O Hamas afirmou nesta terça-feira (7), data em que os ataques terroristas do grupo no sul de Israel completam dois anos, que quer chegar a um acordo para encerrar a guerra na Faixa de Gaza com base no plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas que ainda tem um conjunto de exigências.
A declaração sinaliza que as negociações indiretas da facção com Tel Aviv, que ocorrem em Sharm el-Sheikh, no Egito, desde segunda (6), podem ser difíceis e demoradas, embora sejam também as mais promissoras desde que o conflito começou.
“A delegação que participa das negociações atuais no Egito está trabalhando para superar todos os obstáculos para chegar a um acordo que atenda às aspirações do nosso povo em Gaza”, disse Fawzi Barhoum, membro de alto escalão do Hamas, em uma declaração televisionada.
Segundo ele, a facção quer um cessar-fogo permanente e abrangente, uma retirada completa das forças israelenses de Gaza e o início imediato de um processo de reconstrução abrangente do território, devastado por milhares de bombardeios de Tel Aviv, sob a supervisão de um “órgão tecnocrático nacional” palestino.
O Estado judeu nunca aceitou tais condições e exige, por sua vez, que o Hamas entregue as armas —algo que o grupo também rejeita. Trata-se do mesmo impasse que impediu diversas outras tréguas na guerra que devastou Gaza e matou dezenas de milhares de palestinos.
Reforçando os obstáculos que devem dificultar as negociações, um grupo de facções palestinas, incluindo o Hamas, emitiu uma declaração prometendo “postura de resistência por todos os meios” e afirmando que “ninguém tem o direito de ceder as armas do povo palestino”.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não comentou imediatamente sobre o status das conversas em Sharm el-Sheikh, mas pessoas envolvidas nas conversas pedem cautela em relação a expectativas de um acordo rápido.
Autoridades americanas sugeriram que querem inicialmente focar as negociações em uma interrupção dos combates e na logística de como os reféns israelenses e os prisioneiros políticos palestinos seriam libertados. O Qatar, por sua vez, que é um dos mediadores, disse que muitos detalhes ainda precisavam ser resolvidos.
Na ausência de um cessar-fogo, Israel continua bombardeando os poucos prédios que restam na Faixa de Gaza —de acordo com a UNRWA, quase 80% das construções do território foram destruídas ou danificadas e praticamente todos os moradores foram deslocados, muitos mais de uma vez.
Os bombardeios israelenses mataram ainda mais de 66 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. O número, impossível de verificar devido a restrições de Tel Aviv à imprensa no território, é considerado confiável pela ONU.
“Já são dois anos que vivemos com medo, horror, deslocamento e destruição”, diz o palestino Mohammed Dib, 49.
Moradores de Khan Younis, no sul de Gaza, e da Cidade de Gaza, no norte, relataram novos ataques de tanques, aviões e barcos israelenses nas primeiras horas desta terça. Já o Exército israelense disse que combatentes em Gaza dispararam foguetes contra Israel, acionando sirenes de ataque aéreo no kibutz israelense Netiv Haasara.