No último sábado estive em Porto Alegre, imersa em duas experiências que, de jeitos diferentes, falam a mesma língua: a do fogo.
De um lado, o Acampamento Farroupilha, que encerrou sua edição de 2025 com mais de 2 milhões de visitantes e mais de 350 toneladas de carne assadas. Do outro, a festa de comemoração dos dez anos do restaurante 20barra9, um espaço que nasceu exatamente dessa conexão com a tradição gaúcha, mas traduzida para uma forma mais contemporânea.
O Acampamento Farroupilha surgiu em 1947, quando um grupo de jovens levou uma centelha da chama crioula até um galpão improvisado no Parque Harmonia, em homenagem aos heróis da Revolução Farroupilha.
Aquele gesto simbólico de acender o fogo e reunir amigos ao redor dele deu origem ao movimento que hoje se transformou em uma das maiores festas populares do estado, celebrando a identidade, a história e o orgulho do povo gaúcho.
Em 2025, mesmo com chuva no dia 20 de setembro —data em que se comemora o Dia do Gaúcho—, o parque registrou o maior público desde o início das festividades. Os piquetes, muitos construídos à mão por famílias e amigos, recriaram os tradicionais rincões, que funcionam como pequenos recantos de fazenda no coração da capital.
Ali se compartilham chimarrão, assados, músicas e histórias. Também se vendem almoços, cujo lucro é revertido para garantir a presença desses grupos ano após ano. Essa é, talvez, a parte mais bonita: a tradição sendo sustentada pela própria comunidade que a vive.
Além da carne na brasa, a edição deste ano trouxe novidades que aproximaram ainda mais o público da cultura gaúcha. O projeto Turismo Farroupilha de Galpão levou oficinas gratuitas para dentro do parque, ensinando desde receitas típicas, como a rosca de polvilho com café cambona, até danças, música e indumentária tradicional.
E foi justamente nesse espírito de ligação entre história e encontro que nasceu o 20barra9. O nome surgiu em um churrasco entre amigos, quando os irmãos Pedro César Bergamaschi e Márcio Callage, os fundadores, emocionados ao ouvir o hino do Rio Grande, batizaram o restaurante com a data mais simbólica do calendário gaúcho.
Desde então, o restaurante se consolidou como referência em Porto Alegre, trazendo para a mesa uma forma contemporânea de preparar o churrasco.
Em vez do espeto, a casa adota a parrilla, método que valoriza o contato direto da carne com a brasa, preservando suculência, textura e sabor, mas apresentando cortes e acompanhamentos de um jeito mais atual e criativo.
É o encontro perfeito entre tradição e modernidade: o respeito à chama que mantém viva a cultura gaúcha, mas traduzida para um público que busca novas experiências.
Durante a festa de aniversário de dez anos da casa, Márcio resumiu a filosofia do grupo: “O fogo é a rede social mais antiga do mundo. É um ponto de conexão, um lugar para reunir, celebrar e ser feliz”.
E foi isso que se viu no evento: 2.000 pessoas reunidas em torno do fogo, celebrando, comendo e brindando, como se estivessem em um grande piquete moderno.
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