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Plano para ‘Nova Gaza’ revela ambição imobiliária de Trump – 09/10/2025 – Laura Greenhalgh

No momento em que estas linhas são escritas, falta pouco para o anúncio do Nobel da Paz de 2025. O mundo aplaude o acordo entre Israel e Hamas, sob o patrocínio dos EUA. Binyamin Netanyahu segue satisfeito. O Hamas começa a dizer que ele manipula. E António Guterres, secretário-geral da ONU, pede que a ajuda humanitária entre em Gaza. O Nobel para Donald Trump em nada mudaria o teor desta coluna, já que o tema tratado aqui tem vida própria.

Os 20 pontos do Plano Trump para o fim da guerra Israel-Gaza dizem muito sobre a Casa Branca atual. O documento trata do cessar-fogo e do resgate dos reféns, pontos cruciais do acordo, da deposição de armas de um lado e do recuo militar do outro, de uma gestão transitória, e, no tópico 19, articula todo um jogo de palavras ao abordar a criação do Estado palestino.

Seria algo entregue ao porvir: “À medida que avance a reurbanização de Gaza e se implemente fielmente o programa de reforma da Autoridade Palestina, poderiam ser criadas as condições para um caminho crível em direção à autodeterminação e à criação de um Estado palestino”.

Tudo no condicional. O plano abre falando em “reconstrução” e fecha com “reurbanização”. Apenas menciona um povo que já teria “sofrido o suficiente”, porque a ênfase está em construir a Nova Gaza, nos moldes das “prósperas cidades modernas do Oriente Médio“.

Visão de um megainvestidor imobiliário que se fez presidente, apoiado por negociadores que são seus aprendizes: Steve Witkoff, enviado especial da Casa Branca para o Oriente Médio, e Jared Kushner, conselheiro sênior e genro de Trump.

Vejamos as biografias. Witkoff, descendente de judeus russos, criou-se no Bronx, estudou direito e depois abriu um negócio lucrativo, recuperando e vendendo imóveis degradados em Nova York. De prédio em prédio, chegou ao Witkoff Group, com negócios robustos no Qatar. É íntimo de Trump. Jogava golfe com ele em Palm Beach, em 2024, quando do atentado ao então candidato à Casa Branca. As origens familiares de Witkoff abrem portas tanto com Vladimir Putin quanto com Netanyahu.

Jared Kushner, o primeiro-genro, representa uma holding familiar de vários tentáculos, sendo o imobiliário o mais parrudo. Seu pai, Charles, turbinou os negócios, foi condenado por uma coleção de falcatruas e agora ocupa o posto de embaixador dos EUA na França. A holding opera um bloco de investimentos na Arábia Saudita, no Qatar e em Omã.

Witkoff e Kushner se coligam a um terceiro personagem: Tony Blair. Aposentado da política, o ex-premiê britânico preside um instituto focado em “mudanças globais”, que lhe rende gordas consultorias. Quando a guerra disparou em Gaza, Blair ofereceu seus préstimos à dupla Biden-Blinken. Saltou para a dupla Trump-Rubio, em 2025. Carrega no portfólio o rótulo de negociador da paz na Irlanda do Norte, mas esconde fiascos no Iraque pós-Saddam. O Plano Trump e o Plano Blair para Gaza se entrelaçam além das coincidências.

O que une estes homens hoje é a ânsia de convocar um exército de escavadeiras e gruas para erigir a Nova Gaza. Kushner acaba de lançar um resort de alto luxo na Albânia outrora comunista e quer abrir mais uma frente no Mediterrâneo. O imobiliário tem pressa. Que se eliminem os escombros, assim como os desgraçados que se agarram a eles. Que a história e o passado recente sejam concretados. E que se gentrifique o direito internacional.


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