Radicado em Israel desde 1999, o judeu gaúcho Gabriel Schorr, 45, viveu períodos conturbados no país do Oriente Médio: serviu no Exército na Segunda Intifada, viu conflitos com o Hamas e o Hezbollah na década de 2010 e o aumento da tensão com o Irã nos últimos anos. Mas foi só depois dos atentados de 7 de outubro de 2023 que ele diz ter sentido medo de morar no país.
“As pessoas acham estranho quando digo isso. ‘Ah, mas em Israel tem atentado.’ Sim, mas no Brasil pode ter um assalto, e não significa que você pensa nisso 24 horas por dia. Em outubro, novembro e dezembro, eu, minha esposa e meus filhos tivemos muito medo”, conta.
Schorr, que hoje é guia de turismo e opera uma empresa do setor em Israel, disse que estava vivendo seu melhor momento profissional antes do início da guerra. Ele descreve o período como de “altíssima temporada”, com sua empresa expandindo operações para Jordânia e Egito —este último tendo “melhorado a relação de paz com Israel”.
O que se sentia e vivia, em sua percepção, era um “Oriente Médio de paz”, onde o turista podia colher os frutos dessa sensação ao ver que “tudo era possível” no atravessar de fronteiras.
Esse cenário de otimismo desmoronou abruptamente. A vida de Schorr, antes no auge, “mudou para negativo, muito mais pesado”. A súbita interrupção na chegada de turistas, segundo ele, resultou em uma profunda insegurança econômica jamais vivida. Foi nesse momento que, ao entender seu investimento no turismo como uma “aposta na paz, na estabilidade”, o colapso o levou a questionar se havia feito “escolhas erradas ou irresponsáveis” para sua vida e carreira.
Como é verdade para quase todo israelense, o ataque do 7 de Outubro, para além disso, também o atingiu pessoalmente. Ele é amigo de Amos Horn, irmão de Eital e Yair, argentinos-israelenses que estavam no kibbutz Nir Oz no dia do atentado e foram sequestrados pelo Hamas. Mesmo após a libertação de Yair, a vida de Amos, segundo Schorr, “mudou por completo, ele não consegue sorrir”.
O medo que Schorr diz ter sentido nos meses que se seguiram aos atentados do Hamas foi algo que ele afirma não ter vivido em mais de duas décadas no país. Naquele período, sua preocupação era de que o ataque do grupo terrorista fosse o prelúdio “do começo de um apocalipse”. Até em viagens, conta Schorr, a ansiedade seguiu. “Eu cheguei a viajar a São Paulo em novembro, entrei no hotel e botei a mala na porta do quarto”, conta ele, como se estivesse se protegendo de um possível incidente. “Eu realmente tinha medo, e eu não estava acostumado a isso. Esse é um dos motivos pelo qual eu, como muitos israelenses, tirei porte de arma.”
A partir da morte de lideranças do Hezbollah, no Líbano, e também em decorrência dos ataques na guerra com o Irã, Schorr diz ter ficado “muito claro que dentro de Israel estão todos na mesma panela”, ao se referir a árabes e judeus do país. Para ele, a partir de então, “o medo mudou” e “muita coisa relaxou”.
Embora entenda que, neste momento, o “sangue está muito quente” para decisões importantes, Schorr insiste que o caminho da coexistência é o único viável e já uma realidade no território, em cidades como Belém, Jericó e Ramallah. “Quanto melhor a relação entre Israel e a liderança palestina, mais fácil vai ser para eles e para nós seguir adiante”, afirma ao reforçar que é “muito a favor do Estado palestino”. “Tomara que isso aconteça”, diz Schorr.
Com esperança pela resolução da guerra, ele afirma que a atual situação para a solução de dois Estados “não está mais longe do que há 20 anos” e, por isso, “o fato de ter outros países árabes aliados é muito positivo“. Para ele, este é o momento “para caminhar junto em busca dessa realidade que tanto Israel como a população palestina merece, precisa e aspira”, já que “a guerra esta fazendo mal a todos, e uma Gaza sem Hamas vai ser uma nova realidade que todo mundo espera, precisa e quer”.
A maioria da população, tanto israelense quanto palestina, deseja uma vida desvinculada do terrorismo e da ideologia, defende Schorr. Essa aspiração, por sua vez, pode ser a força motriz para a reconstrução, que depende de uma nova liderança tecnocrata de Gaza. “Eu acho que tem muito mais gente aspirando à convivência, aspirando deixar o fundamentalismo e ter uma vida normal, uma vida de trabalho”.