As forças de Vladimir Putin realizaram o maior ataque contra a infraestrutura de produção de gás da Ucrânia desde que a Rússia invadiu seu vizinho, há três anos, sete meses e dez dias contados nesta sexta-feira (3).
Na mão inversa, mantendo sua campanha assimétrica contra o sistema petrolífero russo, Kiev alvejou uma importante refinaria na distante região de Orenburg, perto da fronteira do Cazaquistão, a 1.400 km de distância do território ucraniano.
A assimetria se dá na superioridade numérica russa. Foram lançados contra as regiões de Poltava (centro) e Kharkiv (norte) 381 drones e 35 mísseis contra centros de distribuição de gás e a principal unidade produtora do país.
“Os danos são críticos”, disse no Facebook Sergii Koretskii, o presidente da estatal energética Naftogaz. Não há relatos de vítimas. A Rússia disse que atacou os centros que alimentam a indústria militar ucraniana.
Distantes da capital, Kiev, as regiões são menos protegidas por defesas aéreas. Com efeito, a Aeronáutica disse ter abatido 303 drones e 17 mísseis, uma taxa inferior à usual quando o alvo é o centro do poder. Houve ataques em 6 das 24 regiões ucranianas, com um blecaute atingindo Tchernihiv (norte).
Além disso, uma avaliação feita por militares ucranianos e passada ao jornal britânico Financial Times mostra que os russos têm melhorado a pontaria com a introdução de mecanismos de guiagem que permitem algumas manobras em mísseis como o aerobalístico hipersônico Kinjal e o balístico Iskander-M.
Segundo o relato, as interceptações dessas armas pelos sistemas americanos Patriot, concentrados em torno de Kiev, caiu de 37% para 6% neste ano.
O foco no sistema energético ucraniano emula o esforço russo de anos anteriores. Para o governo de Volodimir Zelenski, a motivação não é militar, e sim deixar o país passar frio no inverno que se aproxima no Hemisfério Norte, já que o aquecimento depende de gás e eletricidade.
Neste ano, a produção doméstica de gás ucraniana caiu 40% devido à guerra, segundo a Naftogaz. O país aumentou a importação e está tentando encher seus depósitos mirando o inverno, mas os bombardeios dificultam o movimento.
Já o ataque à Rússia envolveu menos recursos, no caso drones de longa distância. Segundo Moscou, foram abatidos 20 ao longo da madrugada —o país nunca divulga quantos foram lançados, como fazem os urcanianos.
Desde agosto, Kiev tem mirado especificamente grandes refinarias russas, provocando como efeito colateral o racionamento de gasolina em algumas regiões do país. Segundo um levantamento feito pela rede britânica BBC, neste ano já foram atingidas com algum grau de sucesso 21 das 38 unidades do tipo na Rússia.
A perda de produção até aqui chega a 5% para gasolina e diesel em algumas ocasiões, a depender do estrago feito. Há imagens em redes sociais mostrando filas em postos em locais distantes do país, como Khabarovsk, no Extremo Oriente.
Os Estados Unidos, que mantêm sob Donald Trump uma política inconstante acerca da guerra, discutem enviar para Kiev mísseis de cruzeiro Tomahawk, armas de precisão com um alcance de 2.500 km, que podem atingir alvos em toda a Rússia europeia —incluindo a capital, Moscou.
Na quinta (2), Putin advertiu que tal fornecimento mudaria o patamar do envolvimento americano na guerra, já que os mísseis precisam de pessoal em terra dos EUA para serem operados, além da calibragem do seus sistemas de guiagem, que misturam GPS, leitura de terreno e modo inercial.