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Brigitte Macron, velha demais para ser mulher – 23/09/2025 – Joanna Moura

Brigitte Macron não é mulher. É o que diz há meses a comentarista americana de extrema-direita Candace Owens. Na série “Becoming Brigitte”, publicada em seu canal do YouTube, Candace dissemina —entre muitas outras teorias da conspiração— a ideia (já comprovadamente falsa) de que a primeira-dama da França seria na verdade um homem chamado Jean Michel Trogneau (nome do irmão de Brigitte). Com mais de 5 milhões de inscritos em seu canal, Owens espalha calúnias com a convicção de quem sabe que, na internet, mais do que em qualquer outro lugar, uma mentira dita muitas vezes ganha status de verdade.

Em resposta aos ataques, Brigitte e Emmanuel Macron levaram o caso à Justiça. Num recente desenvolvimento do caso, o advogado do casal confirmou que Brigitte incluirá no processo provas fotográficas e científicas de que é de fato mulher. Candace, por outro lado, replica o mantra de toda a direita bitolada americana, invocando a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos e diz que deve ter liberdade para especular sobre Brigitte à vontade.

A tática da propagação de mentiras deslavadas sobre gente do campo político oposto não é de hoje. Trump foi um dos grandes disseminadores da teoria infundada de que Obama não seria de fato americano. Foi ele também um dos principais propagadores do QAnon, teoria da conspiração que alegava a existência de uma rede de pedofilia envolvendo membros do partido democrata e artistas de Hollywood.

No Brasil, Pablo Marçal acusou Tabata Amaral de ter abandonado o pai em seu leito de morte e Guilherme Boulos de ter sido internado por uso de drogas. Tudo baseado em provas falsas e vozes da sua cabeça.

Mas o caso de Brigitte Macron revela muito mais do que a batalha suja entre campos políticos dissonantes. A arma escolhida para atacar Brigitte é uma com a qual mulheres mais velhas são açoitadas diariamente e não é nova. Questionar o gênero de nascimento da primeira-dama é o puro suco do etarismo.

Não é a primeira vez que Brigitte sofre ataques relacionados à sua idade. Em 2019, após a escalada de tensões entre os governos brasileiro e francês, um apoiador de Bolsonaro postou no Facebook uma imagem que comparava Brigitte a Michelle Bolsonaro. Na legenda, lia-se “É inveja, presidente”, ao que Bolsonaro respondeu: “Não humilha, cara kkk”. Não contente com a crise diplomática instaurada, Paulo Guedes ainda azedou o caldo um pouco mais, afirmando que “[Brigitte] é feia mesmo”.

Owens leva o ataque a outro nível. Não porque haveria qualquer problema se Macron tivesse transicionado, mas porque demonstra a incredulidade da sociedade diante de um casal cuja mulher é consideravelmente mais velha do que seu parceiro. Gente como Candace acredita que um homem como Macron jamais se interessaria por uma mulher como Brigitte. A não ser, claro, que ele fosse gay e a mulher fosse na verdade um homem.

O mesmo foi dito sobre Gianecchini e Marília Gabriela, mesmo depois de o ator reiteradamente afirmar que os dois tiveram um casamento feliz e de verdade.

Tenho certeza de que nem Candace Owens acredita na própria mentira. Seu objetivo é audiência, e falar mal de mulheres mais velhas gera engajamento.

É por isso que a mentira de Owens não é apenas grotesca: ela expõe um desconforto coletivo com mulheres que desafiam a narrativa cronológica feminina. No imaginário de muita gente, uma mulher com rugas só pode ser mãe, avó, coadjuvante —nunca a parceira de um homem mais jovem. O escândalo, afinal, não é a suposta fraude, mas o fato de Brigitte continuar a existir sem abaixar a cabeça.


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