-3.5 C
Nova Iorque
sexta-feira, dezembro 12, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Por que romance de Juquinha e Lorena abala redes sociais – 11/12/2025 – Ilustrada

Foi no embalo de “Relicário”, regravação de Anavitória da música eternizada na voz de Cássia Eller, que Juquinha e Lorena deram o primeiro beijo na novela “Três Graças“, nesta quarta-feira (10). O gesto foi ovacionado por fãs nas redes sociais, em um frenesi inédito para um casal de mulheres no horário nobre da televisão brasileira.

A expressão “Selinho Loquinha”, junção dos nomes Lorena e Juquinha, ficou entre os assuntos mais comentados do X quando o beijo foi ao ar. Entre as postagens, fãs pedem por mais cenas de afeto físico entre as duas e por beijos mais intensos. O casal interpretado por Alanis Guillen e Gabriela Medvedovsky já é o favorito da novela, de acordo com dados do Google Trends. Os vídeos de cenas do casal publicados na conta oficial da Globo no X acumulam milhares de curtidas.

Um beijo entre duas mulheres na telinha não é novidade, mas a velocidade e a naturalidade com que ele aconteceu ajudam a explicar a empolgação do público. Juquinha e Lorena não passaram vários capítulos dando longos abraços, beijos nas bochechas e fazendo insinuações sobre uma tensão sexual óbvia para, no último capítulo da novela, apenas encostarem os lábios. Esse costuma ser o roteiro clichê para casais homoafetivos.

Enfrentar o preconceito também não é o que dá às duas tempo de tela, como frequentemente acontece com personagens LGBTQIA+ —ainda que a narrativa dê a entender que o namoro será motivo de conflito entre Lorena e seu pai, o empresário Ferette, vivido por Murilo Benício.

Na trama, Juquinha é investigadora e dupla de Paulinho, par romântico da protagonista Gerluce, que quer desmantelar o negócio ilegal de falsificação de remédios de Ferette. Os dois policiais provavelmente vão se envolver na investigação do esquema. Enquanto isso, Lorena passa a desconfiar da morte do tio Rogério, ex-melhor amigo de Ferette, que já sabemos estar vivo.

Apesar de serem personagens laterais, as duas desempenham papéis importantes para o desenvolvimento da história. Juquinha, por exemplo, trouxe à tona a investigação arquivada da morte de Rogério a pedido de Lorena —e é possível, claro, que o acontecimento também seja obra de Ferette. Mas o que vem empolgando mais as fãs são os minutos de tela dedicados ao flerte entre Lorena e Juquinha.

A química entre as duas é tanta que atiçou até espectadores internacionais, depois de cenas da novela chegarem, por meio do X, a comunidades de fãs interessados por conteúdos de mulheres que amam mulheres. Medvedovsky, que dá vida a Juquinha, chegou até a gravar um vídeo em espanhol nas suas redes sociais endereçado às novas seguidoras estrangeiras.

Vale lembrar que o casal apaixonado aparece em horário nobre depois da Globo ser acusada, em 2023, de cortar beijos gays das tramas de “Vai na Fé” e “Terra e Paixão” para fazer média com seu público conservador, especialmente diante do crescimento da população evangélica no país.

Até agora, a emissora parecia apostar em seu braço sob demanda, a Globoplay, para conquistar os telespectadores mais jovens e progressistas. Só neste ano, duas produções exclusivas para streaming trouxeram cenas quentes entre mulheres: a premiada “Guerreiros do Sol“, que recria o cangaço brasileiro e tem um casal formado pelas atrizes Alice Carvalho e Alinne Moraes, e “Vermelho Sangue“, série de vampiros e lobisomens com o triângulo amoroso vivido por Leticia Vieira, Laura Dutra e a própria Alanis Guillen.

A Globo tem surfado na onda do sucesso nas redes. Em seu X, a emissora vem postando vários recortes de cenas de Lorena e Juquinha com legendas celebrativas, como “sou muito loquinha” e “esse casal me deixa sem ar”.

Basta uma rápida retrospectiva para lembrar que a representação do desejo entre mulheres é rara em folhetins brasileiros. Glorinha e Roberta, interpretadas por Isabel Ribeiro e Renata Sorrah, fizeram o possível frente à censura dos anos de ditadura em “O Rebu”, de 1974, e conseguiram abandonar os maridos para viverem juntas. Na “Vale Tudo” original de 1988, Cecília e Laís vivem felizes em uma pousada, até que a primeira morre repentinamente em um acidente de carro.

A maldição do fim trágico é comum para lésbicas na ficção, já provaram Martha Dobie em “Infâmia” e Tara em “Buffy, a Caça Vampiros” ou, até mais recentemente, Villanelle de “Killing Eve“. O mesmo aconteceu com as emblemáticas Leila e Rafaela, vividas por Sílvia Pfeifer e Christiane Torloni, em “Torre de Babel”, de 1998. As duas morreram queimadas em um incêndio depois de reações adversas do público ao romance.

Em 2003, dois anos após Cássia Eller lançar “Relicário”, Rafa e Clara, encarnadas por Paula Picarelli e Alinne Moraes, tiveram um final feliz. As duas enfrentaram o preconceito da mãe de Clara em “Mulheres Apaixonadas” e trocam um selinho no final da trama, ao viverem Romeu e Julieta em uma peça, depois de vários capítulos recheados de abraços e olhares desejosos. Apesar da timidez com que o romance foi retratado, o casal foi um marco para a época. No ano seguinte, o beijo entre Eleonor e Jennifer, de “Senhora do Destino”, foi censurado.

O primeiro beijo lésbico intencional de uma novela das 20h aconteceu em 2014, entre Clara e Marina, interpretadas por Giovanna Antonelli e Tainá Muller, depois do histórico beijo gay entre Felix e Niko, o primeiro em uma telenovela no país. Se parecia que as coisas progrediam, no ano seguinte, o mesmo gesto entre Fernanda Montenegro e Nathália Timberg em “Babilônia” revoltou a parcela mais conservadora do público, que pressionou a Globo a cortar outras cenas de afeto entre as duas, enquanto de outra parte, levantou críticas sobre como o romance entre as personagens não teve tempo suficiente para se desenrolar e atrair a simpatia dos espectadores.

Desde então, o amor minguou, tirando uma ou outra participação coadjuvante. Cecília e Laís do remake de “Vale Tudo”, por exemplo, se beijaram no último capítulo da novela, durante seu casamento. O romance era pouco envolvente, até porque a função das duas na trama parecia se resumir à possibilidade de perder a guarda da filha adotiva e a ter sua maternidade constantemente questionada por outros personagens.

O histórico explica a empolgação nas redes sociais e também a do próprio Aguinaldo Silva, autor de “Três Graças”, que afirmou sempre ter desejado emplacar um casal lésbico com profundidade na televisão.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles