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Merecido tributo a Chico Anysio aponta também seus erros – 25/09/2025 – Maurício Stycer

Não é pequeno o desafio de resumir a carreira e a vida de Chico Anysio (1931-2012) em cinco episódios de 45 minutos. A difícil tarefa coube a um de seus filhos, o comediante Bruno Mazzeo, que optou por fazer um merecido tributo, mas sem abrir mão de apontar erros e atitudes questionáveis na trajetória do humorista genial.

Em primeira pessoa, Mazzeo afirma que a série documental do Globoplay é também a tentativa de um resgate, de juntar as peças de um quebra-cabeça. “Um filho em busca do seu pai”, diz.

Num formato cronológico e convencional, baseado em dezenas de entrevistas e imagens preciosas de arquivo, “Chico Anysio: um Homem à Procura de um Personagem” dá uma boa ideia do tamanho do protagonista da história.

O pai de Chico tinha uma pequena empresa de ônibus em Maranguape, no Ceará. Era conhecido como o “coronel” Oliveira Paula e teria sido a inspiração para o célebre coronel Pantaleão.

Mais surpreendente, revela o cineasta Zelito Viana, irmão de Chico, era o fato de o pai ter outras duas famílias, uma no Maranhão e outra no Piauí. Não espanta que, na mudança para o Rio, no final da década de 1930, tenham vindo a mãe e três irmãos, mas não o pai.

Fernanda Montenegro relembra o início da carreira de Chico na rádio Guanabara, no final dos anos 1940, onde atuou como rádio-ator, locutor e redator. Com especial talento para a imitação, começou a criar tipos e chegou à televisão.

“Eu sou aquele que faz vários. Foi uma opção de carreira”, diz o próprio Chico. Na visão de Boni, entrevistado incontornável em documentários deste tipo, Chico implantou o humor na TV, transferindo para a nova mídia o que se fazia no rádio.

Chico afirma ter criado 209 personagens em cerca de 60 anos de carreira. Muitas criações para as TVs Excelsior, Tupi e Rio se perderam para sempre. Nem todos os tipos vingaram, reconhece, mas o espectador fica sem saber por quê.

Tentando explicar a forma como entende o seu trabalho, Chico observa: “Não tenho obrigação de solucionar [os problemas]. O meu dever é fotografar o drama. A comédia nada mais é do que o drama de ontem”.

A série detalha a resistência de Chico à chegada de uma nova geração de humoristas, responsáveis pelo “TV Pirata”. Também mostra a sua deselegância ao usar a imprensa para criticar decisões da Globo que o contrariaram, até ser suspenso pela direção.

“Adepto incondicional do casamento”, Chico se casou seis vezes e teve oito filhos. Com exceção da última mulher, Malga de Paula, todas têm suas histórias contadas em detalhes. Chico era “um pouco coronel em casa”, afirma Cininha de Paula, sua sobrinha, relembrando o fim do casamento com Alcione Mazzeo após ela posar para a Playboy.

“Casar é certo mesmo quando você se casa errado. Daquele casamento errado dá-se um filho certíssimo”, diz. O quinto casamento, com a ex-ministra Zelia Cardoso de Mello, provocou enorme rejeição e atrapalhou a carreira de Chico.

Generoso, pagou os atores da “Escolinha do Professor Raimundo” com dinheiro do próprio bolso quando a Globo tirou o programa do ar. “Ficou muito magoado com a Globo. Desistiu de viver”, diz Cininha. Gastava muito e morreu sem dinheiro, segundo Mazzeo.

“Diziam que eu era gênio e eu tive a genialidade de não levar isso a sério. Não é agora que me chamam de idiota que eu vou cometer a idiotice de acreditar”, disse, num Roda Viva, em 1993, sobre as críticas que estava recebendo naquela fase da carreira.

“Quantos Chicos eu conheci?”, se pergunta Daniel Filho, num depoimento emocionante. A série de Bruno Mazzeo mostra diferentes Chicos, um mais interessante que o outro, mas deixa no ar a sensação de que ainda há outros para se conhecer.


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