12.8 C
Nova Iorque
quinta-feira, outubro 2, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Editorial: Obstáculos à paz em Gaza seguem significativos – 02/10/2025 – Mundo

Após dois anos de terrível sofrimento humano, finalmente há um esforço sério para encerrar a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza e se preparar para o dia seguinte. Ele vem na forma do plano de 20 pontos de Donald Trump, que conta com o apoio dos Estados árabes e, principalmente, de Israel, após o presidente dos EUA se encontrar com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, na segunda-feira (29).

A proposta tem suas falhas e, compreensivelmente, haverá ceticismo quanto ao seu sucesso. O Hamas, que terá que entregar suas armas, ainda não concordou com os termos que, na prática, exigem sua rendição militar. Haverá enormes obstáculos na implementação do plano.

Mas qualquer impulso para encerrar a carnificina em Gaza e libertar os reféns israelenses restantes mantidos pelo Hamas desde o terrível ataque de 7 de outubro de 2023 que desencadeou o conflito deve ser bem-vindo. Por isso, Trump merece crédito.

A tragédia é que o presidente levou muito tempo para alavancar a influência americana e convencer Netanyahu a interromper a ofensiva israelense, que matou mais de 66 mil pessoas, segundo autoridades de saúde palestinas. Ele deu carta branca ao governo de extrema direita de Netanyahu, que violou um cessar-fogo; impôs um cerco total de um mês a Gaza, que levou partes da faixa à fome; e intensificou a ofensiva israelense. Um número crescente de especialistas, incluindo uma comissão da ONU, concluiu que Israel está cometendo genocídio.

O plano de Trump prevê um cessar-fogo imediato, após o qual o Hamas seria obrigado a libertar todos os 48 reféns restantes —20 dos quais se acredita estarem vivos— em até 72 horas. Gaza seria administrada por um comitê palestino tecnocrático, supervisionado por um órgão internacional de supervisão, presidido por Trump e com outras figuras de destaque, incluindo o ex-premiê britânico Tony Blair, em seu conselho. A segurança ficaria a cargo de uma força internacional de estabilização, trabalhando em conjunto com o pessoal palestino.

É importante ressaltar que o plano afirma que não haverá deslocamento forçado de moradores de Gaza nem ocupação israelense do território. Há também uma referência nebulosa a uma solução de dois Estados para a crise prolongada. O plano prevê que, se Gaza for reconstruída e a Autoridade Palestina, o órgão frágil que administra partes limitadas da Cisjordânia ocupada, for reformada, “as condições podem finalmente estar reunidas para um caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino”.

Mas Trump deixou para outros a tarefa de resolver detalhes importantes, incluindo como o Hamas seria desarmado e o cronograma para a retirada das tropas israelenses. O papel limitado dos palestinos e a imagem de Blair —lembrado por muitos no Oriente Médio por seu papel na desastrosa invasão do Iraque liderada pelos EUA em 2003— atuando como governador de Gaza minam a credibilidade da transição.

Já existem preocupações de que Netanyahu manipule o plano para se adequar à sua própria visão. Ele continua resistindo a qualquer movimento em direção a um Estado palestino ou a permitir que a ANP tenha um papel em Gaza. Ele insiste que Israel mantenha o controle geral da segurança da Faixa. Não se deve permitir que ele destrua as chances de paz. Há também o risco de uma insurgência contra tropas israelenses e estrangeiras, mesmo que os líderes do Hamas apoiem o plano. Mas o texto de Trump oferece a chance de trazer algum alívio aos moradores de Gaza e aos reféns.

Agora, é essencial que o presidente dos EUA não reivindique uma vitória rápida e passe a responsabilidade para os outros. Washington precisa permanecer engajado e entender que o plano é apenas um primeiro passo, ainda que incipiente, para enfrentar uma crise que já dura décadas. Os Estados árabes devem pressionar o Hamas a aceitar os termos e fazer o máximo para garantir que Trump não permita que os palestinos sejam marginalizados.

O plano promete que os EUA estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para “chegar a um acordo sobre um horizonte político para uma coexistência pacífica e próspera“. Isso deve significar apoiar o estabelecimento de uma administração palestina confiável e funcional e trabalhar em prol de uma solução de dois Estados que proporcione a segurança, a dignidade e a justiça que ambos os lados merecem. O fracasso só trará mais conflito e sofrimento para palestinos e israelenses.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles