Sabe aquela história de que, se precisou explicar a piada, é porque ela não teve graça? Era um risco que a exposição “MEME: no Br@sil da Memeficação“, em cartaz até 3 de novembro no Centro Cultural Branco do Brasil de São Paulo, corria. E alto.
Afinal, boa sorte tentando confinar numa lógica museológica chistes que nascem, se espalham e morrem antes que qualquer curador consiga imprimir um catálogo.
Textos na parede pegando o visitante pela mão para explicar a cultura dos gracejos virtuais parecem um recurso deslocado a priori. Poderia ser uma esquete do Porta dos Fundos.
A mostra, contudo, vira-se bem ao expor que o Brasil é uma piada, e essa afirmação é um diagnóstico cultural a ser levado a sério. A dimensão política mais óbvia está lá, na camisa exposta com os dizeres “make Orwell fiction again”, uma referência a George Orwell e sua ficção distópica. A paródia, claro, é sobre o Maga, Make America Great Again, slogan que embala a fábula trumpesca dos Estados Unidos.
A exposição também resgata troças com o ativismo de sofá e a capitalização de causas para render likes. Está lá uma série popular que zomba de artistas que posaram de militantes em suas contas pessoais e foram emparedados pela zueira digital, como Paolla Oliveira ao pintar a unha de branco para, segundo ela, “pedir paz”.
É curioso acompanhar as cambalhotas do destino. Felipe Neto, que começou como um fenômeno do YouTube que flertava com posições conservadoras, daqueles que já mandam um “e o PT, hein?” na roda de bar, viraria uma das vozes mais proeminentes da escuderia progressista na internet e fora dela também.
A exposição prima por lembrar que hashtags servem como bazucas políticas, mas dá espaço também para certa nostalgia. Lembra dos trenzinhos da alegria como a Carreta Furacão, que as redes sociais ajudaram a popularizar, e da nossa própria adolescência virtual.
Havia os virais que hoje soam paleozóicos, como o da nutricionista que cambaleou nas palavras e falou “sanduíche-iche” ao dar uma entrevista ao vivo sobre alimentação saudável.
Aconteceu mais de 20 anos atrás, e olha ela aí, virando até peça de museu. Ah, Ruth Lemos, desculpe o transtorno. “O Brasil é um meme que nunca dorme”, diz, no alvo, o letreiro em neon verde.
A mostra destaca ainda que nem tudo o que acontece na internet fica na internet. Caso do tribunal canadense que decidiu entender o “joinha”, emoji do polegar para cima, como o suficiente para fechar uma negociação contratual. O juiz a cargo da ação mencionou uma “nova realidade da sociedade” ao dar joinha para a parte reclamante.
E “MEME” não nos deixar esquecer que, no fim do dia, tá todo mundo doido demais, e só nos resta rir da gente e com a gente. Para quem se perder no caminho, é só seguir a placa que aponta dois destinos na mesma direção: “Rua da Alegria” e “hospital psiquiátrico”.