O número de estudantes estrangeiros que chegaram aos Estados Unidos em agosto caiu 19% neste ano em comparação com o ano passado —a maior queda registrada excluindo o período da pandemia. Em relação aos brasileiros, o declínio foi de 6,8%.
O movimento ocorre no momento em que o governo de Donald Trump atrasa os procedimentos para estrangeiros entrarem no país, institui proibições ou restrições de viagem para 19 países, ameaça deportar estudantes vindos de fora dos EUA por discursos pró-Palestina e intensifica a análise de solicitantes de vistos estudantis.
Os dados incluem tanto novos alunos quanto aqueles que já estavam nos EUA e retornavam ao país. Isso significa que não se sabe o tamanho da queda considerando apenas novos estudantes.
Nos anos anteriores, porém, as chegadas de agosto vinham sendo um indicador razoavelmente bom das matrículas do segundo semestre, quando começa o ano letivo nos EUA —a maioria dos estudantes internacionais chega em agosto, já que não pode entrar no país mais de 30 dias antes do início de seus programas.
Os EUA recebem o maior número de estudantes estrangeiros de qualquer país. São cerca de 1,3 milhão de pessoas, que fazem bacharelado, mestrado e doutorado, de acordo com dados recentes do governo.
Mais de 70% são da Ásia. Neste ano, o número de estudantes asiáticos chegando aos EUA em agosto caiu 24% —os números mais baixos para o mês registrados fora da pandemia.
Quase 1 em cada 3 estudantes internacionais nos EUA vem da Índia. Eem agosto deste ano, o contingente desse fluxo caiu mais de 44%, após atrasos prolongados no processamento de vistos.
Estudantes da Europa representam cerca de 7% do total, e o número de chegadas em agosto caiu 16%. Houve mais alunos chegando do Reino Unido e pequenos declínios na quantidade vinda de Espanha e Alemanha. A maior queda de estudantes europeus foi da Rússia, que tem tido relações tensas com os EUA.
Razões para o declínio
Por que menos estudantes internacionais chegaram aos EUA em agosto deste ano? Aqui estão algumas possibilidades:
- Atrasos nos Vistos
Muitos estudantes tiveram dificuldade em obter vistos neste ano. No fim de maio, o Departamento de Estado suspendeu as entrevistas para a modalidade estudantil por três semanas durante o período de pico em que esses vistos são emitidos.Quando as entrevistas foram retomadas, havia tempo de espera de meses para garantir um horário em alguns consulados. Como resultado, alguns estudantes podem não ter conseguido obter um visto a tempo para o início do ano letivo.
Ainda não está claro quantos vistos estudantis foram emitidos durante o verão no Hemisfério Norte —o Departamento de Estado relata esses dados com atraso. Mas os dados de maio mostram uma queda de 22% nas emissões de vistos F-1 (o tipo mais comum de visto estudantil) em comparação com maio do ano anterior.
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Proibições de Viagem
Em junho, o Departamento de Estado também instituiu uma proibição de viagem ou restrições de visto para cidadãos de 19 países, o que limitou ainda mais o fluxo de estudantes.
O Irã é um dos países com essas restrições. Os dados de viagem mostram que o número de estudantes iranianos que chegaram caiu 86% em agosto —o maior declínio para qualquer país nos dados deste ano.
Dados do Sistema de Informação de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio mostraram que o pico do segundo semestre nas matrículas de estudantes internacionais de países com proibição de viagem foi quase 70% menor este ano.
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Aumento da Incerteza
Com a abordagem do governo Trump em relação à imigração, alguns estudantes estrangeiros podem ver os EUA como uma opção menos acolhedora ou confiável para estudar.
Uma pesquisa do Instituto de Educação Internacional constatou que atrasos nos vistos, dificuldades para entrar nos EUA e a possibilidade de revogação de vistos estão entre as principais razões pelas quais as faculdades esperam um declínio em suas matrículas de estudantes internacionais.
“O problema não é que os estudantes perderam a confiança na qualidade da educação americana. Eles perderam a confiança no compromisso de nossa administração com os estudantes internacionais”, disse Fanta Aw, presidente-executiva da Nafsa (Associação de Educadores Internacionais), uma organização sem fins lucrativos dedicada à educação internacional.
Quais serão as consequências?
Especialistas dizem que uma queda sustentada no número de estudantes internacionais poderia diminuir a competitividade americana em ciência e engenharia.
Quase três quartos dos estrangeiros que recebem doutorado em ciência e engenharia permanecem e trabalham nos EUA após a formatura, e mais de 40% de todos os cientistas e engenheiros com nível de doutorado nasceram fora do país. A taxa recentemente instituída de US$ 100 mil para vistos de trabalho H-1B provavelmente reduzirá ainda mais o fluxo de trabalhadores das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.