A Presidência de Madagascar afirmou neste domingo (12) que uma tentativa de golpe estava em andamento, à medida que mais militares declaram apoio aos protestos que se espalharam pelo país na África nas últimas semanas.
Em um comunicado nas redes sociais, o gabinete de Andry Rajoelina disse que o presidente havia pedido “diálogo para resolver a crise” e afirmou, no sábado (11) à noite, que ele e o primeiro-ministro estavam “totalmente no controle dos assuntos do país”. Seu paradeiro, no entanto, é desconhecido e especula-se que ele possa ter deixado o país.
Tropas da unidade de elite Capsat, que ajudou o presidente Rajoelina a tomar o poder em 2009, instaram colegas a apoiarem manifestantes. Os protestos começaram em 25 de setembro e agora representam o maior desafio ao governo de Rajoelina desde sua reeleição em 2023.
Líderes da Capsat afirmaram no domingo que comandam as operações de segurança do país e que estão à frente de todas as áreas das Forças Armadas. Além disso, afirmam ter nomeado o general Demosthene Pikulas, ex-chefe da academia militar, como comandante do Exército.
A gendarmeria, força policial que remonta ao período colonial, também se associou à polícia e rompeu com o governo. “Todo uso da força e qualquer comportamento impróprio contra nosso povo estão proibidos. A gendarmaria é uma força destinada a proteger pessoas e não os interesses de alguns indivíduos”, afirmou a Força de Intervenção da Gendarmaria Nacional em um comunicado transmitido pela Real TV.
Os protestos, inspirados por movimentos encabeçados pela geração Z no Quênia e no Nepal, começaram por causa de cortes de água e eletricidade. Desde então, eles se espalharam, com manifestantes pedindo a renúncia de Rajoelina e que o presidente se desculpasse pela violência empregada em manifestações.
Na Avenida Independência, a principal artéria de Antananarivo, havia protestos contra o governo no domingo.”O presidente está no poder há mais de 15 anos e ainda não há água, eletricidade ou empregos”, disse Vanessa Rafanomezantsoa, 24, mãe de dois filhos e desempregada.
“Vejam Madagascar. Eles [o governo] são ricos e nós não temos o suficiente para comer.”
O país africano em que a idade média é inferior a 20 anos tem uma população de cerca de 30 milhões —três quartos dos quais vivem na pobreza, segundo o Banco Mundial. A renda média anual está estagnada em US$ 600 (cerca de R$ 3.315), enquanto os preços dos alimentos dispararam.
Um vídeo transmitido pela mídia local mostrou dezenas de soldados deixando os quartéis no sábado para escoltar milhares de manifestantes até a Praça 13 de Maio, em Antananarivo.
O chefe da Comissão da União Africana, Mahmoud Ali Youssouf, pediu calma e moderação.