A crise das bebidas adulteradas em São Paulo abriu espaço para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deixar de lado a pauta política e mergulhar na gestão estadual no dia seguinte à visita que fez a Jair Bolsonaro (PL), em prisão domiciliar, quando reforçou que disputará a reeleição no lugar da Presidência.
Após os relatos de intoxicações e mortes decorrentes do consumo de bebidas misturadas com metanol ganharem mais espaço no noticiário e nas redes sociais, Tarcísio decidiu cancelar o compromisso desta terça-feira (30) —uma visita a uma escola em Cubatão, na Baixada Santista— e mobilizar ao menos quatro secretarias, além de políticos aliados, para tratar do caso.
Pela manhã, em reunião com os secretários Eleuses de Paiva (Saúde) e Guilherme Derrite (Segurança Pública), com o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e com assessores, Tarcísio teve postura incisiva, segundo dois auxiliares ouvidos pela Folha, e cobrou respostas efetivas à população.
Ainda antes do meio-dia, a equipe do governo convocou a imprensa para uma entrevista coletiva no hall principal do Palácio dos Bandeirantes. Tarcísio não tem hábito de chamar jornalistas para coletivas que não estejam relacionadas a eventos maiores, como anúncios de políticas públicas.
Desta vez, o governador coordenou a coletiva, dividiu falas com seus subordinados técnicos e apresentou os dados oficiais da crise. Também determinou o envolvimento de Samuel Kinoshita (Fazenda) e Jorge Lima (Desenvolvimento Econômico) no tema. Este último deve conduzir, no fim da tarde, reunião com entidades que representam os setores de bares, restaurantes e hotéis do estado.
O mergulho no tema ocorre em um momento de indefinição do projeto político de Tarcísio. Até julho, sua candidatura presidencial era dada como certa por dirigentes de partidos de centro-direita, quando Bolsonaro ainda estava solto e não havia sido condenado.
O cenário mudou após o tarifaço de Donald Trump ao país, a interrupção da queda de popularidade do presidente Lula (PT), o envolvimento do governador na pauta da anistia —que terminou aprovada por meio da PEC da Blindagem, gerando protestos em todo o país— e a condenação de Bolsonaro.
Tarcísio vinha tentando se equilibrar entre o apoio ao ex-presidente e cobranças por uma atuação afastada do bolsonarismo radical.
Há duas semanas, no entanto, passou a cravar que tentará a reeleição assim que questionado sobre temas políticos, numa tentativa de encerrar o assunto e se empenhar em eventos públicos de entrega de obras, especialmente de habitação, no interior.
Na segunda-feira (29), ao visitar Bolsonaro e novamente falar em reeleição, Tarcísio manteve a defesa da anistia ao ex-presidente e aos presos pelo 8 de Janeiro. A visita coincidiu com a posse de Edson Fachin na presidência do STF (Supremo Tribunal Federal), que reuniu sete governadores, mas não contou com a presença dele.