Na última semana, Donald Trump decidiu cobrar US$ 100 mil por cada petição de visto H-1B, principal porta de entrada de profissionais estrangeiros de alta qualificação nos Estados Unidos. A medida foi anunciada como forma de proteger empregos para trabalhadores americanos, mas tem o efeito contrário: eleva o custo de contratação para empresas inovadoras, reduz o fluxo de talentos e compromete a capacidade dos EUA de sustentar sua liderança tecnológica. É uma política que se apresenta como “America First”, mas funciona como “America Last”.
Economias desenvolvidas se apoiam em capital humano. A presença de imigrantes qualificados é desproporcional nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, com efeito mensurável sobre produtividade e renda. Hanson e Slaughter documentam a centralidade desses profissionais na geração de inovação, da autoria de patentes à fundação de empresas de crescimento acelerado. Giovanni Peri estima que um aumento de 1% no emprego devido à imigração se associa a uma alta de cerca de 0,5% na renda por trabalhador, sinal de complementaridade, não de substituição. O mecanismo é conhecido: equipes mais diversas e qualificadas ampliam a fronteira tecnológica, destravam projetos e atraem investimento.
Há ainda o canal fiscal e de demanda. Profissionais qualificados pagam mais impostos do que recebem em benefícios e, por terem renda elevada, expandem mercados locais de moradia, educação, saúde e cultura. Desencorajá-los reduz a base tributária futura e esvazia ecossistemas urbanos que dependem de serviços sofisticados. O efeito não aparece em um trimestre, mas ao longo dos anos significa menos diversidade produtiva e menor dinamismo.
Os efeitos sobre inovação são a peça central. Startups e laboratórios dependem do H-1B para contratar engenheiros e pesquisadores e muitas não têm caixa para absorver uma tarifa de US$ 100 mil por contratação. Em setores como inteligência artificial, biotecnologia e computação quântica, essa fricção pode inviabilizar projetos ou empurrá-los para jurisdições que tratam talento como ativo estratégico. O incentivo fica torto: pune-se justamente quem geraria emprego e renda dentro do país.
Enquanto os EUA erguem barreiras, competidores abrem caminho. O Canadá criou um visto aberto de três anos para titulares de H-1B e esgotou as dez mil vagas em menos de 48 horas. A Alemanha adotou um sistema por pontos e um cartão de oportunidade que permite a entrada para busca ativa de trabalho, reduzindo atritos de qualificação e reconhecimento. A China anunciou o visto K, voltado a jovens de Stem, como parte de uma estratégia explícita de acelerar áreas tecnológicas de fronteira. Em uma corrida global por talentos, transformar o visto em pedágio é entregar vantagem aos rivais.
A ideia de que elevar barreiras à imigração qualificada protegeria o trabalhador americano ignora como se formam produtividade, inovação e crescimento. Profissionais estrangeiros não disputam um bolo fixo com os nativos, eles aumentam esse bolo. Quando se restringe a entrada de quem pesquisa, empreende e lidera equipes técnicas, abre-se mão de empresas que nasceriam, de projetos que sairiam do papel e de tecnologias que sustentariam empregos e renda dentro dos Estados Unidos.
O debate é sobre o modelo de crescimento que os EUA pretendem sustentar. Chamar de proteção uma medida que reduz a oferta de talento e encarece a inovação é trocar ganho político imediato por perda econômica duradoura. Se a prioridade é competir, a política deve facilitar a entrada de quem expande a fronteira tecnológica e a base fiscal. Fechar a porta para esses profissionais não coloca nenhum país a frente, apenas atrasa seu desenvolvimento.
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