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Bolsonaros introduziram elementos tóxicos na política – 04/10/2025 – Elio Gaspari

De sua trincheira nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro ameaçou: “Sem anistia, não haverá eleição de 2026.” Falso, sem a anistia desejada pelos Bolsonaros, haverá eleição em 2026 e, se porventura eles vierem a ser responsabilizados por suas palavras, dirão que tudo não passou de simples bravatas.

Os Bolsonaros introduziram dois elementos tóxicos na política brasileira.

Um é uma sorte de conflito intrafamiliar sem propósitos. Ganha um fim de semana em Budapeste quem souber por que Michelle não gosta de Jair Renan e é detestada por Carluxo. Flávio diz que Eduardo é maluco e Eduardo acha que Flávio é manso demais. Para quê? Para nada.

O segundo ingrediente é a bravataria. O patriarca Jair combateu vacinas, disse que o medo da Covid era coisa de maricas, ameaçou com Apocalipses e, em diversas ocasiões, referiu-se ao “meu exército“. Sempre para nada.

Ainda no século passado, quando ele era apenas um mau capitão, Jair pulava de bravata em bravata, como a dos explosivos da adutora do Guandu, apresentada num desenho infantill.

As explosões dos Bolsonaros, como os planos da grei, ameaçam com o fim do mundo e, quando são chamados às falas, protegem-se dizendo-se bravateiros. O melhor exemplo disso esteve no Plano Punhal Verde-Amarelo. Enquanto era impresso no escurinho do Planalto pelo general Mário Fernandes, faria e aconteceria. Chamado a explicar-se, o general saiu de fininho, falando em simples reflexão.

Quando Eduardo Bolsonaro diz que, “sem anistia, não haverá eleição de 2026”, ecoa uma frase atribuída ao general Braga Netto, para quem não haveria eleição sem voto impresso. (Ele negou a autoria do comentário.) De qualquer forma, houve eleição sem voto impresso, Bolsonaro e Braga Netto foram derrotados, Lula está no Planalto e a dupla rala nas prisões. Bolsonaro numa cana domiciliar e o general num quartel. O país ganhou uma serenidade institucional que lhe foi negada durante o mandato do ex-capitão.

O estilo bravateiro é tóxico por ser de todo inútil. Serve para nada, além de dar alguns minutos de fama aos interessados. Os Bolsonaros não conseguiram impor uma agenda radical quando estavam no governo. Nada conseguirão agora que estão fora dele, obrigados a temer a caneta do ministro Alexandre de Moraes. É um estilo vencido, como o dos chapéus e das polainas.

O deputado Eduardo Bolsonaro sabe que, se o Congresso aprovar algum tipo de anistia, ela não trará grande alívio ao ex-presidente. Beneficiará primeiro os lambaris do 8 de Janeiro, condenados a penas extravagantes, como a de 14 anos para o bobalhão que sentou-se na cadeira de Alexandre de Moraes. (Ele estava na rua, não do prédio do Supremo Tribunal Federal.)

A tragédia de McNamara

Chegou às livrarias americanas “McNamara at War” (A Guerra de McNamara) dos jornalistas William e Philip Taubman. É a história de Robert McNamara (1916-2009), o professor de Harvard que reergueu a Ford Motor, revolucionou as Forças Armadas americanas e atolou uma carreira brilhante nas selvas do Vietnã.

McNamara foi o secretário da Defesa dos presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson, até que deixou o cargo e, com o tempo, tornou-se um crítico da guerra: “Foi um erro, um grande erro”.

“A Guerra de McNamara” expõe a tragédia pessoal do poderoso secretário da Defesa, um devorador de estatísticas, “computador com pernas”. Por trás do tecnocrata frio e deslumbrado com o poder, havia um puritano angustiado, descrente da vitória militar que propalavam, responsável pela morte de dezenas de milhares de jovens americanos e milhões de vietnamitas, para nada.

A Guerra do Vietnã durou 20 anos e acabou-se em 1975, com a retirada das tropas americanas e o colapso do regime de Saigon. Desde 1965 McNamara e os principais assessores do presidente Lyndon Johnson sabiam que os Estados Unidos não poderiam ganhar aquela guerra, mas fingiam que a vitória militar estava ao alcance dos generais.

Os irmãos Taubman traçaram um completo perfil do tecnocrata imerso nos jogos do poder palaciano. Ele mostrou-se um exímio dançarino e flertava com a viúva do presidente John Kennedy, assassinado em 1963. Quando a guerra tornou-se impopular, McNamara sofreu com a oposição dos filhos e, aos poucos, deslizou para uma discreta oposição.

Foi dele a ideia de compilar informações capazes de explicar como os Estados Unidos meteram-se em semelhante enrascada. Esses documentos tornaram-se conhecidos como os Pentagon Papers. Trocando a crise em miúdos, os governos americanos convenceram-se de que, se o Vietnã do Sul caísse, o sudeste da Ásia cairia junto. Era a teoria do dominó, uma tolice, como se viu.


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