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Então é (quase) Natal —e o que fizemos no ano?
Em 2025, escritores e leitores se movimentaram. Por exemplo, grandes eventos como a Bienal do Rio e a Feira do Livro do Pacaembu aumentaram em programação, público e receita. Pelo mapa brasileiro, multiplicaram-se feiras e encontros literários, sinalizando um mercado mais vivo.
Mais cedo no ano tivemos uma lista importante de leituras e, nesta reta final, já trazemos outra.
Em maio, para marcar um quarto de século 21, a Folha divulgou a lista dos melhores livros de ficção desse período. Foram 25 destaques, encabeçados por “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves. Quase duas décadas depois da publicação do romance e sem ter lançado outro livro desde então, a autora viveu um ano de sucesso, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras.
Agora, para fechar 2025, a Folha revê as melhores publicações do ano. São 20 títulos de ficção e 20 de não ficção, escolhidos por profissionais que ajudaram a construir o conteúdo que você leu ao longo do ano aqui na Tudo a Ler.
Se, em não ficção, ganharam destaque livros sobre guerras, sessões de terapia e máquinas que parecem produzir pensamento, a ficção revelou uma recorrência de histórias familiares e narrativas autobiográficas. (Confira todas as indicações.)
Em um ano em que mais um homem europeu venceu o Nobel —o húngaro László Krasznahorkai—, o mercado literário brasileiro escolheu mirar em novas vozes: frescas, coloridas e, também, femininas.
Acabou de Chegar
“Mercadores da Dúvida” (trad. Fernando Santos, Quina, R$ 89,90, 512 págs.), de Naomi Oreskes e Erik Conway, investiga como estratégias de desinformação científica usadas para negar os males do tabaco foram reaproveitadas décadas depois no negacionismo climático. O livro foi publicado originalmente em 2010 e agora lançado no Brasil. “Se é desanimador perceber que a cartilha negacionista pouco mudou, ao menos a utilidade da obra persiste pelo mesmo motivo”, como aponta o crítico Reinaldo José Lopes.
“Presente do Acaso” (Autêntica, R$ 94,90, 344 págs., R$ 66,90, ebook) é um ensaio biográfico de João Pombo Barile sobre Silviano Santiago. A obra mapeia a trajetória do escritor mineiro entre a discrição pessoal, a formação acadêmica internacional e a virada para uma ficção provocativa. Como afirma o crítico João Gabriel de Lima, o livro revela que a força política de Silviano não está no panfleto, mas na observação sofisticada de questões comportamentais.
“Pornotopia” (trad. Denise Bottmann, Zahar, R$ 104,90, 352 págs., R$ 44,90, ebook) investiga como a revista Playboy redefiniu a masculinidade. O autor Paul B. Preciado sugere que as imagens de mulheres peladas eram secundárias diante do projeto ideológico proposto pela revista. “A revista discutia abertamente sua ideologia, sugerindo que as mulheres tinham roubado o espaço doméstico e expulsado o homem dele”, escreve o crítico Diogo Bercito.
E mais
Enquanto o Reino Unido tem o detetive Sherlock Holmes e a França tem o ladrão Arsène Lupin, os Estados Unidos têm o sociopata Tom Ripley. O protagonista de cinco romances de Patricia Highsmith é um jovem americano que usa de mentiras e assassinatos para alcançar a ascensão social na Europa. Há 70 anos, Ripley apronta e encanta em livros e também filmes e séries, em que o personagem já foi vivido por Alain Delon, Matt Damon e Andrew Scott.
Publicado originalmente na Argentina em 1976 e relançado agora com nova tradução, o “O Beijo da Mulher-Aranha” segue como um dos romances mais potentes para compreender o regime ditatorial que tomou o país, como afirma a crítica Sylvia Colombo. A obra de Manuel Puig mostra a ditadura como um fenômeno moral, social e afetivo que não acabou no dia em que os militares deixaram o poder.
Os planos da editora Manjuba para 2026 incluem um catálogo de não ficção breve, mas relevante. Pelo selo da Mundaréu sairão obras como “Linhas Tortas” de Juan Cristóbal Peña, “Amanhã Não Ousarão nos Assassinar” de Joseph Andras e “A História de Hirbet Hiz’a” de S. Yizhar. Segundo o Painel das Letras, o destaque é este último, um relato crítico escrito em 1949 por um ex-membro do Exército israelense sobre o tratamento dos palestinos por seu país.
Além dos Livros
As brasileiras Silvana Tavano e Ana Maria Vasconcelos são as vencedoras do prêmio Oceanos 2025, anunciado na última semana. A primeira foi reconhecida na categoria de prosa pelo romance “Ressuscitar Mamutes”, da editora Autêntica Contemporânea, já a segunda levou a melhor na poesia com “Longarinas”, publicado pela 7Letras. Essa foi a primeira vez desde seu novo formato que as duas categorias da premiação foram vencidas por pessoas da mesma nacionalidade.
Na lista dos livros mais vendidos pela Amazon no Brasil em 2025, a série de colorir “Bobbie Goods” ocupa três posições do top 10, incluindo as duas primeiras. Além dos volumes protagonizados por bichinhos fofinhos, aparecem também na lista os títulos “Café com Deus Pai” de Júnior Rostirola, “Verity” de Colleen Hoover e “A Metamorfose” de Franz Kafka. Clarice Lispector é a única autora brasileira na lista.
Morreu o sociólogo Sergio Miceli, aos 80 anos. Professor da USP e referência no estudo da cultura brasileira, destacou-se também como escritor e editor, responsável por obras como “Sonhos da Periferia” e “Lira Mensageira”, ambas publicadas pela Todavia.



