalszupin em 1962, ganharam destaque e foram inspiração para a cenografia com plantas tropicais, em referência à vegetação presente na casa.

Também a história da fábrica L’Atelier é contada aos poloneses, com alguns dos objetos fabricados e os coloridos cartazes da época. Aberta por Zalszupin em 1960 no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, a loja surgiu da necessidade de preencher os interiores das novas casas e edifícios, diante da carência de móveis que dialogassem com os traços modernos.

No catálogo, itens como as poltronas Brasiliana e Presidencial, a cadeira Itamarati e as mesas Chanceler indicam a relação com a capital Brasília e a colaboração com Niemeyer. Além da madeira, Zalszupin explorou no L’Atelier o plástico, em meio ao desenvolvimento industrial no país. Em 1968, passou a fabricar a cadeira Hille, do designer britânico Robin Day, que virou um fenômeno.

Ao completar 90 anos, em 2012, Zalszupin foi convencido pela família a visitar Varsóvia pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra. Era para ser um presente de aniversário, mas se transformou em uma experiência bem menos festiva, pelas lembranças da fuga e da mãe, que não seguiu com eles para a Romênia e acabou morta pelos nazistas.

“Ele achava que todo mundo era antissemita e não quis nem sair da van para ser fotografado em frente ao prédio em que havia morado”, diz a filha Verônica.

Se Zalszupin tinha o desejo de ser reconhecido em seu país natal, isso nunca ficou claro para quem o acompanhava. “Acho que ele nunca imaginou isso”, diz Marina, a segunda filha. “Não acho que fosse um desejo dele, mas no íntimo imagino que fosse um sonho. Seria algo que o deixaria feliz, como completar um ciclo”, afirma Carmona.

A jornalista viajou a convite da Fundação Visteria

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