
O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (3) que o implante hormonal contraceptivo Implanon será oferecido no SUS (Sistema Único de Saúde) ainda neste ano.
Considerado altamente eficaz por especialistas, o Implanon é comercializado desde 1999 na Europa e chegou ao Brasil em 2001. Funciona a partir da liberação de etonogestrel, um derivado sintético da progestesterona, hormônio feminino essencial para o ciclo menstrual e a gravidez.
Segundo Ilza Maria Urbano Monteiro, presidente da comissão especializada em anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia), o implante hormonal atua de duas formas como anticoncepcional: não deixa a ovulação acontecer e também altera o muco cervical, formando uma espécie de tampão no colo do útero que impede a chegada dos espermatozoides ao ovário.
“Por isso é um método tão eficaz, porque age de duas formas importantes para evitar a gravidez”, diz.
De acordo com a médica, um estudo já mostrou que, de cada 10 mil pacientes que usavam o Implanon, apenas 5 engravidaram. Especialistas apontam que a taxa de falha do medicamento é de 0,05%.
O implante pode ser feito em pessoas que tenham a partir de 14 anos e estejam em período reprodutivo. A principal contraindicação de uso, segundo Ilza Maria Monteiro, é para pacientes que tiveram câncer de mama, que não podem usar métodos contraceptivos hormonais.
Aplicado de forma subdérmica, geralmente próximo ao bíceps, o dispositivo pode ficar papável ao toque. A aplicação é feita com anestesia local, e o implante impede a gravidez por três anos.
“O ideal é que ele não fique profundo, para não ser difícil de retirar. Os profissionais precisam estar bem treinados”, explica Monteiro.
Embora seja usado no Brasil há mais de 20 anos, o método ganhou popularidade com a chegada de um insertor que facilita a aplicação do dispositivo na pele.
Dentre os efeitos indesejados são comuns, especialmente no início do tratamento, sangramentos irregulares e dores de cabeça.
Pacientes que fazem uso de alguns medicamentos que podem ter interação com o contraceptivo hormonal também precisam ficar atentas, apesar de o número de intercorrência ser baixo.
“É um método bastante seguro, mas algumas medicações como anticonvulsivantes podem reduzir sua eficácia, apesar de não ser uma contraindicação”, afirma Ana Paula Beck, médica ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
O anticoncepcional começa a fazer efeito cerca de dez dias após a aplicação, segundo a médica. Após a inserção do dispositivo, o ciclo leva três meses para se adaptar, aproximadamente.
Apesar de eficaz, a Ilza Maria Monteiro diz que não é possível afirmar que o método contraceptivo seja “padrão ouro”. “Não dá para definir isso, porque nenhum método vai ser perfeito para todo mundo. O ideal é ter mais opções para uma maior satisfação”, diz.
O Ministério da Saúde afirma que a expectativa é atender 500 mil mulheres ainda neste ano e distribuir até 1,8 milhão de implantes até 2026.
O processo, contudo, não é tão rápido. Segundo a pasta, a portaria que oficializa a incorporação do contraceptivo no SUS deve ser publicada nos próximos dias e, a partir da data de publicação, as áreas técnicas terão 180 dias para efetivar a oferta —processo que envolve atualização das diretrizes clínicas, aquisição e distribuição do insumo e capacitação e habilitação dos profissionais para a aplicação do implante.
Quem usa o Implanon menstrua?
O Implanon pode provocar outras alterações no corpo, e a chance de parar de menstruar a partir da aplicação do implante é de aproximadamente 40%.
Segundo Ilza Monteiro, cerca de 75% das pessoas que optam pelo método apresentam algum tipo de alteração no ciclo menstrual —diminuição nos dias de ciclo, aumento do intervalos menstrual e não menstruação completa, por exemplo.
“É importante lembrar que não dá para saber qual será o padrão menstrual da paciente após o uso do Implanon. Existe uma estimativa de que 25% das pacientes desenvolvam um padrão menstrual não confortável após o uso”, diz a ginecologista.
Ela conta que algumas pacientes procuram o método para parar de menstruar, mas a aplicação do implante não significa que isso necessariamente vá acontecer. “Isso é uma coisa que não dá para garantir porque não sabemos em qual grupo essa mulher vai estar”, diz.
O medicamento não tem indicação para uso além do anticoncecpcional, como no tratamento de sintomas da menopausa, por exemplo. “Ainda não existe evidência para isso. Agora, com a disponibilização gratuita, talvez tenhamos conhecimento sobre mais efeitos benéficos do Implanon”, diz.
No Brasil, o único implante hormonal contraceptivo com venda permitida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o Implanon, fabricado pela farmacêutica holandesa Organon. Segundo a CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), o preço máximo do medicamento pode chegar a R$ 1.267,35 em farmácias.
Métodos contraceptivos reversíveis e de longa duração
O Implanon é classificado como método contraceptivo reversível de longa duração. Além dele, o SUS oferece o DIU (dispositivo intrauterino) como opção semelhante para evitar gravidez indesejada.
As principais diferenças entre os dois contraceptivos estão na eficácia —o Implanon tem taxa de falha de 0,05%, enquanto o DIU pode variar de 0,2% a 0,8%— e na indicação.
Segundo Beck, o Implanon tende a ser indicado para adolescentes que ainda não iniciaram a vida sexual e pode ser um pouco mais eficaz para pacientes que sofrem de dismenorreia ou fortes cólicas menstruais.
Por outro lado, pacientes de adenominose, por exemplo, tendem a ter uma indicação para uso de DIU. A médica ressalta que é necessário uma avaliação de especialista para escolher a melhor opção.