Após fechar uma rota temporária para civis fugirem dos bombardeios na Cidade de Gaza, o Exército de Israel afirmou, nesta sexta-feira (19), que usará “força sem precedentes” na localidade, pedindo para os moradores aproveitarem “a oportunidade” e irem para o sul.
“Neste momento, a estrada Salah al-Din está fechada para viagens ao sul”, afirmou o porta-voz militar israelense Avichay Adraee na rede social X sobre a principal rota norte-sul do território, que havia sido aberta por 48 horas a partir do meio-dia da quarta (17). “O Exército continuará a operar com força sem precedentes contra o Hamas.”
Israel lançou uma grande ofensiva terrestre e aérea contra a Cidade de Gaza na terça-feira (17) com o objetivo declarado de eliminar o Hamas, cujo ataque terrorista em solo israelense em 7 de outubro de 2023 matou mais de 1.200 pessoas e desencadeou a guerra. Desde então, pelo menos 65.141 palestinos morreram na Faixa de Gaza, de acordo com números do Ministério da Saúde do território controlado pela facção, considerados confiáveis pela ONU.
De acordo com o porta-voz, agora só é possível fugir pela estrada Rashid. “Para sua própria segurança, aproveite a oportunidade e junte-se às centenas de milhares de moradores da cidade que se mudaram para o sul, para a zona humanitária”, continuou.
O fechamento ocorre no momento em que civis lotam as estradas com carros, burros e até mesmo a pé para tentar fugir dos ataques naquela que era a principal cidade do território antes da guerra e agora está, em grande parte, em ruínas.
Mesmo com a destruição, cerca de 1 milhão de palestinos haviam retornado para suas casas durante o cessar-fogo de janeiro. Forçá-los a sair significa confinar a maior parte da população de Gaza, que já era um dos territórios mais densamente povoados do mundo antes do conflito, em acampamentos superlotados no sul, onde a fome se intensifica.
As condições fazem muitos dos civis desistirem da jornada. “Nossa vida se tornou uma sucessão de explosões e perigos”, disse à agência de notícias AFP Sami Baroud, 35, que mora no oeste da Cidade de Gaza. “Perdemos tudo: nossas vidas, nosso futuro, nossa sensação de segurança. Como posso evacuar se não tenho nem condições de pagar o transporte?”
O alerta ocorre três dias antes da Assembleia-Geral das Nações Unidas em Nova York, onde várias potências ocidentais, incluindo aliados como França e Reino Unido, reconhecerão o Estado Palestino diante da devastação que a guerra provocou no território.
Na França, o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, pediu que prefeituras hasteassem a bandeira palestina na segunda (22), e as prefeituras de Nantes e Saint-Denis, governadas por socialistas, já anunciaram a intenção de exibir a bandeira palestina em suas fachadas.
O pedido, no entanto, foi criticado pela comunidade judaica que celebra seu Ano Novo no mesmo dia. O Ministério do Interior também se opôs à manifestação. Em um telegrama, consultado nesta sexta pela AFP, o Ministério do Interior, liderado pelo conservador Bruno Retailleau, pede que os prefeitos se oponham à iniciativa.
“O princípio de neutralidade do serviço público proíbe, pois constitui um posicionamento em um conflito internacional e uma interferência contrária à lei”, afirma a nota. O telegrama também destaca “os riscos de importar” um conflito internacional em curso e eventuais “distúrbios à ordem pública” na França, que tem a maior comunidade judaica da Europa.
A ofensiva apoiada pelos EUA na Cidade de Gaza coincidiu com a divulgação de um relatório de uma comissão independente nomeada pela ONU que acusa Tel Aviv de cometer “genocídio” no território palestino e responsabiliza o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e outros funcionários israelenses de alto escalão. O Estado judeu rejeita a acusação e chama o relatório de “tendencioso e mentiroso”.
