O Hamas precisa de mais tempo para estudar o plano de paz para Gaza apresentado por Donald Trump e apoiado pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou nesta sexta-feira (3) à AFP um dirigente do grupo terrorista.
Na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos deu um ultimato ao Hamas de “três a quatro dias” para aceitar seu plano destinado a pôr fim a quase dois anos de guerra no território palestino.
O Hamas continua em consultas sobre o plano de Trump (…) e informou aos mediadores que as consultas continuam e que é necessário mais tempo, declarou sob anonimato o membro da alta cúpula à AFP.
O plano esboçado pelo presidente americano prevê um cessar-fogo, a libertação dos reféns israelenses em 72 horas, o desarmamento do Hamas e a retirada gradual do Exército de Israel de Gaza.
Apoiado por vários países árabes e ocidentais, o plano apresenta algumas incógnitas, como o cronograma da retirada israelense e a modalidade do desarmamento do Hamas. O chanceler Mauro Vieira afirmou na quarta-feira que o governo brasileiro aplaude a proposta.
Mohamad Nazal, membro do conselho político do Hamas, afirmou nesta sexta-feira em um comunicado que o plano apresenta pontos que preocupam. “Estamos em contato com os mediadores e com as partes árabes e islâmicas, e levamos muito a sério a possibilidade de alcançar um acordo”, declarou. “Em breve anunciaremos nossa posição”.
Em meio à expectativa sobre a resposta do Hamas, Hugh Lovatt, pesquisador do Conselho Europeu de Relações Exteriores, explicou que o Qatar pode pressionar o movimento, mas “em última análise, não se trata apenas de convencer os líderes do Hamas em Doha, mas também os líderes em Gaza e os membros e combatentes do Hamas em Gaza”.
Um palestino próximo à liderança do Hamas disse à AFP na quarta-feira que o grupo quer alterar algumas das cláusulas, como o desarmamento e a expulsão dos líderes do Hamas e das facções. Também quer garantias internacionais de uma retirada completa de Israel da Faixa de Gaza e de que não haverá tentativas de assassinato contra eles dentro ou fora do território.
Segundo essa pessoa com conhecimento da cúpula da facção, há uma ala que apoia a aprovação incondicional, já que a prioridade seria um cessar-fogo sob as garantias de Trump”. Outra divisão quer mais esclarecimentos sobre a questão de se desarmar e sair de Gaza.
Novos ataques na Cidade de Gaza
A Defesa Civil de Gaza, controlada pelo Hamas, relatou intensos bombardeios israelenses e fogo de artilharia sobre a Cidade de Gaza nesta sexta (3).
O Exército israelense lançou em setembro uma grande ofensiva aérea e terrestre para tomar o maior núcleo urbano de Gaza, o que obrigou centenas de milhares de pessoas a fugirem para o sul.
Devido às restrições aos meios de comunicação em Gaza e às dificuldades para acessar muitas áreas, a AFP não pôde verificar de forma independente os relatos fornecidos pela Defesa Civil ou pelo Exército israelense.
O porta-voz da Unicef, James Elder, declarou que não há nenhum lugar seguro para os palestinos que receberam ordens de evacuar a Cidade de Gaza e que as zonas designadas por Israel no sul são “locais de morte”.
Israel declarou na quarta-feira que os palestinos que permanecerem na Cidade serão tratados como terroristas.
A guerra começou com o ataque terrorista sem precedentes do Hamas no sul de Israel, que resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses. A ofensiva de retaliação israelense matou pelo menos 66.225 pessoas, segundo números do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.