O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está prestes a alcançar a maior conquista diplomática de seu segundo mandato —o fim da guerra brutal entre Israel e o Hamas— e, na noite desta quarta-feira (8), deixou claro que estava ansioso para voar até o Oriente Médio para presidir um cessar-fogo e receber reféns que passaram dois longos anos em cativeiro.
Para Trump, o sucesso nessa empreitada é o teste definitivo de seu objetivo autodescrito como negociador e pacificador —e um caminho para o Prêmio Nobel da Paz que ele tanto cobiça. O vencedor de 2025, aliás, será anunciado na manhã desta sexta (10) poucas horas antes de ele partir para comemorar sua vitória no Egito e em Israel.
Muita coisa pode dar errado nos próximos dias, e no Oriente Médio isso acontece com frequência. O acordo de paz anunciado por Trump no Truth Social na noite de quarta-feira pode parecer mais uma pausa temporária em uma guerra que começou com a fundação de Israel em 1948 e nunca terminou.
Se Trump conseguir manter esse acordo, se o Hamas libertar seus últimos 20 reféns vivos neste fim de semana e, com eles, sua vantagem nas negociações, isso seria um passo extraordinário em direção ao tipo de plano de paz que Trump e seu antecessor, Joe Biden, têm pressionado para realizar, apesar de muitos desvios por caminhos obscuros. E se Trump conseguir que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu retire as tropas da cidade de Gaza e desista de seu plano de assumir o controle dos escombros da Faixa de Gaza, se ele conseguir impedir a carnificina que matou 1.200 pessoas em Israel e mais de 60 mil palestinos, ele terá feito o que muitos antes dele tentaram: superar um aliado difícil e agora isolado.
“Este cessar-fogo e a libertação dos reféns, se acontecerem, só se concretizaram devido à disposição de Trump de pressionar o primeiro-ministro Netanyahu”, disse Aaron David Miller, da Carnegie Endowment for International Peace, que frequentemente critica as idas e vindas de Trump no Oriente Médio. “Nenhum presidente, republicano ou democrata, jamais foi tão duro com um primeiro-ministro israelense em questões tão importantes para sua política ou para os interesses de segurança de seu país.”
Trump sabe que, de longe, a melhor conquista internacional de seu primeiro mandato foram os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, os primeiros países árabes a reconhecer Israel em um quarto de século. Sudão e Marrocos aderiram depois. Foi o medo de que a Arábia Saudita, lar de muitos dos locais mais sagrados da fé muçulmana, estivesse prestes a aderir a esses acordos que ajudou a levar o Hamas ao horror dos ataques de 7 de outubro de 2023.
Mas, em muitos aspectos, acabar com a carnificina desta guerra —que destruiu a liderança do Hamas, 90% das casas em Gaza e, em última análise, prejudicou a reputação global de Israel— é uma conquista ainda maior.
Antes e depois de bairro em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Imagem de satélite de bairro de Khan Yunis, em 18.mar.25 e 4.jul.25
– Planet Labs PBC
A reação feroz de Israel ao ataque, o pior contra judeus desde o Holocausto, deixou o país numa posição incomum: mais poderoso do que nunca, mas também mais isolado. Nas últimas semanas, a campanha militar em Gaza levou muitos de seus aliados mais próximos a pedir a criação de um Estado palestino, mesmo sem terem um plano concreto sobre onde ele ficaria localizado ou quem o governaria. E em todo o mundo, a destruição de Gaza por Tel Aviv, sua disposição de matar dezenas de palestinos para eliminar um único líder do Hamas e as discussões sobre expulsar os palestinos de seu refúgio causaram enormes danos morais e políticos ao Estado israelense. Pode levar uma geração ou mais para reparar isso.
Também pode mudar a política da região.
Com a guerra ainda em curso e 48 reféns restantes em cativeiro, 28 dos quais se acredita estarem mortos, Netanyahu está em alta política. Ele disse a seus apoiadores e críticos que cumpriu sua promessa de eliminar a liderança do Hamas. Ele usou pagers e walkie-talkies explosivos para matar e mutilar líderes seniores do Hezbollah, ajudou a enfraquecer o regime de Assad na Síria até que ele entrasse em colapso e matou uma geração de cientistas nucleares e líderes militares iranianos em uma guerra de 12 dias que terminou com um ataque dos EUA às principais instalações nucleares do Irã.
Mas Netanyahu também exagerou, e Trump e seus assessores viram a chance de controlá-lo. A extensão da destruição em Gaza repugnou a comunidade mundial. Sua decisão de bombardear os negociadores do Hamas no Qatar chocou a Casa Branca. Trump, que nunca pede desculpas, forçou Netanyahu a fazer exatamente isso com a liderança do Qatar, chegando a divulgar fotos da ligação. E, ao longo do caminho, ele manobrou Netanyahu para concordar com um plano de 20 pontos, que o líder israelense apostou que o Hamas rejeitaria.
Para surpresa de muitos, o grupo terrorista aceitou as etapas iniciais, pois tinha pouca escolha. A extensão dos danos, humanos e físicos, minou o apoio cada vez menor ao Hamas entre os moradores sobreviventes de Gaza. Os Estados árabes e a Turquia insistiram tardiamente que a facção desistisse.
Trump agora declarará que este capítulo está encerrado e, com sorte, ele pode estar certo.
Se o plano de paz avançar, Trump poderá ter uma reivindicação tão legítima ao Nobel quanto os quatro presidentes americanos que ganharam o prêmio no passado, embora com menos alarde e lobby —Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson, Barack Obama e Jimmy Carter, este agraciado décadas depois de deixar a Casa Branca.
Mas não está claro se o conflito está realmente chegando ao fim. As declarações de Trump e Netanyahu referiram-se apenas ao primeiro passo, a troca de reféns por prisioneiros e a retirada das tropas israelenses para uma linha ainda a ser definida.
Chegar à próxima etapa, em que o Hamas teria que entregar suas armas e, o que é ainda mais difícil, sua reivindicação de governar Gaza, pode ser ainda mais difícil do que trazer os reféns vivos e mortos de volta para casa. A facção pode muito bem recusar-se a dar os próximos passos, assim como Netanyahu, que argumenta que o trabalho não estará concluído até que todos os combatentes do Hamas envolvidos nos ataques de 7 de Outubro sejam capturados. Qualquer uma dessas situações poderia desfazer o frágil cessar-fogo.