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Bastidor de plano de Trump para Gaza teve várias reuniões – 01/10/2025 – Mundo

Há um mês, o enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff, despertou intriga ao dizer que o governo de Donald Trump estava preparando um novo plano “abrangente” para encerrar a guerra de quase dois anos na Faixa de Gaza.

O magnata do setor imobiliário transformado em diplomata revelou que Trump estava prestes a presidir uma “grande reunião” sobre a iniciativa na Casa Branca.

Essa reunião terminou com pouco que sugerisse mudanças no rumo do conflito. Mas a lista de convidados foi reveladora: entre eles estavam Jared Kushner, genro de Trump, e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Nesta segunda-feira (29), as impressões digitais de ambos os homens puderam ser detectadas nas propostas que Trump revelou na Casa Branca, após convencer o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, a finalmente aceitar um plano para encerrar a feroz ofensiva de Israel em Gaza.

O presidente chamou Blair de “bom homem” que participaria de um órgão supervisor internacional —o “Conselho da Paz”— para supervisionar um comitê palestino responsável por administrar a Faixa sob esse acordo.

Ao lado de Trump, Netanyahu agradeceu a Kushner e Witkoff por “seu trabalho incansável para aproximar Israel, os Estados árabes e a região”.

O plano de 20 pontos de Trump, ainda não aceito pelo Hamas, foi o ponto em que culminaram semanas de diplomacia nas quais Witkoff, o principal negociador de Trump para Gaza, junto do secretário de Estado americano, Marco Rubio, além de Kushner, contataram Estados árabes, notadamente Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos, para trocar ideias.

“Foi principalmente Witkoff. Ele lidou com os líderes. Jared cuidou dos detalhes”, disse uma autoridade árabe.

Blair, enquanto isso, estava trabalhando em sua própria visão para uma Gaza pós-guerra por mais de um ano. Suas ideias ganharam pouca tração com a gestão Biden, mas com Trump de volta à Casa Branca, ele voltou a ser um ator importante.

Nas últimas semanas, surgiram vazamentos sobre o plano de Blair, que pedia que Gaza fosse administrada por uma tutela internacional. Essa proposta preocupou autoridades europeias e árabes, que temiam que a ideia marginalizasse os palestinos.

Blair consultou Kushner, que não tem papel oficial no governo Trump, mas mantém contatos comerciais próximos com líderes do Golfo Pérsico ricos em petróleo. Kushner havia anteriormente promovido um plano muito criticado de “paz para prosperidade” aos palestinos quando foi o enviado de Trump para o Oriente Médio durante seu primeiro mandato.

No entanto, havia poucos sinais de que Netanyhu pudesse estar levando qualquer plano de paz a sério ou que viesse a sofrer qualquer pressão de Trump. O líder israelense manteve seu mantra maximalista de “vitória total” contra o Hamas e lançou uma ofensiva terrestre na Cidade de Gaza diante de clamor internacional em meio à terrível situação humanitária no território.

Mas nos bastidores, diplomatas já começavam a falar ironicamente sobre o plano “Kushner-Blair”.

Os Estados árabes já haviam endossado suas próprias propostas para o dia seguinte ao conflito após ficarem chocados com a declaração de Trump, em fevereiro, de que Gaza deveria ser esvaziada de palestinos e desenvolvida como a “Riviera do Oriente Médio”. Mas as propostas deles não lidavam com a espinhosa questão do desarmamento do Hamas e não tinham chance de serem aceitas pelo governo de extrema direita de Netanyahu.

Paralelamente, o Reino Unido trabalhava com a França em um plano que pedia um comitê palestino para administrar Gaza, como os árabes haviam proposto, juntamente com a implantação de uma força de estabilização internacional e o desarmamento do Hamas.

No final, o plano do presidente americano incluiu elementos de várias propostas —o comitê palestino, a força de estabilização e o órgão supervisor internacional, que Trump presidiria.

Nos círculos do governo israelense, a reunião de agosto na Casa Branca —com a participação do tenente mais confiável de Netanyahu, Ron Dermer, ministro de Assuntos Estratégicos— acionou alarmes, pois Trump parecia estar voltando sua atenção para o Oriente Médio após não conseguir avançar no fim da Guerra da Ucrânia.

“A música [de fundo] é o fim da guerra, por causa de Trump e dos americanos. Há pressão sobre Israel para terminá-la em breve”, disse ao Financial Times uma pessoa familiarizada com o governo de Netanyahu na época.

Eles acrescentaram que os funcionários israelenses estavam “extremamente incomodados” com a pressão que Israel poderia enfrentar na reunião da Assembleia-Geral da ONU. Quando os líderes mundiais se reuniram em Nova York na semana passada, a reprovação internacional a Tel Aviv havia se intensificado.

Aliados ocidentais de Israel, incluindo Reino Unido, França, Austrália e Canadá, escolheram a ocasião para reconhecer um Estado palestino —tanto para manter vivo o conceito de uma solução de dois Estados, quanto para repreender Netanyahu.

Especialistas e acadêmicos, incluindo uma comissão da ONU, acusaram Israel de genocídio na Faixa. Os Emirados Árabes Unidos estavam alertando que seu acordo de 2020 para normalizar as relações com o Estado judeu estava sendo ameaçado pelas promessas israelenses de anexar a Cisjordânia. E as nações árabes estavam furiosas com o descarado ataque de mísseis israelense no dia 9 de setembro, no Qatar, visando líderes políticos do Hamas reunidos em Doha para discutir a mais recente proposta de cessar-fogo de Witkoff.

