Ken Jacobs, cineasta americano que ficou conhecido por seus filmes experimentais, morreu nesta segunda-feira (6) aos 92 anos. Ele nasceu em 1933, numa família com poucas condições financeiras, e perdeu a mãe quando aos sete anos. Como o diretor descreveu em registros e entrevistas, sua infância foi “desastrosa mas típica”, o que o levou a “cultivar, refinar e monumentalizar raiva e desgosto social”.
Diante de uma criação turbulenta, Jacobs encontrou na arte um refúgio, especialmente depois de visitar o Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, quando tinha 16 anos. Foi ali que ele se interessou por diversos realizadores cinematográficos e passou a escrever os seus próprios roteiros. Junto dessa paixão, o cineasta também passou a estudar pintura e artes no geral.
Jacobs estudou no High School of Industrial Arts e se tornou frequentador assíduo das exibições realizadas pelo MoMA. Foi em 1956, depois de conhecer o cineasta Jack Smith, que ele passou a investir em seus próprios filmes. Seu título de estreia foi “Orchard Street”, curta-metragem documental que segue a vida de pessoas comuns por uma movimentada rua comercial de Nova York.
Os filmes de Jacobs, que contemplaram ainda médias e longas-metragens, ficaram conhecidos não só pela observação de aspectos cotidianos dos Estados Unidos —caso de obras como “A Filmagem de Inverno”, filmada ao longo de duas décadas—, como também pela exploração de sensações próprias —como acontece em “Blonde Cobra“, que acompanha o Smith em uma sufocante rotina em meio à sociedade dos anos 1950— e pelo teste de outras possibilidades de projeção da película.
Nesse sentido, muitos projetos do cineasta envolvem a manipulação de imagens extraídas de outros filmes, caso de títulos clássicos realizados pelos irmãos Lumière e outros nomes da primeira fase do cinema. Jacobs ainda experimentou a tecnologia 3D, conforme acontece no seu “Os Convidados”, que congela personagens no tempo e transforma um fragmento de 30 segundos dos Lumiére numa imersão de mais de uma hora.
Os filmes de Jacobs foram exibidos no Brasil ao longo dos anos em sessões especiais e festivais — recentemente, caso de uma mostra sobre os irmãos Lumière no CCBB, com sessões casando os documentários originais dos irmãos franceses e os curtas experimentais que o diretor fazia a partir deles.
Em 2017, ele foi tema de uma mostra realizada no Rio de Janeiro pelo Caixa Cultural, e que destacou a maior realização de sua carreira, com mais de sete horas de duração, o filme “Spangled to Death”, que mistura assuntos como o racismo, o militarismo e os conflitos armados nos Estados Unidos.
Parte dos filmes e textos deixados por Jacobs está disponível no site kenjacobsgallery.com e em acervos online dedicados ao cinema experimental como o lightcone.org. O cineasta também deixa um legado composto por obras de arte, desenhos e vídeos de performances artísticas.
Ele deixa a esposa, a atriz Flo, e os filhos Azazel e Nisi, que seguiram os passos do pai e hoje também atuam como cineastas.