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Ficaria preocupado se IA não roubasse informações do jornalismo de qualidade, diz publisher da Folha – 30/09/2025 – Poder

A relação do jornalismo profissional com as plataformas de inteligência artificial (IA) e redes sociais foi um dos temas centrais do debate “O Futuro do Negócio do Jornalismo”, que aconteceu na manhã desta terça (30) no Insper.

O debate reuniu Luiz Frias, publisher da Folha e presidente do Conselho de Administração do Grupo UOL, e Erick Bretas, CEO do jornal O Estado de S. Paulo, sob a mediação de André Lahoz Mendonça de Barros, diretor de Marketing e Conhecimento do Insper.

O evento com Frias e Bretas foi o último de uma rodada de discussões sobre a sustentabilidade financeira do jornalismo profissional em um cenário de transformação dos modelos tradicionais.

A série de debates intitulada “Como financiar o jornalismo de qualidade?” foi organizada pelo Núcleo Celso Pinto de Jornalismo, instituído em 2021 no Insper.

“O jornalismo de qualidade continua pautando o que as pessoas discutem, inclusive nas redes sociais”, afirmou Frias, que logo em seguida abordou a tensão que envolve os veículos noticiosos de prestígio e as plataformas de IA.

“Assim como o Google passou a escanear a internet inteira, a OpenAI não faz diferente. Houve uma mudança de formato, agora a IA traz um texto final. Antes, eram links para você escolher. Mas o mecanismo é o mesmo, com a captura do jornalismo de qualidade sem direito autoral”, diz.

Segundo Frias, a remuneração das plataformas de IA pela “apropriação de conteúdo de terceiros é uma questão na pauta hoje. O próprio Google tem acordo com empresas de mídia no Brasil. Essa disputa vai continuar, inclusive em tribunais”.

Em agosto deste ano, a Folha entrou com uma ação judicial contra a OpenAI requerendo que a dona da plataforma de inteligência artificial ChatGPT pare de coletar e usar, sem autorização e pagamento, o conteúdo do jornal.

“É uma reivindicação legítima que essa apropriação do jornalismo seja remunerada. Não vamos morrer de tédio nos próximos anos, e acho que teremos uma solução comercial, com a remuneração das empresas”, afirmou o publisher da Folha.

“Estaria mais preocupado se os modelos de IA não estivessem, de fato, roubando as informações de Estadão, Folha, Valor, se esses modelos não achassem que esse jornalismo tem relevância. Vejo esse lado positivo”, completou.

Frias reiterou a relevância do jornalismo feito pela Folha, que preza o pluralismo e o apartidarismo. “Tudo isso é fácil de falar, mas difícil de fazer”, disse. “Um diferencial competitivo é fazer um jornalismo crítico e independente das tintas ideológicas do governante de turno.”

Ele também citou que de 70% a 80% dos assinantes têm um perfil “core”, ou seja, são muito fiéis ao jornal, independentemente do presidente do momento em questão. Entre 20% e 30% dos assinantes representam uma “franja”, são aqueles que mantêm uma relação mais oscilante com a Folha, mais suscetíveis a reportagens críticas a líderes políticos dos quais são admiradores.

Muitos dos assinantes dessa fatia chamada por ele de “franja” cancelaram suas assinaturas com o Xandãogate, uma referência de Frias às reportagens da Folha publicadas em 2024 e que mostravam ações do ministro do STF Alexandre de Moraes conduzidas fora do rito do tribunal.

Para Bretas, um veículo jornalístico “perde o jogo por WO” quando não está presente em redes sociais como Instagram e TikTok. “A discussão não é estar ou não estar nesses ambientes. É como estar”.

O CEO do jornal O Estado de S. Paulo ponderou, porém, que essas plataformas têm um efeito de diluição das informações trazidas à tona pelo jornalismo. Deu como exemplo o “caso das joias”, uma reportagem exclusiva publicada pelo jornal em março de 2023.

Segundo ele, muitos consumidores de notícias se lembram da história, mas nem todos sabem qual foi a fonte da informação devido a esse efeito diluidor.

Sobre a relação da IA e as empresas jornalísticas, Bretas é enfático. “O conteúdo jornalístico está sendo roubado pelas plataformas de IA. O que acontece hoje é roubo”, diz ele, lembrando que OpenAI não tem buscado acordo com veículos brasileiros, diferentemente do que ocorre nos EUA.

Tendências

Na abertura do evento, o professor de administração do Insper Guilherme Fowler apresentou um estudo sobre modelos de negócio e a transformação do jornalismo na era digital. Coordenado por ele, o trabalho teve participação dos jornalistas Mathias Felipe de Lima Santos e Stefanie Carlan da Silveira.

A partir da revisão sistemática de 76 artigos acadêmicos, a equipe identificou seis tendências principais que caracterizam a transformação do setor, como a fragmentação do consumo, o uso crescente de dados e inteligência artificial nas Redações, a proliferação de formatos digitais e a reconfiguração das relações entre jornalistas e profissionais de tecnologia.

O estudo do Insper concluiu que “não há um modelo único de sucesso, mas sim uma variedade de trajetórias possíveis”. De acordo com os pesquisadores, “organizações mais resilientes são aquelas que conseguem alinhar sua proposta editorial à estrutura de financiamento, mantendo capacidade de adaptação e disposição para a experimentação”.

Após a apresentação de Fowler, teve início o primeiro debate da manhã no Insper, com o tema “Casos de sucesso no jornalismo digital brasileiro”.

Reuniu Paula Miraglia, cofundadora do Nexo Jornal e da Gama Revista e CEO da Momentum-Journalism & Tech Task Forte, Felipe Seligman, cofundador e coCEO do site Jota, e Pedro Burgos, jornalista especializado em tecnologia e autor de “Conecte-se ao que Importa: Um Manual para a Vida Digital Saudável”. A mediação ficou a cargo de Clara Velasco, gerente de marketing do Insper.

Para Miraglia, é fundamental fomentar o “apetite por inovação” nas empresas jornalísticas. “Nós [a indústria do jornalismo] temos delegado a tarefa de inovar para as plataformas, o que nos deixou muito para trás.”

Segundo ela, as empresas jornalísticas devem participar mais ativamente das discussões sobre a IA no Brasil, indo além dos debates sobre licenciamento.

Segundo Burgos, o “dinheiro das grandes plataformas para o jornalismo está rareando e vai acabar”.

“Manter um contato cada vez mais direto e permanente com os leitores” é cada vez mais relevante, segundo Seligman. “Você precisa conhecer muito bem a sua comunidade.”

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