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Rob Reiner foi íntegro e versátil diretor de cinema – 16/12/2025 – Ilustrada

Morreu neste 14 de dezembro, o cineasta americano Rob Reiner, junto de sua esposa, Michelle Singer Reiner. A investigação da polícia aponta para homicídio e o culpado seria o próprio filho do diretor.

Nestes tempos de nostalgia pelos anos 1980, não nos custa lembrar de que o cinéfilo jamais esquece dois longas que Reiner dirigiu naquela década: o suspense juvenil “Conta Comigo”, de 1986, e “Harry e Sally: Feitos um para o Outro”, de 1989, que atualizou a comédia romântica de Ernst Lubitsch para o final do século 20.

De fato, são sempre os filmes mais lembrados quando se fala em Rob Reiner, e os que mais despertaram comoção quando surgiram as primeiras notícias de sua morte. Não são os únicos trunfos de sua longa carreira, que ultrapassa o número de 20 longas.

Filho de outro diretor, o especialista em comédias Carl Reiner, de “Um Espírito Baixou em Mim” e “Cliente Morto Não Paga”, Rob Reiner começou como ator de televisão, ainda nos anos 1970. Na década seguinte, estreou na direção com o falso documentário “Isto É Spinal Tap”, de 1984.

Essa estreia acompanha as confusões de um grupo de rock fictício, que inventava apetrechos visuais para seus shows, inspirados na teatralidade de Alice Cooper —bugigangas que, na hora H, não funcionavam. Havia também um amplificador cujo volume ia até o 11, sem que isso significasse verdadeiro aumento de volume, entre outras pérolas.

O próprio diretor interpreta um documentarista chamado Marty DiBergi, uma homenagem a Martin Scorsese, Brian De Palma e Steven Spielberg. Esse documentarista procura acompanhar os passos desastrados da banda.

Curiosamente, este filme deliciosamente engraçado —ainda mais para quem gosta de rock— motivou uma continuação lançada em 2025, com mesmo elenco e direção. “Isto É Spinal Tap 2” faz com que a carreira de Reiner, que volta a interpretar DiBergi, feche um curioso círculo, iniciado e terminado num truque.

Diante da tragédia que precipitou sua morte, não é difícil ficar emocionado ao vê-lo em cena, de jeans e boné, falando apaixonadamente sobre a falsa banda que começou e —sabemos agora— terminou tudo. No final de sua apresentação inicial, uma piada visual típica do burlesco.

“Isto É Spinal Tap 2” é como um renascimento. Mesmo que seja inferior ao primeiro, é ainda assim irônico e engraçado o bastante, superando qualquer filme que Reiner realizou nos últimos 32 anos.

Há um punhado de cenas divertidas como a que mostra o guitarrista vivido por Christopher Guest como um comerciante de queijos e guitarras, falando que as pessoas aparecem querendo trocar guitarras pelos queijos, e vice-versa. Paul McCartney e Elton John participam afetivamente do filme, além de outras personalidades da música.

O segundo longa de sua carreira passou meio despercebido. Pudera, “Garota Sinal Verde”, de 1985, que em vídeo se transformou em “A Coisa Certa”, era uma tentativa meio pálida de comédia romântica cujo maior trunfo era a revelação de John Cusack, em seu primeiro papel de protagonista, aos 18 anos.

É no terceiro longa que seu nome volta a despertar merecidos elogios. “Conta Comigo”, adaptação de um romance de Stephen King, é uma belíssima reunião de astros mirins, capitaneados pelos que se tornariam mais conhecidos: River Phoenix e Corey Feldman.

Quatro adolescentes ouvem sobre o assassinato de um garoto na zona rural da cidade e decidem procurar o corpo. Uma aventura adolescente que se torna um pungente rito de passagem pela sensibilidade do diretor em juntar drama e suspense. Começa então sua melhor fase, com cinco filmes bem-sucedidos em sequência.

O segundo deles, quarto de sua carreira, foi “A Princesa Prometida”, fábula que alguns críticos consideram seu melhor momento no cinema, com Cary Elwes e Robin Wright numa tocante história de sonho e –por que não?– luta de classes. Uma modernização de “A Princesa e o Plebeu” e tantos outros contos de fada. Apesar do charme evidente, talvez seja o mais frágil desses cinco filmes seguidos.

Surge então um novo marco. “Harry e Sally – Feitos um para o Outro”, o grande filme do diretor, em que Meg Ryan e Billy Crystal se odeiam até perceberem que formam o casal perfeito. De amigos ou de casados? Eis a grande questão cuja resposta precisam descobrir.

Do mesmo modo que “Aconteceu Naquela Noite”, de Frank Capra, lançou as bases para a comédia romântica sonora em 1934, e que “A Loja da Esquina”, de Lubitsch, a aperfeiçoou em 1940, este filme de Reiner atualiza o subgênero para os anos 1990, apresentando uma vertente alternativa, menos intelectualizada, na comparação com outra atualização possível —”Annie Hall”, 1977, de Woody Allen.

Uma mudança de gênero leva o diretor a “Louca Obsessão”, de 1990, outra adaptação de Stephen King em que Kathy Bates é uma fã que aprisiona e tortura seu maior ídolo, o escritor vivido por James Caan. É o filme que mostra o fanatismo como uma doença e o fã como capaz de tudo, até de cometer crimes, para conseguir se aproximar de seu ídolo.

Há quem não considere uma sequência de cinco filmes seguidos, pois “Questão de Honra”, de 1992, mais ainda do que “Louca Obsessão”, está longe de ser uma unanimidade. É, contudo, um bom filme sobre corrupção militar com um batismo de fogo para Tom Cruise, num papel que exigia bem mais dele do que os playboys que ele costumava interpretar até então.

E, de fato, depois de “Questão de Honra” a carreira do diretor enfrenta um terrível declínio, com um ou outro filme razoável no meio de um arrastão de mediocridades.

Se podemos destacar alguns aspectos de “Meu Querido Presidente”, de 1995, ou “Antes de Partir”, de 2007, a regularidade de sua carreira nos últimos 30 anos impressiona negativamente, ainda que ele não tenha dirigido nenhum filme realmente ruim. É pouco para quem havia mostrado tamanho talento em alguns de seus filmes.

Mesmo com o renascimento artístico de “Isto É Spinal Tap 2”, talvez o melhor de Reiner, dos anos 1990 em diante, esteja em sua carreira de ator coadjuvante, com papéis notáveis em “Sintonia de Amor”, dirigido por Nora Ephron em 1993, e “Tiros na Broadway”, 1994, de Woody Allen.

De todo modo, por uma meia dúzia de belos filmes, Rob Reiner merece ser reverenciado. Não como um inventor de formas, mas como um íntegro e versátil diretor de cinema.

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