O presidente Lula dedicou 36% de seu discurso a passar recados ao americano Donald Trump, em citações que incluíram críticas às sanções impostas a autoridades brasileiras por causa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alfinetadas sobre as ameaças de guerra feitas pelo republicano contra Venezuela.
Ao todo, o discurso do petista teve 1.798 palavras. Desse total, ao menos 651 fizeram referência direta a políticas e ações do republicano.
Lula defendeu o multilateralismo, em meio a uma ofensiva do americano ao que ele chama de globalismo —conceito adotado também por apoiadores de Bolsonaro.
Também citou sanções de Trump a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e a outros integrantes do Poder Judiciário, um dia após o governo americano revogar o visto de entrada do advogado-geral da União, Jorge Messias.
“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”, disse. “A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável.”
Em outra parte, mandou recado às big techs, que pressionam contra regulação no Brasil, e afirmou que as plataformas digitais têm sido usadas para “semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação.”
“Regular não é restringir a liberdade de expressão”, disse o petista. “É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.”
Lula também fez referência à ameaça do governo americano de intervir militarmente na Venezuela e defendeu que a via do diálogo não seja fechada. Considerou ainda inadmissível Cuba ser listada como país que patrocina o terrorismo.
Além disso, ao mencionar o conflito entre Hamas e Israel e criticar a morte de palestinos, afirmou que o “massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo” —Trump é um dos principais apoiadores do governo israelense na empreitada.
O petista aludiu à decisão americana de equiparar criminalidade e terrorismo na América Latina e Caribe e disse que isso era preocupante. “A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas.”
Por fim, o petista fez uma defesa da atuação da ONU, criticada pelo americano. “A ONU tem hoje quase quatro vezes mais membros do que os 51 que estiveram na sua fundação”, disse. “Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância.”
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