Um artista em ascensão no mercado há pelo menos uma década, representado por uma galeria paulistana e com passagens por museus e mostras de peso no circuito, vive na rua. Clovis Aparecido dos Santos, descrito como um andarilho que vaga pelos arredores do Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro, vem sendo alvo de golpes de agentes de mercado, de acordo com a própria instituição carioca onde ele vem desenvolvendo seus trabalhos.
Carolina Rodrigues, diretora artística do Bispo do Rosário, conta que já viu colecionadores negociando peças direto com o artista, oferecendo R$ 50 ou R$ 100 por trabalhos que valem cerca de R$ 4.000. Enquanto isso, Santos depende da ajuda de programas sociais e do próprio museu, onde costuma comer e mantém um ateliê.
O Gaia, como foi batizada a residência artística da instituição carioca, abriga outros artistas em condições mais ou menos semelhantes, mas nenhum com a mesma projeção que Clovis Aparecido dos Santos atingiu. Famoso por trabalhos que lembram carros, veículos deslizando em alta velocidade que ele costuma observar caminhando ao longo da Linha Amarela, no Rio de Janeiro, ele já teve suas obras mostradas no Instituto Tomie Ohtake e no Itaú Cultural, em São Paulo, e no Museu de Arte do Rio.
Os preços tabelados de seus trabalhos hoje variam de R$ 800 a R$ 19,5 mil —e aí há uma grande discrepância. O Museu Bispo do Rosário vende os trabalhos criados por ele em seu ateliê Gaia por até R$ 4.000. A galeria Estação, em São Paulo, que negocia peças do artista, tem obras que começam em R$ 8.000.
Essa casa paulistana comprou, há dez anos, 51 obras de Santos, pagando por todas elas um total de R$ 18,5 mil. Vilma Eid, a marchande dona da Estação, afirma que há muitos exploradores de artistas nesse mercado e uma falta de humanidade. Ela ainda lembra os casos de nomes como Amadeo Luciano Lorenzato e Chico da Silva, dois dos maiores criadores da chamada arte popular, para dizer que essa seara do mercado, apesar do “hype” recente, se tornou insustentável pelos preços praticados hoje. No caso de Santos, ela diz que a demanda por suas obras teve um pico e depois estacionou.
Na visão de Carolina Rodrigues, do Bispo do Rosário, há problemas éticos e políticos na forma como a obra de Clovis Aparecido dos Santos vem sendo explorada pelo mercado. E o artista, ainda segundo ela, vive num estado de completo abandono, sem amparo de amigos ou parentes e vítima da cobiça do mercado, que lucra com suas peças sem que nada mude a sua real situação financeira.
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