O STF (Supremo Tribunal Federal) terá nesta segunda-feira (29) um novo comandante. A posse de Edson Fachin marca o fim da gestão de Luís Roberto Barroso, que se despede após dois anos à frente da presidência da corte, período no qual liderou em meio às tensões políticas.
Em entrevistas ao longo dos últimos dias, ao fazer um levantamento sobre sua gestão, Barroso defendeu o protagonismo do STF, criticou a PEC da Blindagem e classificou o julgamento da trama golpista como encerramento de um “ciclo de atraso”. Ao mesmo tempo, reconheceu que não conseguiu alcançar a pacificação nacional que esperava. Fachin assume, portanto, um tribunal pressionado e com divisões internas.
Os dados dos mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram analisados em tempo real pela Palver mostram como a disputa de narrativas se estrutura em torno do STF.
No recorte institucional, as mensagens são de ataque direto: “impeachment de ministros”, “censura” e “ativismo judicial” são os temas mais recorrentes. Entre as mensagens, com relação aos últimos 30 dias, 62% são contrárias, 14% favoráveis e 24% neutras, refletindo um desgaste de legitimidade.
É importante destacar que, com o recente julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no caso da trama golpista, o STF esteve sob escrutínio constante, principalmente dos grupos mais ligados a Bolsonaro.
Parte das mensagens revela que uma das estratégias utilizadas pelos bolsonaristas nas redes sociais foi a de descredibilizar o STF e os ministros que votaram contra Bolsonaro. Para isso, utilizaram punições sofridas por alguns dos ministros, como o cancelamento de vistos americanos e a aplicação da Lei Magnitsky, para tentar promover a narrativa de que o julgamento se deu de forma injusta.
A alta rejeição da corte também foi observada nas menções a Barroso: críticas diretas, memes, reavivamento de frases antigas e acusações de parcialidade. Aqui, 68% das mensagens são negativas, confirmando que sua imagem tornou-se alvo preferencial dos críticos, sendo o pico das mensagens exatamente no dia em que teve seu visto americano cancelado.
Já com relação a Edson Fachin, o tom é distinto: 41% neutras, 33% contrárias e 26% favoráveis. A narrativa gira em torno da posse, de sua trajetória acadêmica e do rótulo de “perfil técnico”. As críticas, por ora, concentram-se em suposta ligação ideológica com o PT e em temas sensíveis como Lava Jato, marco temporal e homotransfobia.
Enquanto o STF e Barroso já são alvos estabelecidos, Fachin ainda habita uma zona de expectativa. A imagem de perfil mais técnico lhe confere uma importante credibilidade inicial para que possa desenvolver as bases de sua gestão.
Os desafios que terá pela frente, contudo, não são triviais. O primeiro é lidar com a sequência de julgamentos da trama golpista e com a possível discussão sobre anistia aos condenados, que vem sendo debatida no campo político. A decisão sobre a constitucionalidade de tal medida terá um importante impacto para a democracia.
O segundo desafio é a relação com o Legislativo, em que o papel de Fachin é, ao mesmo tempo, evitar a submissão e também o confronto, visando a pacificação.
O terceiro desafio é a comunicação institucional: apesar de enormes avanços recentes, o STF ainda fala para um público restrito, e a construção de credibilidade e confiança passa necessariamente por uma comunicação mais transparente e direta com a população.
Nesse cenário, a presidência de Fachin pode se tornar um importante marco para o Supremo. O êxito de sua gestão dependerá tanto de sua capacidade de conferir coesão interna às decisões da corte quanto de sua habilidade em reconstruir a confiança da sociedade e restabelecer a imagem institucional do STF como guardião da Constituição. A partir desta segunda, essa é a responsabilidade que se inicia junto à sua presidência.
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