A direita brasileira aprovou um projeto de emenda constitucional, a PEC da Blindagem, que, na prática, proíbe prender políticos.
Não, não foi “o Congresso” que aprovou. Não foram “os políticos”. Foi a direita.
Sim, teve gente do PT que apoiou a PEC da Blindagem, mas 80% dos deputados petistas votaram contra. Somando todos os partidos de esquerda, mais de 70% dos deputados votaram contra a proibição de prender políticos.
Entre os partidos de centro (PSD, MDB, PSDB e Cidadania), a proporção é bem menor: 30% dos centristas votaram contra a PEC da blindagem.
Já entre os partidos de direita (Avante, Novo, PL, PP, PRD, Podemos, Republicanos, Solidariedade e União Brasil), o contraste é óbvio: só 6,7% dos deputados votaram contra a PEC da Blindagem.
Mais de 90% da direita votou a favor de proibir prender político.
Os números são esses. Mostrá-los não é ter viés de esquerda. Fingir que eles não existem é que é ter viés de direita.
Todos, absolutamente todos os deputados do partido de Bolsonaro e de seus principais seguidores, o PL, votaram a favor de proibir prender políticos. Cem por cento. Todo mundo. Nenhum contra.
O bolsonarista Nikolas Ferreira tentou argumentar que a PEC não proíbe prender parlamentares: basta que o Congresso aprove a abertura dos inquéritos criminais contra eles.
Você leu direito. Lembra dos bolsonaristas “contra o sistema”? Eles agora argumentam que os deputados são perfeitamente confiáveis para decidirem se podem ou não ser investigados.
O deputado Kim Kataguiri foi um dos poucos direitistas que votaram contra a PEC da Blindagem. Mais especificamente, 1 dos 4 entre os 57 deputados votantes de seu partido, o União Brasil.
Após a votação, Kataguiri gravou um vídeo aparentando desânimo com o fato de que os políticos que o haviam acompanhado na luta contra a corrupção durante a Lava Jato apoiaram com entusiasmo a PEC da Blindagem.
Deputado, com todo respeito, é hora de reconhecer o óbvio: a direita brasileira só foi contra a corrupção enquanto as acusações eram contra o PT. Os deputados que votaram pelo impeachment que o senhor defendeu votaram pensando no acordão prometido por Jucá e Temer. Embora a Lava Jato tenha acumulado derrotas depois do impeachment, o acordão só foi sacramentado definitivamente com Bolsonaro e Augusto Aras, quando já começava a farra do orçamento secreto. Seus colegas de direita votaram a favor da PEC da Blindagem com medo dessa roubalheira ser investigada.
Foi inclusive notável ver a oposição votar pela blindagem e o governo votar pela ética. Em geral, quem luta contra a corrupção é quem está na oposição: afinal, quem costuma ter acesso a dinheiro para roubar é quem está no governo.
Isso parece ter mudado com o aumento do controle do Congresso Nacional sobre o orçamento nos últimos dez anos. Agora quem está no Congresso já pode desviar dinheiro sem precisar do presidente da República.
A votação da PEC da Blindagem também nos dá uma ideia do que teria sido uma ditadura Bolsonaro. Se é esse o tipo de acordo que os golpistas fizeram na democracia, expostos à crítica da opinião pública, imaginem o quanto teriam roubado em uma ditadura sem imprensa livre ou judiciário independente.
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