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Portugal: expectativa de abrigar rei espanhol Juan Carlos – 27/09/2025 – Mundo

Dada a rivalidade secular, poucas coisas deliciam tanto os portugueses quanto a notícia de nomes da realeza espanhola se mudando para o país luso. Primeiro foi a infanta Sofia, 18, filha mais nova do rei Felipe 6º e segunda na linha de sucessão ao trono. Sofia chegou neste mês a Lisboa para estudar Ciência Política e Relações Internacionais no Forward College, uma universidade de elite na capital portuguesa. O próximo pode ser uma cabeça literalmente coroada: Juan Carlos, avô de Sofia, que reinou na Espanha de 1975 a 2014, quando renunciou. O monarca emérito tem 87 anos e vive nos Emirados Árabes Unidos.

De acordo com a imprensa espanhola especializada em realeza, Juan Carlos cogita se mudar para Estoril, distrito do município de Cascais, vizinho a Lisboa. A notícia causou frenesi numa cidade acostumada a bolsos estufados e títulos de nobreza. “Seria uma volta à casa, pois o rei passou a infância e a adolescência aqui”, diz à Folha Luís Filipe Teixeira, CEO da Marina de Cascais. “Se ele vier mesmo, faremos uma festa ou um jantar especial”, afirma Sebastião Osório de Castro, diretor do Clube Naval da cidade.

Juan Carlos morou em Cascais quando seus pais, María de las Mercedes e Juan de Bourbon —um herdeiro do trono que nunca chegou a usar a coroa—, exilaram-se em Portugal durante a ditadura franquista. “Já há algum tempo surgem rumores sobre a volta do rei emérito para Cascais”, diz a jornalista Mabel Galaz, especialista em família real e presença constante na TV espanhola. “Até hoje ele tem resistido à ideia, na minha opinião, porque Portugal para Juan Carlos lembra exílio, e ele não queria se sentir exilado.”

Segundo Galaz, o rei emérito tem várias conexões com Portugal, para além das memórias juvenis. Sua irmã, a infanta Margarida, possui uma casa de veraneio em Cascais. Um de seus melhores amigos, o líder religioso muçulmano Aga Khan, que morreu em fevereiro deste ano, morava em Lisboa —Juan Carlos foi a Portugal para o enterro. Uma das filhas do rei emérito, Cristina, trabalha numa fundação criada por Aga Khan, que tem uma sede em Genebra e outra em Lisboa. Para completar, ele ficaria perto da neta Sofia, já instalada no bairro lisboeta de Benfica.

Foi nos mares de Cascais que Juan Carlos aprendeu o que se tornaria o seu esporte favorito, o iatismo. Ainda criança, acompanhava o pai nas regatas do Clube Naval, a bordo do barco Saltillo. Adulto, Juan Carlos chegou a competir nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, e a ganhar um título mundial na extinta categoria IMS em 2003. Juan Carlos ainda navega ao leme do “El Bribón XVII”, um barco vintage adaptado às restrições de mobilidade que o rei emérito enfrenta devido à idade.

Em junho, Juan Carlos participou de uma regata em Sanxenxo, cidade praiana espanhola próxima à fronteira norte de Portugal. Depois da competição, tomou um voo privado até Cascais. A notícia reavivou os rumores de sua mudança. De acordo com a imprensa espanhola, amigos cultivados ao longo das últimas décadas o estariam ajudando a procurar um imóvel na região.

Uma delas seria a apresentadora de TV portuguesa Maria Alice Caneças. Procurada pela reportagem, ela não quis se pronunciar. “Conheci Sua Alteza Real, mas não vou falar sobre esse assunto”, disse por WhatsApp. A assessoria de imprensa da Casa Real Espanhola também não respondeu.

“Embora Cascais seja como uma aldeia onde todo mundo se conhece, negócios desse vulto costumam ser mantidos em segredo, para não inflacionar o preço”, afirma o consultor imobiliário Felipe Benchouchan, especialista em casas de alto padrão na região conhecida como “Riviera portuguesa”. De acordo com ele, um imóvel na praiana Villa Marinha custa em média € 10 milhões (R$ 63 milhões).

Juan Carlos chegou a Cascais com 8 anos, em abril de 1946, e fez seus primeiros estudos numa escola de freiras espanholas. Em 1950 foi chamado de volta à Espanha pelo ditador Francisco Franco (1892-1975), que queria treinar o futuro rei em artes militares. Juan Carlos passou a viver entre os dois países, intercalando longos períodos em Cascais. Foi lá que ocorreu, em 1956, a tragédia que marcou sua adolescência: a morte do irmão Alfonsito, com um tiro supostamente disparado pelo futuro rei.

Ao lado do pai, Juan Carlos e Alfonsito –com 18 e 14 anos à época— costumavam caçar na região do Alentejo. Havia muitas armas em casa, manuseadas livremente pelas crianças. Era comum que os irmãos treinassem tiro em latas e garrafas nas praias.

O incidente trágico, ocorrido na Villa Giralda, residência da família, nunca foi objeto de investigação policial exaustiva. Testemunhos posteriores sugerem que o rei tenha matado o irmão sem querer, durante uma brincadeira, com um tiro que ricocheteou num armário.

Por causa de uma lei criada no franquismo, Juan Carlos só pôde ser coroado em 1975, depois da morte do ditador. Ele teve papel decisivo na redemocratização do país, transformado em monarquia parlamentar.

O reinado que começara gloriosamente terminou com escândalos financeiros. Em 2008 Juan Carlos recebeu um depósito de US$ 100 milhões do então rei saudita Abdullah, e surgiram suspeitas de tráfico de influência. O monarca foi praticamente forçado a abdicar em favor do filho, o atual rei Felipe 6º, em 2014.

Juan Carlos vive hoje numa espécie de exílio em Abu Dhabi. “Está lá por questões fiscais e pela infraestrutura de segurança que os príncipes dos Emirados Árabes lhe proporcionam”, diz Mabel Galaz. “É uma vida aborrecida, da qual ele sai de vez em quando para participar de regatas na Espanha e para encontrar Marta Gayá.” A designer e socialite espanhola, de 77 anos, mantém uma longa relação de idas e vindas com Juan Carlos e vive na Suíça.

Os notórios casos extraconjugais do rei emérito minaram seu casamento com a rainha consorte Sofia, 86, e o casal raramente aparece junto em público. Neste ano, Juan Carlos processou outra de suas namoradas famosas, a empresária alemã Corinna Larsen, 60, por calúnia e difamação. Ela o havia levado à Justiça por assédio sexual, mas perdeu o processo.

A principal ocupação de Juan Carlos atualmente é a redação de uma autobiografia. O livro, previsto para sair no fim deste ano, vai se chamar “Reconciliação”. “Meu pai me dizia que os reis não se confessam, seus segredos permanecem na penumbra dos palácios”, escreveu o monarca emérito no material de divulgação da editora. “Senti, no entanto, que estavam roubando a minha história.” Caso se mude mesmo para Cascais, o rei octogenário poderá concluir o livro de sua vida em frente à praia que o viu criança.

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