Até Trump parecia irritado com Netanyahu, dizendo que estava “muito infeliz com todos os aspectos” do ataque a um aliado-chave dos EUA, integral para os esforços de mediação entre Israel e Hamas.

“Os planos [para um acordo de paz] estavam em andamento há algum tempo, houve várias variações. Mas o grande impulso foi após o ataque a Doha”, disse o funcionário árabe.

Quando os líderes árabes chegaram a Nova York para a cúpula da ONU, eles estavam se preparando para novos esforços com o presidente americano com o intuito de explicar o que seria aceitável para os palestinos e a região como um todo, disse este funcionário árabe.

Antes de uma reunião com Trump na terça-feira passada (23), eles entregaram à Casa Branca uma lista de seis pontos, que além de encerrar a guerra incluíam: nenhuma ocupação israelense de Gaza ou construção de assentamentos judaicos lá, nenhum deslocamento forçado de habitantes de Gaza, nenhuma anexação da Cisjordânia e nenhuma medida israelense para alterar o status legal dos locais sagrados em Jerusalém.

Líderes árabes e muçulmanos apontaram que qualquer movimento israelense para anexar a Cisjordânia ameaçaria um sucesso significativo da política externa do primeiro mandato de Trump: os Acordos de Abraão, entre Israel e vários Estados árabes.

Trump garantiu a eles que não permitiria a anexação.

Os árabes pressionaram por um papel maior para a Autoridade Palestina, que administra partes limitadas da Cisjordânia, na Gaza pós-guerra. Mas, no geral, eles saíram da reunião de mais de uma hora mais otimistas do que haviam estado há meses. Vários conselheiros seniores e membros do gabinete de Trump estavam presentes.

Um segundo funcionário árabe descreveu a reunião como “extremamente produtiva e decisiva”.

“Essencialmente, ele concordou com as posições que nossos chefes de delegação estavam apresentando —que a guerra tinha que acabar, tinha que haver um cessar-fogo imediato, Gaza precisava ser reconstruída e precisava haver um horizonte político para os palestinos”, disse o funcionário.

“Com esta administração, há muitos pontos positivos e há algumas coisas que exigem diplomacia criativa para resolver, mas os pontos positivos são que há tomada de decisão rápida. E não há essa inclinação ideológica de que ‘é assim ou assado’. É ‘qual é o caminho para um acordo, me diga suas ideias para acabar com a guerra'”, afirmou.

Trump instruiu Witkoff e Rubio a realizarem reuniões de acompanhamento com funcionários árabes para definir detalhes. “Todo o plano foi elaborado em três dias”, disse o primeiro funcionário árabe.

O súbito impulso pareceu surpreender outros aliados dos EUA.

O Reino Unido e a França haviam planejado se reunir com funcionários dos EUA e árabes na quarta-feira para buscar a adesão de Trump a oito princípios sobre o fim da guerra e a Gaza pós-guerra. Mas isso foi superado pelos acontecimentos.

Netanyahu, enquanto isso, nem estava em Nova York. Ele deveria apenas fazer seu discurso na Assembleia-Geral da ONU na sexta-feira e manter conversas com Trump na Casa Branca na segunda-feira. Quando fez seu discurso, ele foi tipicamente desafiador, insistindo que Israel “terminaria o trabalho” contra o Hamas em Gaza e não permitiria a criação de um Estado palestino.

Mas um funcionário israelense disse que havia “alarme” e “caos” dentro da delegação de Israel aos EUA, sugerindo que os líderes árabes haviam convencido Trump a “apoiar um plano que vai contra” a posição israelense.

Netanyahu e Dermer se reuniram com Witkoff e Kushner pelo menos três vezes em seu hotel em Nova York naquele fim de semana em uma tentativa de reduzir as diferenças, disse um segundo funcionário israelense. Witkoff afirmou à emissora Fox News que ele e Kushner estavam “trabalhando o fim de semana inteiro nisso e, portanto, os israelenses estão comprometidos”.

Quando Trump anunciou seu plano nesta segunda-feira, Netanyahu demonstrou pouca emoção. O veterano líder israelense disse que o plano de Trump alcançava “nossos objetivos de guerra”.

Mas ele novamente rejeitou qualquer papel para a Autoridade Palestina e advertiu que, se o Hamas rejeitar o acordo ou miná-lo, “então Israel terminará o trabalho sozinho”.

A pessoa ouvida pela reportagem e familiarizada com o governo israelense disse que Netanyahu concordou com o acordo “porque não tinha escolha”. “Deu para ver isso nele”, disse a pessoa, aludindo ao comportamento contido do premiê.

Mas essa pessoa acrescentou que Netanyahu conseguiu “a maior parte do que queria”, exceto em relação à referência feita no plano a um Estado palestino. Em um aceno às preocupações árabes e palestinas, o plano diz que com a reconstrução de Gaza e a reforma da Autoridade Palestina, “as condições podem finalmente estar em vigor para um caminho credível para a autodeterminação e o caráter de Estado palestinos”.

Trump disse na terça-feira que o Hamas teria de 3 a 4 dias para responder à proposta. “Estamos apenas esperando pelo Hamas, e o Hamas vai fazer isso ou não, e se não for, vai ser um fim muito triste”, disse ele.

Se o Hamas aceitar, os líderes árabes contarão com Trump para garantir que o plano seja totalmente implementado.

“A alavanca principal, sobre Netanyahu, sobre o governo israelense, são os EUA. E acho que parte do nosso esforço também tem sido mantê-los o mais engajados possível”, disse o segundo funcionário árabe. “Se o Hamas ou o governo israelense forem o sabotador, então acho que precisaremos ver a gestão dos EUA responsabilizá-los por isso.”

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