Nos últimos meses, a direita bolsonarista viveu uma temporada de turbulência. O julgamento de Bolsonaro e o apoio ao tarifaço acenderam uma faísca de insatisfação que se voltou para dentro do próprio campo.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) abriu fogo cruzado contra Tarcísio de Freitas (Republicanos), acusando o governador de trair o movimento ao ser o principal nome ventilado como presidenciável no campo da direita. Nikolas Ferreira (PL-MG), por sua vez, passou a ser criticado por estar acumulando protagonismo demais.
Nesse caos —entre a fadiga do discurso pela anistia e a falta de um novo projeto de país— o MBL voltou a ganhar tração nas redes, ocupando o espaço de uma direita que tenta se reconstruir enquanto ainda briga consigo mesma.
Isso se dá em meio à fundação do Partido Missão, ramificação institucional do MBL e projeto de transformar o movimento em força partidária formal. A legenda nasce em um momento em que o bolsonarismo, desgastado nas últimas semanas, deixa de atingir as expectativas de um público que se identifica com pautas liberais, anticorrupção e de segurança pública.
Nos últimos meses, o grupo tem ampliado sua presença no debate nacional com propostas como a Lei Anti-Oruam, a defesa da “desfavelização” e a classificação de facções como organizações terroristas. A guinada em direção à segurança pública e à moralidade urbana marca uma nova fase do MBL — menos economicista, mais combativa e voltada a disputar com o bolsonarismo o imaginário da direita jovem.
No monitoramento de mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp realizado pela Palver, o MBL aparece ganhando espaço justamente enquanto os políticos da juventude bolsonarista perdem tração. Esse avanço coincide com o posicionamento de Kim Kataguiri (União Brasil-SP), que nas últimas semanas se destacou ao se opor à PEC da Blindagem — vista como tentativa do Congresso de se blindar de investigações — e, em seguida, ao liderar a articulação pela retirada da MP 1.303, que aumentava as alíquotas de impostos sobre aplicações financeiras como criptomoedas, LCIs e LCAs.
Entre janeiro e agosto de 2025, o MBL oscilava, com média de 25% de participação no debate em comparação a políticos da juventude bolsonarista. Nos dois meses seguintes, porém, o movimento passou a crescer cerca de 10% por semana, até alcançar 50% da atenção entre os políticos da direita jovem. No fim do período, as menções a Nikolas representavam 37% do total, enquanto Kim concentrava 43%, consolidando uma disputa de protagonismo dentro da direita digital.
No Instagram, Nikolas apresentou um crescimento fora do comum em janeiro de 2025, impulsionado por seu alto engajamento durante a “crise do Pix”. Mas, com exceção do vereador de São Paulo Lucas Pavanato (PL), as demais lideranças da juventude bolsonarista não registraram avanço significativo após o tarifaço.
Em contraste, todas as lideranças do MBL passaram a crescer a partir de julho, acompanhando o reposicionamento do movimento nas redes. O destaque é o deputado estadual paulista Guto Zacarias (União Brasil), que se tornou um dos políticos mais seguidos do grupo.
A rede em que o MBL mais se destaca é o YouTube, onde mantém de forma consistente cerca de 80% da atenção entre as lideranças da direita. Diferente do ambiente mais efêmero do Instagram e do X (antigo Twitter), o YouTube permite vídeos longos e narrativas mais elaboradas, favorecendo a construção de pautas e o enquadramento político de temas complexos.
É nesse formato que o movimento tem coordenado sua estratégia recente, articulando debates sobre o projeto de lei Anti-Oruam, o “direito penal do inimigo”, o ajuste fiscal e o fim da CLT.
Com Renan Santos se apresentando como pré-candidato à Presidência pelo Partido Missão, já vem figurando de forma tímida em pesquisas de intenção de voto, especialmente entre o público mais jovem. O movimento aposta que pode ocupar o espaço deixado por um bolsonarismo fragmentado e disputar contra uma esquerda fortalecida. Em 2026, essa direita deverá testar se a combinação entre influência nas redes e pautas estratégicas será suficiente para converter engajamento online em força eleitoral real
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