A destruição da Faixa de Gaza, segundo as Nações Unidas, atinge ao menos 78% de todas as construções do território, 82% das terras que antes abrigavam plantações e 97% de todas as árvores que ali existiam. A depender do sistema de contagem, os números podem ser ainda maiores.
O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu dificulta e bloqueia a entrada de jornalistas e observadores internacionais em Gaza desde o início da guerra. Também por isso, agências de monitoramento e órgãos da ONU utilizam imagens de satélites para analisar e mensurar a extensão das operações israelenses e suas consequências.
O PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) concluiu, em seu relatório publicado no fim de setembro, que “a recuperação dos danos ambientais em Gaza deve levar décadas”, especialmente em decorrência dos altos índices de destruição de recursos naturais e estruturas civis.
Antes e depois de bairro em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Imagem de satélite de bairro de Khan Yunis, em 18.mar.25 e 4.jul.25
– Planet Labs PBC
Na prática, segundo a agência, os ataques aos edifícios dos territórios —responsáveis pela destruição de 78% das cerca de 250 mil construções— podem já ter gerado algo em torno de 61 milhões de toneladas de entulho. Destes, 15% podem estar contaminados com substâncias tóxicas, como amianto, resíduos industriais e metais pesados.
Além de estruturas civis, cemitérios foram destruídos durante a guerra. Apenas nos quatro primeiros meses de guerra, pelo menos 16 deles foram atacados pelas forças israelenses. É também o caso do Cemitério de Guerra de Gaza, que foi atacado ainda em 2024.
Para além das estruturas pré-guerra, a análise por satélite também acompanha o deslocamento forçado da população palestina, que, via de regra, recebe ordens de retirada à medida que o Exército de Israel avança no território de Gaza.
Parte desse movimento foi forçado nos últimos meses a partir do anúncio de distribuição de comida e itens de ajuda pela FHG (Fundação Humanitária de Gaza). Na cidade de Khan Yunis, em um de seus poucos pontos de atuação —que inicialmente eram dois e, segundo Israel, tornaram-se três e, em seguida, quatro—, é possível observar uma fila com milhares de pessoas formada em apenas um dia.
Fila em ponto de distribuição de ajuda da FHG, em Khan Yunis
Imagens de fila formada em um dia em um dos pontos da Fundação Humanitária de Gaza, em 25.jul.25 e 26.jul.25
– Planet Labs PBC
Somente nos primeiros meses de operação da FHG —apontada pela ONU como insuficiente—, de maio a agosto deste ano, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, ao menos 1.800 civis morreram enquanto aguardavam nas filas ou mesmo antes, ao caminharem até o local.
Também ao sul, a área de Tel al-Sultan, onde fica um campo de refugiados, na cidade de Rafah, foi atacada em 2024 e novamente de 2025. Bairros inteiros foram destruídos, segundo as Nações Unidas. Naquela região, a FHG também abriu um centro de distribuição de ajuda que posteriormente foi fechado, devido aos casos de civis mortos na fila.
Região de Tel al-Sultan também foi atacada por Israel
Imagens mostram bairro em Tel al-Sultan, na cidade de Rafah, após meses de operações israelenses, em 18.mar.25 e 13.jul.25
– Planet Labs PBC