Único nome do União Brasil no governo Lula (PT), Celso Sabino se reuniu nesta sexta-feira (19) com o presidente Lula e, segundo relatos, avisou que irá pedir demissão do Ministério do Turismo na semana que vem.
O encontro, que durou cerca de 1 hora e 30 minutos, ocorreu um dia após a determinação do União Brasil de que seus filiados deixem cargos públicos na gestão petista.
Após o encontro com o presidente da República, Sabino se reuniu com a cúpula do partido e, também de acordo com relatos, ficou acertado que o ministro anunciará ainda nesta sexta que deixará o governo na semana que vem.
Segundo pessoas a par do encontro, Sabino informou a Lula que ainda teria agendas que considera importantes cumprir nos próximos dias como ministro e que, portanto, pretende ficar ainda neste período. No retorno de Lula de Nova York, ele irá apresentar a carta de demissão.
Depois da audiência com o presidente, Sabino consultou a cúpula do União Brasil sobre a possibilidade de estender sua permanência no Governo, a fim de acompanhar a organização da COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que acontecerá em Belém.
Com domicílio eleitoral no Pará, ele alegou que sua atuação em um evento sediado pelo estado poderia impulsionar uma candidatura ao Senado. Os dirigentes insistiram para que anunciasse sua saída ainda nesta semana.
Mesmo se dizendo triste, Sabino disse que acataria a decisão do partido que ajudou a fundar, pedindo apenas para que a entrega de sua carta de demissão ocorra na volta da viagem de Lula.
Na véspera, a Executiva Nacional da sigla aprovou por unanimidade a exigência de que seus filiados antecipassem a saída do governo Lula, que originalmente estava prevista para o final do mês. O União Brasil deu 24 horas para que seus filiados pedissem demissão, ou correriam o risco de serem expulsos.
A orientação do União foi dada após reportagem publicada pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta) e pelo UOL revelarem acusações feitas por um piloto de que o presidente do partido, Antonio Rueda, é dono de aviões operados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Rueda nega a acusação.
Nos bastidores, integrantes do partido dizem ver influência do Palácio do Planalto na reportagem, uma vez que um de seus autores tem também um programa na TV Brasil.
Sabino é deputado federal licenciado do União e indicado ao governo pela bancada do partido na Câmara. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), foi responsável por indicar outros dois ministros de Lula na cota da legenda: Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Frederico Siqueira Filho (Comunicações).
A decisão, no entanto, não afeta Waldez e Frederico, por não serem filiados da sigla.
Diante do anúncio de seu partido, Sabino antecipou seu retorno para Brasília. O então ministro estava em viagem no Pará, seu estado.
Durante as expectativas de desembarque de seu partido, Sabino chegou a procurar integrantes da cúpula do União Brasil, aliados no Congresso e colegas do governo Lula em uma ofensiva para tentar permanecer no cargo.
Integrantes do primeiro escalão do Planalto avaliam que a aliança da gestão com o União Brasil se sustenta, há algum tempo, numa relação com Alcolumbre, e não com a direção da sigla.
A debandada do partido já vinha sendo ameaçada desde agosto, tendo avançado neste mês desde que as cúpulas do União e do PP (com o qual firmaram federação) anunciaram a decisão de deixar os ministérios.
Na ocasião, os dois partidos afirmaram que todos os “detentores de mandatos” devem sair do governo até o dia 30 de setembro, sob pena de serem expulsos. Isso significa que, além de Sabino, deverá deixar o cargo o ministro André Fufuca (Esporte), filiado ao Progressistas.
Lula sempre governou com minoria da esquerda no Congresso e, por isso, firmou aliança com cinco partidos de centro e de direita, entre eles o União Brasil, que tem três ministros em sua cota, mas dois deles apadrinhados por Alcolumbre. Os cinco partidos hoje controlam 11 ministérios. Com o pedido de demissão de Sabino e com a possível saída de Fufuca, o número cairá para 9.
A saída do ministro representará a 13ª troca no ministério de Lula 3 desde a posse do petista, em janeiro de 2023.
Com o começo das ameaças, o presidente chegou a cobrar que os filiados do União e do PP se posicionassem durante atos de oposição organizados por suas siglas, após o anúncio da federação entre os dois.
O evento de anúncio da aliança teve a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como possível adversário de Lula na eleição presidencial no próximo ano.