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Um símbolo de status chamado festa infantil – 30/09/2025 – Joanna Moura

Semana passada meu filho completou três anos. A fim de otimizar os esforços celebratórios, me juntei a duas outras mães cujos filhos também fazem aniversário no mesmo período para a organização de uma festa coletiva. Uma economia de dinheiro, trabalho e de fins de semana tomados por eventos infantis.

Claro que cada criança queria um tema diferente. O meu, influenciado pela febre da irmã pela saga Star Wars, queria uma festa de Yoda, seu personagem favorito. A outra criança, uma menina que também completava três anos, queria uma festa de flores, “muitas flores” reforçou ela para a mãe. Já a terceira criança, um pouco mais velha, havia solicitado, para total desespero do comitê organizador, uma decoração inspirada na mitologia grega, assunto que andava estudando na escola.

Longe de nos intimidarmos pelas escolhas que não falavam lé com cré, seguimos com o planejamento, cada uma reaproveitando coisas que já tinham em casa, criando outras com papelão de caixas de entrega e comprando um ou outro cacareco para dar a liga do storytelling inusitado de um encontro entre Yoda e Zeus num jardim florido.

O esforço para fazer com que a festa em casa, com decoração de aula de artes da sexta série e brigadeiros caseiros enrolados em formatos bem heterogêneos pelas crianças, no entanto, já é muito mais do que costumo ver nas festas dos colegas ingleses dos meus filhos. É que festa de criança por aqui por esse Reino Unido obedece a códigos muito diferentes daqueles com os quais me acostumei a ver no Brasil.

Em algum momento da longa história desta ilha, foi realizado um acordo tácito de que festa de criança não precisa atender ao mínimo padrão estético ou gastronômico. Decoração é um termo que passa longe do conceito de festa infantil inglesa e a oferta de comida se limita a umas cenouras e pepinos cortados em formato de bastão, uns sacos de batatas fritas despejados em um recipiente grande para que todas as crianças metam a mão, e um bolo assado em casa ou comprado no supermercado. Tudo isso num cenário que se alterna entre a praça do bairro no verão, ou o salão branco dos centros comunitários no inverno.

Para quem vem do Brasil é tudo muito estranho e, à primeira vista, um tanto triste. Especialmente quando nos deparamos com a mais ou menos recente tendência dos ricos (ou não tão ricos mas que gostam de parecer mais endinheirados do que de fato são) brasileiros de tornar qualquer festa de bebê em fenômeno midiático. É um tal de contratar decoradora, bufê, barman, garçom, animador, fotógrafo, que fica impossível não se chocar com a disparidade de padrões e pensar: coitadas dessas crianças inglesas cujas mães (afinal a culpa é sempre delas) não se dão ao trabalho de fazer uma festinha com o mínimo de apreço estético.

Mas tendo frequentado uma boa quantidade de festas infantis aqui por essas bandas, posso garantir que a frugalidade não parece diminuir a alegria das crianças. Pelo contrário, a falta de compromisso com a estética ou etiqueta parece permitir às crianças mais liberdade para simplesmente se divertirem. Das roupas que não precisam ser “de festa”, à mesa de doces que não precisa esperar o parabéns para ser devorada.

Ao cantar parabéns para os três aniversariantes da semana passada, em frente à mesa com toques de arte naïf, com crianças suadas de tanto pular, pensei que triste mesmo é tentar transformar festa infantil em símbolo de status pro Instagram.


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